Capítulo 77

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— A RAYANA O QUE? — Lua berrou na ligação, indignada.

— Sim, ela está doente! Com câncer. — Deixei minha mala no canto do quarto, havíamos acabado de chegar em Portland.

— Meu Deus! E agora? Como vão fazer com ela?

— Micael vai cuidar de tudo. — Pausei. — Não sei... Estou com um pouco de pena dela.

— Não sabia que você fazia bico de galinha aos finais de semana. — Debochou.

— Lua, onde está a sua compaixão? — Abri a geladeira. — Droga! — Encarei a grade da geladeira com algo colorido. — Só um minuto, Lua. — Retirei o celular da orelha. — Kate? Venha aqui!

Chamei a mesma que veio, um pouco triste ainda. Não queria deixar Seattle, não queria voltar pra casa. Chorou o caminho inteiro mas dormiu quando estávamos chegando, um pouco de sossego.

— O que é isso? — Apontei ao objeto colorido, agora, com a consistência pesada.

Kate colocou as mãozinhas atrás do corpo, fazendo seu charme.

Slime mamãe. — Fez uma carinha.

Crianças...

— VOCÊ COLOCOU SLIME NA GELADEIRA? POR QUE, KATE? — Briguei com a mesma. — Agora a gente vai ter que limpar tudo essa... — Fechei meus olhos.

Eu sabia que ela me tirava do sério mas era apenas uma criança. Criança faz esse tipo de coisa, e eu não podia surtar.

— Lua? — Voltei o celular ao meu ouvido novamente.

— Não brigue com ela, você fazia merda quando era criança.

— Não esse tipo de... Você sabe!

Evitávamos falar palavrão na frente de Kate, um combinado meu e de Micael.

— Ok, ok, eu desisto de tentar ensinar como você deve falar com a Kate. Vamos brigar por conta disso... E. — Pausou. — Mande notícias da Rayana, o caso é sério!

— Vou mandar quando eu conseguir alguma notícia. — Retirei o slime da geladeira. — Até mais, dê um beijo em Acsa.

— Idem. Um beijo! — Lua desligou a ligação.

Kate me olhava, parecia estar com medo.

— Mamãe, você está brava comigo?

— De verdade? Eu estou sim! Poxa, Kate. — Busquei os produtos, limpando. — Eu deveria fazer você limpar tudo isso, com a língua. — Estava sendo muito má? Acho que sim! — Me perdoa, meu amor. Perdoa a mamãe. — Segurei em suas mãos.

Kate me encarava um pouco triste.

— Você não gosta de mim, mamãe. — Soltou. — Desculpa por colocar slime na geladeira.

— Quem disse uma barbaridade dessa à você? — Segurei seu rosto. — Eu amo você! Quando você nasceu, eu renasci. Kate, você é a minha vida! — Meus olhos lacrimejaram. — Eu morreria se algo acontecesse com você, por Deus. — Fechei meus olhos, deixando as lágrimas caírem. — Eu sei que as vezes eu brigo, sou chata, pego no pé mas meu amor, eu amo você. Por isso faço todas essas coisas. — Fiz carinho em seu rosto. — Eu te amo, Kate! Você é a minha vida, o meu tudo. A mamãe... — Não consegui continuar.

Kate me consolou enquanto soltava minhas lágrimas, nunca pensei que seria tão rude a ponto de pedir desculpas à minha filha. Minha mãe nunca havia feito isso comigo, mas não iria copiar a criação que ela me deu.

— Eu também te amo mamãe. — Sorri com o ato, Kate me faria chorar mais.

Enquanto estávamos tendo um momento mãe e filha, Micael corria atrás dos procedimentos para Rayana. O hospital estava um caos depois da notícia, exames atrás de exames, correndo contra o tempo.

— Posso entrar? — Mel apareceu na sala de Micael, havia dois envelopes consigo.

— Claro! — Deixou alguns papéis na mesa. — E então? Falou com a equipe de Chicago?

— Eu liguei e disseram que virão amanhã de manhã, podemos começar os procedimentos. Porém... — Entregou o envelope à Micael. — Temos mais um exame pra fazer.

— Qual deles? — Abriu os envelopes, encarando os detalhes do exame.

— Não sei, Micael. — Mel estava aflita. — Eu sendo médica por alguns anos, posso lhe garantir que Rayana não está com um câncer. — Engoliu seco.

Micael ficou pálido.

— Como é? — Levantou-se da cadeira, atordoado.

— O exame decretou a leucemia, que em aspas, está no começo. — Explicou. — Porém, eu quero fazer outro exame na Rayana pra ter certeza que ela não está com outro tipo de câncer. — Pausou. — Pode ser genética, as avós podem ter tido e...

— Você acha que é necessário? — Mordeu a ponta dos dedos. — Cacete! Eu estou com um mundo nas mãos que precisa urgentemente de ajuda.

— É super necessário! Ela precisa começar amanhã, imediatamente. Quanto mais rápido a quimioterapia, melhor. — Umedeceu os lábios.

— Certo. — Assentiu. — O outro exame que você referiu... — Franziu o cenho.

— Um exame de mama, preventivo. — Foi direta e reta.

Micael ficou em silêncio, colocou a mão no rosto, pensando o que fazer.

— Você pode fazer?

— Eu vou ajudá-la, por enquanto você resolve as questões da leucemia. Prepare tudo. Sei que não está com cabeça pra nada. — Foi acolhedora a ponto de não deixar Micael sozinho nessa.

Depois da longa conversa e pesquisas sobre os métodos que usariam com Rayana, Micael foi pra casa, exausto. Entrou na Range Rover e dirigiu até a casa dos Borges. Três luzes estavam acesas quando guardou o veículo na garagem, saindo dele.

Passou pela enorme porta e encarou o carrinho de Marcel, com o mesmo dentro. Estava sozinho na sala, quieto, observando e se acostumando com o local.

— Como é que vai, carinha? — Micael o pegou. — Você estava aí, quieto, olhando o que? — Ninou o pequeno, que resmungou. — Shiii... Não precisa chorar! O papai está aqui, o papai está aqui! — Sorriu ao bebê que estava fechando os olhinhos, estava quieto e confortável no colo do pai.

— Você chegou. — Rayana apareceu, já estava com trajes de dormir.

— Está melhor?

— Claro que não, Micael. Eu estou doente! Tem coisa pior do que isso?

— Tem sim! Você precisa colocar na sua cabeça que sua doença tem cura.

— Vocês médicos sempre dizem isso, impressionante. — Estava irritada. — Acontece que ninguém sabe o dia de amanhã, por isso eu mantenho os meus pés no chão. — Encarou Micael, bem irritada.

— Você não confia em mim?

— Se eu não confiasse não estaríamos casados. — Revirou os olhos. — Eu não quero mais falar desse assunto, amanhã será um novo dia de merda e eu irei sofrer por mais um dia de merda. — Pegou Marcel do colo de Micael. — Vamos dormir, meu amor! Você precisa descansar. — Subiu as escadas deixando o marido sozinho, que estava mais atordoado do que ela.

Young and the Restless - Jovens e Inquietos 2ª Temporada Where stories live. Discover now