Capítulo 99: Quando chega a hora de partir...

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Eu já havia sentido a morte, já havia morrido, sabia como seria, mas dessa vez algo estava diferente, eu vagava sozinha em meio a escuridão, um sentimento estranho, uma sensação estranha me tomava, mas eu continuava a caminhar.
Eu havia conseguido, sim, eu havia conseguido. Cabia agora a eles transformarem o mundo em um lugar bom.
Meu coração doía em lembrar o rosto de Dastan, seus olhos encarando os meus nos meus últimos segundos. Eu torcia com todo o meu coração que ele se um dia se lembrasse de mim, não se culpa-se por ter me acertado, ele só fez o que eu faria, ele só terminou o que eu teria que terminar, ele me libertou e mesmo que eu nunca mais o visse, dessa vez eu me despedi, dessa vez eu mesmo sem dizer, lhe disse adeus e vê-lo essa última vez me fez ter certeza do que eu deveria fazer e espero que ele não me repudie tanto agora.
Aquela imensidão de pensamentos se mesclavam com a imensidão da escuridão e eu sabia que logo aquilo passaria.
Meus olhos encontraram um pequeno ponto de luz e eu fui em sua direção...

Dastan

Eu me lembrei de coisas que aconteceram, imagens de eu sendo dopado em um hospital, sendo preso em um quarto, uma corrente, móveis destruídos, Dalila, um feitiço, uma luz laranja, uma luz marfim, uma dor profunda, uma saudade profunda, um cheiro doce, uma dor forte, uma voz doce, um anjo de cabelos brancos, uma inimiga de cabelos brancos, uma mentirosa de cabelos brancos, aqueles cabelos brancos...
Quando aquela mulher de cabelos brancos tão familiar, mas que eu não me lembrava se aproximou e me disse tudo aquilo eu não soube o que fazer, disseram que ela mentiria, mas eu não vi mentira em seus olhos, aqueles olhos me fizeram sentir um vazio enorme dentro do peito. O que aquela mulher estava fazendo comigo?
Quando ela se aproximou o mestre exerceu seu controle sobre mim novamente e mesmo que eu tenha tentado o contrário eu empunhei a espada, me surpreendi quando sua mão segurou minha espada e ela sussurrou em meu ouvido aquele feitiço.
- Lucis, unde mentes illustrantur a me!
Foi naquele momento que as imagens sugiram em minha mente, no lugar da batalha todas aquelas imagens misturadas em minha mente tomaram meus olhos, meu corpo se enfraqueceu e eu fui em direção ao chão enquanto eu ouvia sua voz.
- Me desculpe por te deixar dessa forma, nunca tenha qualquer dúvida que eu te amei com todo o meu coração, eu teria feito tudo para ter te salvado se soubesse que estava vivo. Sua voz soou tão triste fazendo meu coração acelerar. Por quê? Por quê ela e suas palavras mexiam tanto comigo? Eu não conseguia entender, ela disse que me amava, que teria me salvado se soubesse que estava vivo. Como ela me conhecia? Como ela me amava e eu não me lembrava dela? Como?
Aquelas imagens misturadas em minha cabeça estavam me enlouquecendo, havia alguém que aparecia nelas, alguém que fazia sempre meu coração acelerar, não era Dalila, mas eu não conseguia lembrar do seu rosto.
A voz do mestre ecoou em minha mente fazendo as imagens desaparecerem.
- Mate a Luna. Ordenou ele.
Mas eu resisti, eu hesitei porque eu não mataria ela sem saber o que ela era pra mim, sem saber se ela me conhecia.
- Mate-a agora. Ordenou outra vez e o meu corpo se levantou do chão, eu lutava com toda a minha força para não dar mais um passo, mas ele tinha o controle sobre mim.
- Mate. Ordenou dessa vez a mestre Lua e contra os dois juntos eu não tinha força, antes que ela pudesse perceber minha adaga se aproximou e juntando toda a força que ainda existia em meu corpo eu movi a adaga para seu abdômen e não para o seu coração. Por alguns instantes antes do golpe seus olhos pareciam estar tão tristes, mas ela não fez nada, eu pensava que ela poderia ter feito algo, mas ela não fez.
Meu sangue congelou dentro das veias quando seus olhos se encontraram com os meus mais uma vez, ali eu tive certeza que eu conhecia aquela mulher, eu sabia que eu tinha tido algo muito forte com ela.
Por mais que todas aquelas vozes estivessem gritando eu só conseguia olhar para ela, vasculhando cada parte da minha mente, tentando lembrar daqueles olhos.
Seus olhos foram até a adaga, sangue jorrava de seu ferimento, ela gemeu de dor quando a adaga saiu de seu corpo.
Eu não conseguia deixar de olhar seus olhos, não conseguia deixar de imaginar o que havíamos sido um para o outro.
Ela tirou um anel de seu dedo e puxou minha mão colocando-o no centro de minha mão, eu não entendi o motivo de ela ter me dado aquilo, mas me pareceu familiar. Aquela pedra vermelha, eu já tinha visto antes.
- Se... lembrar dos... motivos... que... fizeram você...m... me dar isso... nada foi... em vão. Sua voz falhava, ela estava fraca, havia perdido muito sangue, eu sentia sua dor enquanto ela falava.
Ela caiu de joelhos, o mestre ordenou que eu a matasse de uma vez por todas, mas eu não podia fazer aquilo.
Eu tentei me manter em controle, mas era quase impossível.
- Através do meu sangue... uma maldição se acaba e outra se inicia e só através do meu sangue ela tem um fim, a partir de hoje vocês estão até o último dia de sua vidas presos nessa maldição. Eu espero que vocês apodreçam!
Com as palavras dela, Sol se enfraqueceu e não pode mais me controlar, o corpo dos mestres se iluminou e a luz foi tão forte que eu não pude olhar, quando essa luz foi diminuindo não havia mais nada lá.
Eu fui em direção a ela quando sangue saiu de sua boca, ela sorria.
Seu corpo foi ao chão e eu corri em sua direção, segurei sua cabeça. Ela olhava para cima ainda com um sorriso nos lábios. Seus olhos piscavam lentamente, ela parecia estar olhando pra mim.
Aqueles que lutavam contra Dalila se aproximaram, mas eu não liguei para isso, ela estava morrendo e de alguma forma eu parecia estar morrendo junto, eu pressionei seu ferimento tentando estancar o sangue.
Seus olhos estavam ainda mais pesados.
Ela sorriu e seu olhos se fecharam, uma lágrima escapou de seus olhos.
- Não. Gritei
Minha cabeça pareceu girar eu olhei para ela e imagens vieram em minha cabeça e eu me lembrei do que precisava lembrar, do que ela queria que eu lembrasse, lembrei da primeira vez que a vi, da primeira vez que os nossos olhos se encontraram, da primeira vez que nossos lábios se encontraram, lembrei do meu coração acelerado com sua presença, eu lembrei da nossa vida juntos, lembrei daquele anel...
Todos estavam em volta dela, eu empurrei quem estava em meu caminho.
- Não, eu lembrei do que você queria, eu sei de tudo agora, não faça isso, volte para eu te dizer tudo isso. Lágrimas escorreram por meu rosto e eu segurei seu corpo frio junto ao meu peito lembrando do calor de seu corpo, lembrando de quando vida emanava de sua pele.

A Maldição da Lua Vol: 2 Entre a Lua e o SolWhere stories live. Discover now