Capítulo 3

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— Conversamos depois, querida. — Micael sorriu falso logo após sussurrar. Os convidados de Rayana estavam ficando sem graça.

O jantar ocorreu excepcionalmente bem. Conversaram sobre coisas aleatórias e depois, cada um pro seu canto, sem tocar no assunto do hospital novamente. Rayana estava cansada quando retirou-se da mesa, subindo até seu quarto, Micael saía da suíte com uma toalha na cintura.

— Onde você estava? — Cruzou os braços.

— Em uma reunião, já te disse. — Procurou uma boxer. — Você pode comprar cuecas pra mim? Estou ficando sem opções. — Encarou a gaveta com centenas de cuecas.

— Mudando de assunto?

— Claro que não. — Olhou Rayana. — Onde você acha que eu estava?

— Não sei. — Levantou os ombros. — Mel me disse que você não estava lá.

— Que engraçado! Você e Mel viraram amigas agora? — Vestiu-se. — Pra sua informação ela estava de plantão na área pediátrica. Não venha me julgar sem saber o que ocorreu! — Caminhou até sua cama, estava muito cansado.

— Você muito estranho, Micael! Você não era assim.

— Eu sou assim, você que nunca tinha percebido. — Deitou-se. — E eu estou muito bravo com você.

— Por que? — Sentou-se na ponta da cama.

— Fazendo ofertas à estranhos. Eu não vou vender o meu hospital, já disse! — Esbraveceu. — Eu não quero mais a visita deles, entendeu bem?

— Você está se saindo um belo de um babaca.

— Por que acha que eu quero vender o meu hospital? — Queria uma resposta óbvia.

— Porque você fica muito cansado? Você é milionário! Você tem nome! Você é um Borges! — Decretou. — Não precisa passar por isso.

— Eu preciso sim! Eu não fiquei preso cinco anos em uma faculdade pra desistir de tudo.

— Quer saber? Eu desisto! — Rendeu as mãos. — Eu desisto de tentar conversar com você. Não somos nada nessa vida de merda. — Andou até o closet. — Nada. Não temos uma vida de casal normal, você sempre está estressado, sempre! Nem sexo fazemos mais. — Soltou, indignada. — Como vamos procriar se eu só vejo o meu marido nu quando ele está tomando banho? — Voltou para a cama, já vestida. Observou Micael que dormia, com os lábios abertos. Estava muito cansado!

Rayana revirou os olhos antes de se deitar. Arrumou os lençóis e afofou os travesseiros, certificando que dormiria tranquila à noite toda.

Estava um pouco nublado quando amanheceu, me revirei nos lençóis e não queria deixar minha cama quentinha, mas tinha afazeres como levar Kate à escolinha. Me levantei, fiz minha higiene matinal e fui até o quarto da mesma, a acordando.

— Hora de acordar, pequena princesa. — Beijei seu rosto. — Que cheirinho mais gostoso! — Lhe enchi de mais beijos. Ela se irritou.

— Mamãe, só mais cinco minutinhos. — Virou do outro lado.

— Nada disso! Nós vamos nos atrasar. — Lhe avisei. — Sua amiga Kimberly não irá gostar se você faltar.

Kate adorava Kimberly, eram amigas inseparáveis. Isso me lembrava eu e Lua, que saudade!

— Tá bom. — Bufou quando saiu da cama, achei fofo ela calçar as pantufas e ir até o banheiro que havia em seu quarto, totalmente adaptado ao seu tamanho.

Micael pensava em tudo.

Arrumei Kate e logo estávamos na rua, ela usava um uniforme azul com branco, uma saia até os joelhos e os sapatinhos como sapatilhas fechadas, com meia. Ela estudava na Middle School, a segunda maior e melhor escola de ensino fundamental de Seattle. E claro, isso tinha dedo de Micael. Ele queria uma educação e ensino brilhante à Kate, decretou isso quando ela saiu da outra escolinha.

— Bom dia, meu amor! Preste atenção nas aulas, eu te amo. — Beijei o topo da cabeça de Kate.

— Eu também te amo, mamãe. — Sorriu e entrou, como era independente! E eu, já queria chorar.

— Bom dia, Dr. Borges. — A assistente sorriu quando Micael apareceu, estava com o jaleco entre os braços.

— Bom dia. — Sorriu animado. Tinha descansado bem, deixando Rayana falar sozinha. — Como vamos por aqui? — Teve a prancheta nas mãos, verificando.

— Eu gostaria de um café. — Soltou, ele a olhou por cima.

— Você quer um vale café ou está me zoando? — Ela riu.

— Você é hilário, Dr. Borges. — Negou com a cabeça. — Bom trabalho!

— Pra você também. — Riu leve antes de sair por aí, caminhou pelos corredores do hospital até encontrar um elevador.

Encontrou Mel no caminho.

— Borges! Acordando cedo. — Brincou.

— Eu sempre acordo cedo. Tenho vidas pra serem salvas. — Ela riu.

— Estamos em um Grey's Anatomy da vida real. — Entraram no elevador. — Muito trabalho?

— Tenho plantão hoje. Três cirurgias. — Soltou. — Se eu te perguntar, você vai mentir pra mim? — Encarou Mel que não entendeu.

— Depende da situação?

— Disse à Rayana que eu não estava aqui ontem, certo?

— Eu disse que não tinha te visto.

— Porra, Mel! Como você quer que eu viva desse jeito?

— Ela estava nervosa! Eu não sabia o que estava acontecendo. — Defendeu-se.

— Ela disse que viria aqui?

— Por mais alguns minutos ela viria sim. — Assentiu. — Você foi vê-la ontem? — Estava se referindo à mim.

Mel sabia de tudo! De Kate, de mim e em como Micael conseguia administrar duas vidas. Era inacreditável.

— Sim, e depois tive um jantar terrível com Rayana.

— Ela me disse por alto. — Saíram do elevador. — Como estão as meninas? — Estava curiosa em saber.

— Bem, quer dizer... Irei viajar no final de semana. — Mel arregalou os olhos. — Pode esconder isso por mim ou vou ter que te pagar?

— Pode aumentar o meu pagamento, ficaria grata. — Fez uma careta enquanto Micael ria. — Você sabe que está seguro comigo, Borges!

— Ainda bem. — Suspirou.

Entraram em uma sala vendo seus pacientes. Micael estava se preparando à cirurgia.

— Bom dia! — Encarou o homem internado, com mais ou menos trinta anos. — Como está se sentindo? — Tirou o estetoscópio do pescoço, escutando o coração do rapaz. — Consegue respirar sem problemas?

— Mais ou menos. — O avisou. — Eu não aguento mais! Isso vai me matar.

— Não vai! Vamos preparar você para a cirurgia. Sua mulher está lá em baixo? — Verificou seu soro agora.

— Minha filha!

— Pedirei para que avisem ela. — Sorriu acolhedor. — Nos vemos daqui à algumas horas. — Deixou o quarto. Mel lhe seguiu.

— Precisa de ajuda com o fumante?

— Água no pulmão. Vai ser complicado. — Cerrou os dentes. — Deus me guie!

— Ele sempre guia. Boa cirurgia, Dr. Borges. — Piscou à Micael antes de sumir de suas vistas.

Tinha muito trabalho a fazer.

Young and the Restless - Jovens e Inquietos 2ª Temporada Onde histórias criam vida. Descubra agora