Capítulo 93

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Eu ainda repassava cada detalhe daquele sonho mentalmente, eu ainda não tinha entendido como aquilo tinha sido tão real, meu coração ainda batia acelerado quando eu lembrava daquilo, eu não sabia o quê pensar.
- Morte. Chamei por seu nome no interior da cabana.
Silencioso ele tocou meu ombro me fazendo pular.
- O que houve? Seu coração está acelerado.
- Quando você saiu daqui meu bloqueio tinha voltado?
Morte me encarou curioso.
- Sim, não tão forte como antes, mas forte o suficiente para deixar todos menos eu entrar aqui, mas não entendo o porquê da sua pergunta.
- Não é nada relevante, pode ir.
Então não era mesmo ninguém, era minha cabeça me pregando as mesmas peças, mas dessa vez um pouco mais sério.
Morte me olhou apreensivo, ele sabia que eu estava escondendo algo.
- Você está com cara de assustada, aconteceu alguma coisa?
- Não... quer dizer... sim.
- Pode me dizer.
- Eu não sei que horas eu acabei acordando, você não estava mais aqui e eu estava com dor de cabeça, senti uma sensação estranha, senti que alguém estava me olhando, vi uma sombra e achei que era você, mas...
- Mas?
- Era ele, ele estava lá parado rindo de um jeito que me deixou arrepiada, a aparência era a dele, mas seu jeito fazia com que parecesse com outra pessoa, ele não estava sozinho, mas eu não pude me aproximar, meu corpo estava paralisado eu não conseguia me mover, não conseguia alcança-lo e quando consegui me mover e fui na direção dele, não havia mais nada, estou tão confusa, eu estou com medo. Admiti.
Corri para seus braços como uma criança, suas mãos acariciando meus cabelos.
- Não tem o que temer, vou estar com você, nada nem ninguém vai te machucar, eu prometo.
Ele beijou levemente minha cabeça.
- Eu sinto tanta falta dele, falta do cheiro dele, do toque, de tudo, mas pelo menos quando estou com você meu coração se acalma um pouco.
Ele não disse nada, apenas me envolveu ainda mais em seus braços, beijou minha cabeça e ficou naquela mesma posição até que sentiu que eu estava melhor.
Quando ele partiu um pouco mais tarde, meus olhos olhavam para todo lado como se eu tentasse encontrar algum detalhe, algum vestígio que aquilo tinha sido real e que eu não estava maluca.
Eu não consegui esquecer o que tinha visto, me pegava a todo instante relembrando tudo aquilo.
Fui até o lado de fora da casa, minha cabeça tinha que se concentrar em treinar, minhas mãos frias como o vento novamente faziam os mesmos gestos, meus lábios machucados pelo frio pronunciavam mais uma vez cada feitiço, fogo, luz, água, terra, ar...
Cada parte do meu corpo já tinha como reflexo cada um dos feitiços, eu não precisava de muito esforço agora, precisava de concentração para fazer o que tinha que fazer e tirar aquela imagem da minha cabeça.

Eu estava ofegante, não sabia mais a quanto tempo eu estava lá fora, nem queria saber, já começava a anoitecer, minhas mãos estavam dormentes por causa do frio, mas eu ainda precisava entrar no lago.
Caminhei até o lago por um trilha de pedras lisas, tirei minhas botas e o casaco longo que usava e os coloquei em cima dos galhos de uma árvore congelada, meus pés descalços tocaram a superfície congelada do lago, fui até o centro e sentei na borda da marca de um buraco no gelo, ele já estava quase que totalmente congelado de novo, bati com as mãos e o gelo se quebrou revelado novamente o buraco, meu corpo foi para dentro da água, a água fria em contato com meu corpo me fez me concentrar em me manter ali, meus pés me impedindo de me afundar. Repousei minha cabeça na superfície congelada, fechei meu olhos e escutei o som do vento, era apenas aquele som, o mundo ao meu redor estava calado.
Me permiti repousar com a cabeça encostada na borda congelada do lago, fechei novamente meus olhos tendo como última imagem o céu de tom cinza escuro.

[...]

