Capítulo 97

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— Estamos aqui, diante da família, rezar a paz e entregar Arthur Aguiar para as mãos do querido pai. Rezem comigo! — O padre, um pouco alto e de aparência jovem estava fazendo o seu trabalho.

Estávamos no cemitério mais reservado de Seattle, apenas caixões de luxo e muitos milionários falecidos à volta de Arthur. Estava de mãos dadas com Lua, enquanto a mesma chorava, abalada demais.
Micael ficou ao lado de Rayana, usava terno e gravata ambos de grife, igualmente à mulher, com seu vestido tubinho preto. E os saltos... Impecável! Nem parecia que estava doente.

Eu optei por um vestido um pouco mais solto, não queria machucar o meu bebê e muito menos tentá-lo esconder do mundo. Não estava visível mas o olhar de Micael à mim me trazia paz, um conforto muito grande de que eu estava segura.

— Amém.

— Amém. — O uníssono aconteceu, vimos o caixão de Arthur ser enterrado, logo após, rosas brancas invadiram a madeira maciça.

Os amigos do colegial bateram palmas, assim como Micael. Não consegui chorar e nem ter um pingo de pena, Arthur foi um ótimo amigo antes mas tudo que ele me fez... Não era digestivo pra ninguém.

— Está tudo bem! — Abracei Lua que estava aos prantos, havia caído sua ficha agora.

— Meus pêsames, Lua. — Rayana chegou, junto de Micael. Abraçou a mesma.

Quanta falsidade!

— Obrigada. — A mesma assentiu.

— Meus pêsames! — Foi a vez de Micael.

Lua recuou.

— Vá se foder! — Disse bem baixo, não conseguimos escutar o que ela havia dito. — Eu vou consolar Kátia, nos vemos depois. — Segurou em minhas mãos, enquanto assentia.

Ficamos nós três, encarando uns aos outros, procurando algum tipo de assunto que não nos deixássemos desconfortáveis.

— Parece mentira, não é? — Rayana soltou. — Um menino tão bom, estudou com a gente... Triste.

— Arthur foi ótimo em todas as ocasiões, tenho que concordar. — Micael colocou as mãos no bolso.

— Já sabem do que ele morreu? — A esposa perguntou à Micael, que coçou a nuca, um pouco aflito.

— A autópsia sai na semana que vem. — Mentiu. — Ainda não sabemos de nada, foi melhor assim. Kátia está bem abalada!

— Não deve ser fácil pra ninguém.

Ficamos em silêncio até eu sentir algum perfume importado, de alguém que passou atrás de mim. Meu estômago revirou e a ânsia veio, segurei forte.

Rayana e Micael me olhavam.

— Com licença! Eu vou dar uma volta. — Sai rápido antes que invocasse a menina do Exorcista.

Caminhei até a entrada do cemitério, sentindo a brisa de algumas árvores. Respirei fundo! Aquele lugar não era agradável para se recompor de enjoos, mas era o que estava tendo.

Olhei para o lado vendo Antônia chegar próxima à mim, estava bem elegante. Afinal, sua conta bancária deixava!

— Está tudo bem?

— Um pouco. — Suspirei. — É difícil acreditar que ele morreu, sem mais e nem menos.

— A vida é assim! Quando você vê, está morto! Por isso eu sempre digo. — Gesticulou. — Viva o hoje, sem pensar no amanhã. — Sorrimos leve.

Adorava os conselhos da minha sogra, que era a minha sogra por debaixo dos panos.

— E você? Como está indo? Micael me disse que voltou para Seattle.

— É, eu desisti de fazer Direito. Vou começar outra faculdade, em breve.

— Você gosta de estudar, não é?

— Eu gosto! Quero ser alguém na vida e não depender do dinheiro de ninguém. — Expliquei, ela havia entendido.

— Está certa! Precisamos ter independência própria. — Sorriu. — Aconteceu alguma coisa que você queira me contar?

Observou meus traços, ela sabia que estava acontecendo alguma coisa.

— Eu estou grávida! — Disse baixo, sorrindo.

Mas não recebi a mesma reação.

— Grávida? Pelo amor de Deus, eu vou matar o Micael! — Andou de um lado para o outro. — Onde está o juízo de vocês?

— A gente sabe as consequências mas... Ele queria!

— E você é mandada por ele agora? — Esbraveceu. — Querida! Você corre perigo, Kate corre perigo! Aquela mulher é o capeta em forma de gente e você me arruma mais um filho? — Estava muito brava. — Pelo amor de Deus, onde vocês vão parar?

Abaixei minha cabeça, apenas escutando.

— Eu sempre disse ao Micael que era pra ele acabar com isso, de uma vez por todas. Está virando uma palhaçada já! — Pausou. — Tiramos você do país se for necessário mas conte à essa bruta montes toda a verdade. Você vai ficar se escondendo pra sempre? É tão linda, jovem e tem um futuro promissor.

Antônia colocou as mãos na cintura, negando com a cabeça.

— Você me decepcionou, Sophia. De verdade! Me decepcionou! — Umedeceu os lábios.

— Sabemos que...

— Não, vocês não sabem de nada. Estão com a cabeça aonde? Na Disney? Oh, céus! — Riu em deboche. — Pra uma mulher inteligente você se saiu uma ótima burra, me perdoe pelas palavras.

Meus olhos se encheram de lágrimas, senti o nó na garganta.

— MÃE! — Micael chegou perto de nós. — Já chega! Deixe a Sophia em paz!

— Em paz? Eu estou na paz, agora vocês... Quanta merda você tem na cabeça, moleque? Outro filho? — Brigou com Micael. — É sério isso mesmo? Eu quero saber até onde essa mentira vai, eu vou ficar lisonjeada de saber.

— JÁ CHEGA MÃE! — Segurou no braço de Antônia, lhe sacudindo. — Você está passando de todos os limites.

Me choquei quando o barulho do tapa ecoou, estralado. Micael remexeu o maxilar, grunhindo e reclamando. Aquele havia doído!

— Você nunca mais ouse encostar um dedo em mim, escutou? — Apontou o indicador à face de Micael. — Eu enterrei o seu pai e posso enterrar você também!

Ficamos em silêncio.

— Escutem o que eu vou dizer. — Se preparou. — Abram o olho de vocês, ela também está jogando! Porque ela também já sabe. — Meus olhos arregalaram. — É só isso que eu tenho pra dizer.

Antônia saiu andando.

Passou por Lua que chegou correndo, não gostou de me ver naquela situação.

— Gente, o que aconteceu? — Enlaçou as mãos em minha nuca, observando meu rosto. — O que esse merda fez com você? Estavam brigando?

— Não aconteceu nada. — Sequei minhas lágrimas. — Eu quero ir embora!

— Eu vou levar vocês. — Micael soltou.

— Vamos de táxi, não precisamos da sua ajuda. — Lua respondeu, se irritando.

— Lua? — A parei. — Por que está tratando o Micael desse jeito? Eu quero saber! — Cruzei os braços, autoritária.

Lua e Micael ficaram em silêncio.

— Ou vocês me contam, ou se eu descobrir, vai ser bem pior.

Young and the Restless - Jovens e Inquietos 2ª Temporada Onde histórias criam vida. Descubra agora