capítulo 73: Os dias vão passando.

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Dia após dia, noite após noite parecem se passar séculos, mas não, foram dias ou talvez semanas.
Olhar o mundo da janela e não se sentir parte dele era um sentimento muito aparente nos últimos dias.
A solidão se tornou minha melhor amiga, a dor no meu peito uma realidade e a cada dia mais as coisas saem do controle.
Meu coração começava agora a aceitar que não era mais um pesadelo, que ele tinha mesmo morrido e que ele não apareceria dizendo que tudo foi um engano.
Morte ficava ao meu lado, assim como Gadriel, mas eu não queria conversar ou nem mesmo que eles estivessem por perto quando meu lado sombrio me dominava, a concentração que eu tinha que manter me deixava esgotada e mesmo tentando ela me dominava.
Incontáveis estragos já aconteceram e percebi que estava pronta para sair dali.
- Você está pronta? Indagou Morte enquanto eu estava olhando para o nada sentada em uma poltrona.
- Estou, você vai me levar para onde?
- Você prefere dessa vez um lugar quente ou frio?
- Tanto faz.
Morte passava quase todo o tempo cuidando de mim, quando ele me deixava Cam vinha e tentava me distrair, os dois pareciam muito estranhos, havia encontrado eles cochichando sobre algo, mas não queria mais nenhuma preocupação.
- Cam e eu, arrumamos sua mala e Gadriel está lá em baixo com ele agora.
Me levantei da poltrona e Morte veio até mim.
- Vamos estar em um lugar longe, ninguém vai saber onde você está.
- Vamos você, Gadriel e eu somente.
Ele balançou a cabeça negativamente.
- Cam vai ficar conosco, pra cuidar de você quando eu não estiver lá.
- Isso não é necessário, Helena e Bob tem que ficar com o filho.
- Ele tomou essa decisão, passei no mercado mais cedo com Helena e fizemos compras para a nova casa, ela me falou de tudo que Cam e você gostam de comer e eu comprei.
- Não precisava.
- Você mal tem comido, desse jeito vai ficar doente.
- Eu estou bem.
Morte se aproximou me observando de perto, ele beijou levemente minha testa enquanto me envolvia em seus braços.
- Quer pegar algo do seu quarto? Já peguei seus livros, mas se quiser algo eu posso buscar.
- Não quero nada, podemos ir? Indaguei olhando a destruição que havia feito no quarto, paredes queimadas, esburacadas e mobília destroçada.
- Podemos.
Morte segurou o novo suporte de oxigênio, já que eu tinha destruído o outro e ainda precisava dele para respirar.
Desci as escadas, meu corpo estava fraco e Morte me segurava com os braços em minha cintura.
Helena e Bob esperavam ao lado de Cam que carregava duas enormes malas de viagem uma preta e outra vermelha.
Chegamos na sala de estar e Helena me abraçou, Gadriel veio em minha direção e eu acariciei seus pêlos.
- Querida, você está tão fraca e magra.
Eu realmente tinha perdido peso.
- Vou ficar bem, me desculpe pelos estragos que eu causei, vou pagar por tudo isso.
Com 18 anos passei a ter domínio do dinheiro que havia herdado dos meus pais.
Bob se aproximou e me abraçou.
- Vamos sentir sua falta, cuide no nosso menino. Disse ele apontando para Cam.
Concordei.
- Prometa que vai vir nos visitar sempre e que vai ficar seguro.
- Eu já falei que vou, mãe.
- Eu sei, Cam. Disse Helena com os olhos cheios d'água.
Cam abraçou Helena e depois Bob.
- Max, cuide dos dois.
Morte concordou e Helena também o abraçou ele ficou meio desconfortável, mas a abraçou também.
- Melhore, querida e você Gadriel cuide dela. Disse Helena me olhando nos olhos e depois olhando para Gadriel.
Cam, Gadriel e eu nos aproximamos de Morte, a escuridão tomou meus olhos e durou poucos segundos, meus olhos então contemplaram uma casa em uma colina, um sol forte, cheiro de grama, envolta da colina estavam algumas árvores com poucas folhas, a casa parecia grande, vidros envolta da casa e paredes de pedra escura a casa parecia uma mistura de casa clássica com um pouco de moderna.
Morte me ajudou a subir até a casa enquanto Cam arrastava as malas.
Morte me colocou na varanda da casa onde tinha cadeiras de madeira estofadas com uma estampa floral.
Com uma mão Morte trouxe as duas malas que Cam carregava.
Gadriel olhava em volta.
- A casa tem quatro quartos, deixei o maior quarto pra você Luna, no andar de cima.
- Eu quero entrar, vocês vão ficar bem?
- Vamos. Disse Gadriel e Cam ao mesmo tempo.
- Eu te levo até seu quarto.
Morte abriu a porta e o interior da casa se mostrava completamente arrumado, como se fosse em uma revista, um sofá vinho em frente a uma lareira de pedras escuras e duas mesas de vidro sobre um tapete felpudo bege, do outro lado uma mesa de jantar com 8 lugares e cadeiras de madeira escura e sobre a mesa pendurado no teto alto da casa um lustre, podia ver dali um corredor e uma grande e aberta cozinha.
A casa era muito iluminada.
A escada era clara, e atrás dela havia uma parede de vidro que dava pra ver a grama e muitas árvores atrás da casa.
Com ajuda de Morte subi as escadas ainda contemplando a bela casa.
- Como conseguiu essa casa?
- Há um tempo atrás vim buscar alguém aqui, desde então ninguém apareceu para morar, então agora é nossa.
Preferi não discutir o que era certo ou errado agora.
Morte me conduziu por um pequeno corredor com uma grande janela de vidro, paramos em frente a uma porta branca, Morte abriu a porta revelando a beleza do quarto, havia uma enorme cama, com uma cabeceira acolchoada e preta, de cada lado da cama estava um criado mudo e um abajur preto, sobre a cama estava algumas almofadas e uma coberta branca com brilho, havia um papel de parede preto em um fundo bege, com desenhos que se pareciam com coroas se encontrando, havia um tapete branco e grande no chão, cortinas brancas e beges cobrimos a enorme janela, em um canto da sala uma mesa e duas poltronas, uma estante de livros em uma parede e não outra uma porta com desenhos parecidos com o do papel de parede.
- Morte, isso é lindo, quando teve tempo de fazer tudo isso?
- Não demorou muito, Luna, fiz isso para ver se melhora um pouco, naquela porta tem um closet, comprei junto com Helena além de compras pra casa, algumas roupas pra você.
- Não precisava, obrigado por se esforçar para me ver feliz.
- O principal motivo por qual eu luto é por sua felicidade, te ver feliz é tudo que mais quero.
Ele me amava e era torturante para ele não ser correspondido.
- Eu vou deitar um pouco.
- Vou te levar até lá. Ele me levou até a cama e puxou as cortinas deixando tudo escuro senti o toque frio de sua mão em meu ombro e depois ouvi quase inaudível os passos de Morte saindo do quarto.
Me permiti ficar em silêncio, deixando minha mente viajar e ir de encontro as lembranças de Dastan.