- Luna.
Meu coração apertou no peito, eu imediatamente olhei ao redor tentando encontrar o dono daquela voz. Me levantei apressadamente, mais uma vez olhei ao redor não encontrando ninguém.
- Luna. Ouvi mais uma vez e percebi que era na direção da floresta. Meus dedos dormentes apanharam a toalha e eu me enrolei nela já correndo em direção a aquela voz, aquela voz.
Corri descalço e com as roupas encharcadas, meus olhos indo de um lado ao outro, meu fôlego se esvaindo a cada novo passo, eu precisava encontra-lo. Continuei correndo sobre a neve, meus pés já queimavam, mas eu tinha que continuar.
O escudo que me protegia já tinha sido deixa o para trás a muito tempo, a cada segundo mais frio, a cada segundo mais escuros, a cada segundo mais distante.
Não era real, mais uma vez algo deu errado, meus poderes estavam mais fortes do que já tinham sido antes, só podia ser isso, parei no mesmo segundo quando tomei conta disso.
- Você desiste rápido. Um voz ecoou do meio das árvores, meus olhos foram em sua direção, mas a escuridão deixava quase impossível ver quem estava lá, mas era ele, eu sabia, eu sentia isso.
Caminhei em direção ao som, mas o som de sua voz mudou de direção.
- Luna.
Fui rapidamente em direção ao som e novamente ele mudou de direção.
- Aqui.
- Pare, isso não é real.
- Ou aqui. Gritava ele
- Não brinque comigo, eu quero acabar com isso.
- Ou quem sabe aqui. A voz dele ecoou atrás de minha cabeça e por um segundo eu senti como se fosse real.
Sua voz começou a mudar rapidamente de lugar, estava de um lado e no momento seguinte em outro, meu corpo todo tremia, me senti incapaz de continuar com aquilo. Sua voz começou a ficar cada vez mais alta, eu já não via mais nada, a escuridão da noite tomava tudo ao redor.
Um riso alto se espalhou pela floresta e eu senti um arrepio na espinha, senti como se eu estivesse caindo e só percebi que realmente eu estava quando minha cabeça se chocou contra algo sólido, minha cabeça queimou e as vozes se misturam me deixando quase louca.
Coloquei minhas mãos no ouvido e senti algo quente escorrer por minhas mãos e se espalhar pelos meus braços.
- Eu esperava mais de você. Ouvi uma voz alta dizendo tais palavras e após isso o silêncio preencheu toda a floresta.
Passos leves sobre a neve, quase totalmente silenciosos se aproximando de mim.
- Luna. Senti seus braços me levantando do chão.
- Você está congelando, vou te levar pra casa.
Meus olhos em meio a escuridão estranharam a luz da lareira, me encolhi ficando deitada perto dela.
Ele se aproximou em silêncio cobrindo meu corpo com uma coberta.
Seus olhos atentos notaram algo em mim e ele se aproximou me pegando em seus braços.
- Olha a sua cabeça. Ele colocou a mão em um corte que não parava de derramar sangue, resmunguei e ele me encarou.
- Você estava fazendo o quê? Você não percebeu que está totalmente encharcada e ficou no frio, fazendo sabe se lá o que? Olha esse corte, se eu não chego a tempo você iria desmaiar e ficar congelada naquelas maldita floresta.
Eu fiquei em silêncio e não reclamei quando ele me levou até o banheiro, encheu uma enorme bacia com água quente e me colocou dentro.
Ele passava cuidadosamente a mão por meus cabelos limpando e tentando estancar o sangue.
- Desculpe. Ele disse após o silêncio que nós nos encontrávamos.
- Já passamos da fase de pedirmos desculpas. Disse não querendo explicar o que tinha acontecido.
- Eu não quis te dar aquela bronca, eu só queria que você ficasse bem, a salvo.
- Eu não quis te preocupar, eu só... eu só fui tola.
- Eu posso imaginar o que você está passando, mas não sei o quão grave isso possa ser, eu não quero ver você se arriscando desde jeito, não importa a razão ou o que aconteceu lá, mas você tem que esquecer, eu não quero perder você e sua cabeça tem que estar na batalha. Seus olhos se encontraram com os meus.
- Eu estou com medo. Admitir aquilo era o que eu tinha que fazer.
- Eu sei, mas você tem que fazer o que é preciso.
Desviei meu olhar de seus olhos, estava tão escuro, mas eu conseguia vê-lo.
- Eu só quero sentir que tudo vai ficar bem, não importando o que acontecer.
- Eu sei.
Seus olhos encontraram com os meus, ele se inclinou em minha direção e nossos lábios se encontraram.
Envolvida com seu beijo por um segundo abri os olhos, congelei quando vi alguém observando em meio a escuridão, perto da porta, era ele me olhando...

A Maldição da Lua Vol: 2 Entre a Lua e o SolOnde as histórias ganham vida. Descobre agora