A Maldição da Lua Vol: 2 Entre a Lua e o Sol

Capítulo 103

Meus olhos abriram devagar, estavam pesados.
Meu corpo parecia bem, mas uma sensação horrível invadia meu coração, como se esse estivesse sendo dilacerado.
Lágrimas escorriam por meu rosto caindo sobre o tecido do vestido, enquanto eu encarava o chão tentando compreende o que estava acontecendo.
Me levantei cambaleante sem entender o que havia acontecido, e zonza fui aparada quando mãos me envolveram, eu olhei em direção ao seu rosto e sorri fraco.
- Você está bem?
Eu não conseguia lembrar como havia  ido parar ali. Encarei o céu noturno coberto por estrela e iluminado pela lua me deixaram ainda mais desconcertada.
- O que aconteceu? Indaguei olhando para Dastan confusa.
- Você conseguiu adormecer novamente seu lado sombrio...
- Eu o quê? Eu? Como?
- Eu achei um feitiço e você o realizou, deve ter sido tão forte que apagou suas memórias de como aconteceu e quando aconteceu.
Meu estômago embrulhou e eu segurei com toda a minha força para lágrimas não escaparem mais uma vez. Eu sentia como se algo muito importante tivesse sido deixado para trás, havia algo que eu precisava lembrar... Eu estava me sentindo tonta e sufocada e havia a sensação de que um pedaço do meu coração tivesse sido arrancado, como se parte de mim houvesse partido.
Dastan viu meu incomodo e segurou minha mão apoiando meu corpo com o dele.
- Têm algo errado?
- Não... Só estou feliz...
Ele beijou minhas mãos e eu sorri.
- Você se sente bem?
- Sim. Menti enquanto revisava minhas memórias, refazendo meus passos mentalmente, tentando alcançar a memória que havia sido perdida.
- Quer voltar para a festa?
- Sim.
Enquanto todos se divertiam eu olhava para os lados como se algo pudesse me lembrar de algo que eu tivesse esquecido.
Eu realmente estava feliz, mas não conseguia sentir aquilo naquele exato momento. Eu estava casada com o único que eu já havia amado e apesar da sensação de que algo estava faltando não me parecia realmente existir nada que faltasse, nada visível, nada que pudesse ser palpável.
Dastan me puxou para si, suas mãos na minha cintura fazendo com que eu tentasse esquecer aquele estranha sensação.
Nós dançamos a noite inteira juntos e eu tentei dizer a mim mesma que tudo não passará do meu lado ruim e das lembranças ruins que tive.
Alguns raios de sol surgiram iluminando de um dourado fraco o belo jardim.
Dastan e eu estávamos levemente embriagados, mas mesmo assim ele ainda se mantinha em pé mais facilmente do que eu.
- Vamos para dentro, meus pés já estão me matando. Disse enquanto me apoiava em seu tronco.
Em um movimento rápido e ele me pegou em seus braços fortes e me carregou para dentro indo escadas acima enquanto eu sorria igual uma criança.
- Será que nada pode te deixar menos irresistível? Indagou ele me jogando levemente para cima, arrumando meu corpo em seus braços.
- Eu diria quando eu acordo, mas você já me viu tantas vezes assim que acho que nem isso seria capaz de te abalar.
Ele abriu a porta do quarto comigo ainda em seus braços e me colocou lentamente no chão.
Seus olhos encaravam os meus, encaravam meus lábios.
Ele se aproximou vagarosamente, colocou as mãos em minha cintura e me aproximou dele.
Seus lábios tocaram levemente os meus, fazendo meu corpo se arrepiar. Seu beijo, seu toque e seu cheiro eram doces e apaixonantes e eu era perdidamente apaixonada por ele, sempre fora e sempre seria.
Meus pensamentos se misturaram com nossas lembranças enquanto ele me beijava, lembrei do nosso primeiro olhar, toque e beijo. Ele era tudo que eu realmente queria, algo que com todas as minhas forças eu lutaria, como havia feito em todo aquele tempo.
E eu faria tudo novamente, passaria por tudo que passei, sangraria todo o sangue que sangrei, derramaria todas as lágrimas que derramei, faria tudo o possível para tê-lo naquele momento ali, pois no final tudo aquilo havia válido a pena.
Dastan era aquele que tinha para sempre o meu coração, aquele que havia lutado por mim, mas também muitas vezes desistido de mim, mas eu também fiz o mesmo, desisti quando queria estar ao seu lado, desisti por querer protegê-lo, quando queria uma vida diferente para ele, quando desejava que na próxima vida nós nos encontrássemos e fizéssemos tudo diferente, pensando que nessa vida estávamos fadados a não viver esse amor, a sacrificá-lo pelo bem do outro, a abrir mão mesmo querendo com toda a alma estar ali.
Ele tinha os seus defeitos e eu mais do que ninguém também tinha os meus e em nosso caminho tropeçamos inúmeras vezes nessas pedras que eram nosso defeitos. E nós tivemos orgulho, um orgulho que nos fez nos perdemos em todo nosso caminho, mas ele era aquele que eu queria voltar, que eu precisava lutar para poder voltar, que eu não podia desistir para poder voltar.
Enquanto estávamos ali, naquele exato momento, como um só, eu só conseguia pensar em como tudo havia acontecido até aquele momento.