[...]

Era ele, era o meu Dastan.
Pele branca, bochechas com certo rubor, olhos azuis escuros me encarando, cabelo preto desarrumado e um enorme sorriso nos lábios, estava vestindo uma calça de moletom solta e uma camiseta lisa azul.
- Você demorou. Disse ele sorrindo.
- Mas agora estou aqui. Me aproximei um pouco mais.
Ele estava em pé em um campo coberto por flores roxas, o sol estava brilhando e ele estava mais lindo do que nunca.
Ele começou a correr, o segui, minha respiração estava normal eu não usava a máscara agora.
- Venha, princesa.
O apelido que ele tanto me chamava quando nos conhecemos.
- Eu vou te alcançar. Gritei com um sorriso no rosto.
Aquele campo parecia não ter fim e eu não queria que tivesse.
Meus pés batiam contra o chão e eu me senti viva, correndo com ele.
Ele desacelerou um pouco para que pudéssemos correr juntos.
Uma brisa passou por nós espalhando no ar o doce aroma das flores.
Olhei para meu corpo de relance e vi que estava usando um vestido rosa na altura do joelho.
Dastan começou a diminuir e eu fiz o mesmo.
Ficamos frente a frente nossos olhar vasculhava o do outro.
- Eu senti sua falta. Admiti.
- Eu também. Dastan disse se sentando sobre as flores e me chamando para mais perto, me sentei vislumbrando seu rosto iluminando pela luz do sol.
- Eu amo você. Sua voz era doce e fazendo meu coração bater mais rápido do que quando eu estava correndo.
- Eu também amo você, eu não consigo viver sem você.
Fui tocar seu rosto mais ele recuou.
Fiquei em silêncio e voltei a olhar para ele.
Tentei tocar seu braço e novamente ele recuou.
O que havia de errado?
E então tudo fez sentido, não era real, era um sonho.
- Queria que fosse de verdade, você e eu aqui, juntos.
Ele deu um sorriso fraco.
Nossas mãos se encontraram, mas foi como tocar o vazio, sua mão começou a se desmanchar como areia e essa era levada com o vento.
- Eu amo você. Sua voz soou calma e ainda doce.
Fui em sua direção para o abraçar, fechei meus olhos e quando abri eu estava sozinha, naquele campo e agora as flores morriam.
Olhei em volta, procurando seu rosto, mas não o encontrei.
- Dastan. Gritei o mais alto que pude, minha voz ecoou e tudo começou a sumir a se desfazer como Dastan havia feito, por meio segundo me encontrei em meio a escuridão, senti um toque frio em meu rosto quando abri meus olhos, pude ver os olhos de Morte me encarando preocupado, seu cabelo loiro estava um pouco desarrumado.
- Luna, você está bem?
- Estou. Falei baixo olhando envolta.
- Você estava gritando o nome de Dastan.
- Foi um sonho, só um sonho. Minha voz saiu falha.
Morte havia aberto às cortinas e pude ver o tempo fechando, enormes nuvens negras cobriam o céu.
- Sinto muito. Morte segurou meu rosto com suas duas mãos, olhando fundo em meus olhos...

A Maldição da Lua Vol: 2 Entre a Lua e o SolOnde as histórias ganham vida. Descobre agora