Capítulo 91

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O tempo estava passando depressa durante todos esses dias, mas agora faltando 4 dias para a batalha o tempo parecia passar cada vez mais lento, eu estava em luta constante contra minha ansiedade, as noites em claro me deixavam ainda mais apreensiva com meu plano e já medindo as consequências que seriam resultado da falha desses planos. Cada passo, cada passo era refeito em minha cabeça.
Durante o dia inteiro eu treinava sozinha, durante a noite me encontrava com a Lua e treinava ainda mais, minha cabeça a todo momento alerta, dormia quando a exaustão tomava meu corpo e meus olhos custavam em ficar abertos e mesmo durante o sono minha cabeça ainda se mantinha pensando em tudo. Meus pesadelos pioraram mais a cada dia, novamente o pesadelo do dia da morte de meus pais e incessantes sonhos com Dastan e Dalila, isso me fazia cada vez mais lutar contra o sono.
Na maior parte do tempo eu estava sozinha, mesmo com as incessantes tentativas de Morte de se aproximar de mim, minhas barreiras me permitiam sentir quando ele estava próximo e o afastar de mim, mas o que me deixou apreensiva e quase insana foi sentir perto de mim a presença de alguém diferente, era Jenny, seus cabelos ruivos brilhavam com o os fracos raios de sol que se infiltravam pelas árvores, não me permiti sequer supor por qual razão ela estava ali, mas ela podia me sentir como o sopro fraco do vento.
Suas mãos seguravam uma caixa aveludada a qual ela colocou delicadamente no chão, suas mãos pequenas e pálidas, seus olhos brilhantes a procura de mim em meio a densa floresta. Ela sabia, ela sabia que eu estava próxima, ela sentiu e enquanto olhava de um lado ao outro eu pude perceber que ela mesmo com a barreira viu aonde eu estava, ela olhou em minha direção como se olhasse no fundo dos meus olhos. Seu rosto mudará totalmente desde da última vez que eu tinha a visto, ela parecia exausta, seu antigo sorriso era apenas uma lembrança, em seu olhar estava expresso sua tristeza, dor e mágoa, não podia culpa-lá, ela devia estar sofrendo até mais do que eu, eu entendia sua dor, mas não conseguia me aproximar, nem ao menos olhar em seus olhos.
Tão breve quanto chegou, ela partiu.
Seu olhar se voltou mais uma vez em minha direção e ela em seguida sumiu dentre as árvores.
Eu estava parada, ainda surpresa, mas me aproximei da caixa, meus dedos tocaram sua superfície macia e eu a abri devagar, contemplando a visão do que carregava, uma adaga, a minha adaga, a adaga que ele me dera e eu não fazia menor ideia de onde estava.
Me impedi de chorar, mesmo quando meus olhos queimaram ao segurar as lágrimas. Meus dedos trêmulos tatearam a gélida superfície da adaga, meus olhos contemplando seu brilho, as pequenas escritas fizeram meu coração bater dolorido contra meu peito, mas eu em meio a isso tentei me manter forte, não agora ainda não era a hora, eu deveria ficar ainda mais concentrada, ficar ainda mais forte, ainda mais mortal.
Guardei a adaga junto ao meu suporte de adagas, o qual eu não soltava nem por um minuto.
A noite já me alcançava e logo ela chegaria.
Surgindo como luz na escuridão, Lua se aproximou seu rosto inexpressivo, suas mãos graciosamente apoiadas em seu quadril e seus olhos brilhantes olhando no fundo dos meus.
- Mais uma noite sem dormir? Indagou ela com sua voz calma.
- Ficou fácil de reparar?
- Qualquer um notaria isso.... Você está horrível.
- Não precisava de tanto elogio assim.
- Você vai acabar mais insana do que já é, até mesmo para você que não é humana o sono é uma necessidade, que não pode ser deixada de lado.
- Se visse tudo o que eu vejo não iria querer dormir.
- Criança, eu já vivi tanto que minhas memórias iriam te fazer querer arrancar seus belos olhos.
Encarei aquele belo e saudável rosto, era impossível imaginar o que de tão ruim ela tivesse vivido.
- Mas isso não é do seu interesse, e tão pouco vai fazer você melhorar em algo, vou te ensinar já que não anda dormindo direito a acalmar seu corpo.
Ela graciosamente se sentou no chão, seu vestido leve se moveu com a brisa fraca quando ela colocou suas pernas uma sobre a outra. Lua sinalizou para que eu fizesse o mesmo, mas eu não era tão graciosa, parecia mais a um homem rústico se sentando.
- Feche seus olhos e repouse suas mãos sobre suas pernas.
Fiz o que ela tinha dito, fechei meus olhos, mas eu era muito inquieta para fazer aquilo, meu corpo se recusava a ficar tão parado, me movi tentando encontrar uma posição mais confortável.
- Pare quieta, nunca vai conseguir, não consegue ficar nem trinta segundos imóvel.
- Conseguir o quê?
- Se ficar parada descobrirá. Sua voz era tão calma.
Olhei para o lado e encontrei com seu brilho, seus cabelos levados pelo vento, seus lábios fechados tão calmamente e seu corpo tão imóvel que fazia com que ela parecesse com uma estátua de um museu famoso.
Fechei novamente meus olhos, mas senti uma coceira em meus braços e tive que me coçar.
- Concentre-se, escute tudo ao seu redor, sinta a grama contra seu corpo, sinta o cheiro da floresta, sinta o vento contra seu rosto, sinta a terra abaixo do seu corpo, sinta as folhas das árvores em movimento pelo vento, sinta desde as raízes das árvores até as nuvens do céu, sinta tudo como um toque no seu corpo, como se você não fosse a Luna, como se você fosse uma parte da imensidão do mundo, como se você fosse parte de tudo que existe e que vai existir.
Sua voz calma soou em minha mente como se ela fosse minha consciência, eu estava imóvel assim como ela, tão parada como nunca antes acontecerá, eu senti tudo que ela tinha dito, senti como se os rios estivessem com suas águas correndo em minhas veias, eu senti como se eu estivesse ligada a tudo ao meu redor, tudo em cima e abaixo de mim, como se eu fosse o vento que passava pelas árvores.
Abri meus olhos e vi que tudo passava agora devagar, as folhas carregadas pelo vento voavam lentamente, tudo ficou em câmera lenta, o silêncio cobrindo tudo, até meu próprio coração batia lentamente, mas não durou por muito tempo. A velocidade de tudo voltou ao normal, meu coração que batia vagarosamente voltou a bater tão rápido quanto antes.
- Quanto mais tempo ficar concentrada mais pode aguentar, isso é uma escapatória na batalha, você pode usar apenas uma vez.
Meu corpo foi tomado por exaustão e eu me deitei na grama, o céu estava salpicado de estrelas, entendi o porquê de poder usar desse poder apenas uma vez, ele acabará comigo.
Senti meu próprio corpo repousado e pela primeira vez vi Lua com uma ação de mãe, seus braços me tiraram do chão e em um flash meu corpo encontrou com o conforto de uma cama.
- Acho que vai ter uma noite de sono melhor aqui, não quero te ver aqui de manhã.
Assenti já com meus olhos quase que totalmente fechados.
Faltavam quatro dias......

A Maldição da Lua Vol: 2 Entre a Lua e o SolOnde as histórias ganham vida. Descobre agora