[...]

Meus olhos o admiravam enquanto ele ainda dormia, seu cabelo caindo sobre o rosto, seus lábios macios com expressão calma e serena.
Me levantei de forma silenciosa indo até a praia. A vista lá fora me trazia calma, o som das ondas batendo contra as rochas me faziam me perder em meus pensamentos.
O mundo que eu podia avistar, que eu podia conhecer e estava a minha frente, valia a pena ser vivido, então as dores que eu havia passado de certa forma haviam válido a pena, valia a pena estar viva e desfrutar de tudo aquilo.
Tudo que havia acontecido de certa forma, foi o meu molde para estar ali, para ser que eu sou. E embora muitas vezes eu tenha duvidado de meu propósito, de minha vida e muitas vezes ter desejado partir ou nem mesmo ter existido, eu merecia estar viva, eu merecia amar e ser amada, errar e acertar, perder e ganhar.
Eu nunca havia sido só a filha da Lua, a filha da maldição, eu sempre havia sido a Luna, aquela que lutaria por sua vida, por sua família e pelos que amava, a Luna que derrotaria o mundo todo se fosse necessário, a Luna que se sacrificaria pelo mundo todo se fosse necessário, pois além de ser a Luna forte que ali estava, era justa e nunca desistiria de lutar para salvar aqueles que precisassem dela.
Luna fechou seus olhos e lembrou de todos aqueles que havia perdido e mentalmente agradeceu por tê-la feito mais forte, por tê-la protegido pelo amor, amor que agora em diante ela sentiria não só por obrigação, mas como a agradecimento a aqueles que deram a vida para que ela estivesse ali e pudesse viver, viver sem medo, viver sem maldição, viver de verdade.
Luna abriu ambas as mãos e uma luz alaranjada surgiu de uma delas e uma dourada na outra mão, sol e lua. Luna ia fazer o bem com aqueles poderes que havia causado tanto mau, faria com aqueles poderes um mundo melhor, mais do que poderes ela teria a responsabilidade de mudar aquele mundo em que havia muita dor e maldade, ela iria ser aquela a trazer a luz novamente para o mundo e deixá-lo iluminado.
A maldição da Lua, foi o que fez dela poderosa, mas o coração de Luna fez dela bondosa e embora nem só de bondade seu coração estivesse envolvido, ela tinha tido forças para lutar e vencer seu lado ruim.
Enquanto ela tivesse alguém por quem lutar ela não desistiria, mesmo amaldiçoada, mesmo a beira da morte, ela nunca desistiria, ela era a filha da Lua, era a filha de uma maldição, mas acima de tudo ela era luz, e a luz jamais seria extinguida mesmo na  completa escuridão.
Ela não sabia, e apenas sentia um olhar orgulhoso vindo de seu quarto, um olhar de admiração e amor de seu tão amado Dastan, mas havia um outro olhar escondido, lhe olhando em segredo, com os olhos e o coração envoltos pelo amor e mesmo que ela não soubesse, nunca estaria sozinha, Morte nunca a abandonaria.
Luna abriu suas mãos libertando seu poder, as luzes que se espalharam pelo céu iluminando tudo com uma luz forte e dourada, como ouro.
Ela era Luna aquela que venceria a todos e a qualquer maldição, ela era lua e sol, ela era a luz e nunca se apagaria, nunca!!!

Fim.

Sobre mim, em alguma parte do caminho eu me perdi e foram anos para que eu me encontrasse. Sinto que hoje libertei Luna, libertei para que ela pudesse seguir suas aventuras sozinhas, soltei a sua mão e deixei que fosse, não dizemos adeus uma a outra, pois sempre que eu quiser posso encontrá-la em meus pensamentos e saber o que passa em sua vida.
Eu agradeço por ter criado essa história, agradeço por quem leu, por quem sempre me motivou com comentários, mensagens e também agradeço por quem esperou que eu estivesse pronta e bem suficiente para escrever esse fim e voltar a escrever, algo que sempre foi minha paixão, mas que por conta da minha depressão e ansiedade eu não conseguia fazer.
Obrigada você que chegou até aqui, espero ainda te encantar com as minhas palavras e até uma próxima história!

A Sucessora 

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