Capítulo 45

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— Estou satisfeita! — Limpei meus lábios com o guardanapo de papel, sorri enquanto os dois me encaravam.

— Também enchi. Quando você estava grávida era assim também? — Rayana pousou a mão em sua barriga, ninando.

— Ah, um pouco. — Assenti. — Isso são fases, o começo é sempre assim. — Observei Micael que estava quieto, encarava a mesa, pareceu estar em transe.

Meu celular vibrou, tinha que atender!

— Vocês me dão... Licença. Só um segundo! — Balancei o IPhone no ar e logo Rayana entendeu. Sai da mesa atendendo a ligação.

Estranhei quando li o nome da minha mãe no identificador de chamadas.

— Mãe? Está tudo bem?

— Mamãe, você vai demorar? — A voz de Kate sondou.

— Eu já estou indo querida, você queria alguma coisa?

Eu tô com saudade. — Pausou. — A vovó já dormiu.

— Como de costume. — Olhei ao redor da sala. — Sabe as regras, não sabe?

— Não subir em nada, não mexer no fogo, não mexer na tesoura e...

— Escovar os dentes depois do jantar. — A lembrei. — Você fez isso, dona pequena?

— Eu esqueci mamãe. — Pude imaginar em Kate levantando os ombrinhos, fazendo aquela careta que amávamos. — Vem logo mamãe, eu te amo.

— Eu também te amo, querida! — Sorri enquanto Kate encerrava a ligação. Me assustei quando Micael tocou meu ombro, estava atrás de mim.

— Aconteceu alguma coisa?

— Era Kate! — Guardei meu celular. — Ela disse que está com saudade, e, minha mãe já dormiu.

— Como de costume. — Riu leve. — Eu vou levar você pra casa.

— Muito na cara, não acha? — Torci o nariz.

— Ela ama você agora, parece que são... Melhores amigas. — Debochou.

— Imagine quando ela souber que eu dormia com o marido dela. — Soltei.

— Dorme. — Deu ênfase.

— Dormia. — Dei ênfase novamente. — Não temos mais nada, Micael! Já conversamos sobre isso.

— E o dia da viagem? Aquilo foi o que? — Me prensou em palavras, não tinha como correr.

Mas fui salva por Rayana quando a mesma chegou na sala, iria se despedir de mim.

— Eu já vou. Micael vai me dar uma carona, está tarde! — Cerrei meus dentes. Rayana me abraçou.

— Obrigada por ter vindo, vamos combinar de fazer mais coisas. Minha mãe está chegando de viagem, podemos ver o que fazer. — Optou. — Bom descanso!

— Obrigada, pra você também. — Acenei enquanto passava pela porta. Escutei Micael balançar as chaves da Range Rover, apertando o alarme e destravando as portas.

Me sentei no banco de couro super confortável. Eu conhecia aquele carro como ninguém!

— Temos muito o que conversar! — Rodou a chave no contato, dando partida.

— Tipo? — Passei o cinto.

— Tipo... Você se mudar de Seattle. — Abaixou o freio de mão, engatou a marcha, saindo. — Eu quero saber que história é essa.

— Acho que eu não te devo satisfação.

— Claro que me deve, temos uma filha! — Me encarou rápido. — Como você vai se mudar, já pensou em mim? Você não pode me deixar aqui.

— Mas eu preciso estudar! Você se mudou quando passou no vestibular, agora é minha vez. — Expliquei. — E outra, estamos sendo precipitados, eu nem sei se irei passar.

— Você sabe que vai. Você é inteligente! Sempre foi! — Parou o carro no sinal. — Eu não quero você longe de mim.

— Não posso atender o seu pedido. — Fui rude. — Kate está crescendo, podemos combinar de você ir visitá-la todo o final de semana.

— E a Rayana?

— Você sempre enrola ela.

— O bebê está crescendo, eu não posso ficar saindo da cidade o tempo todo.

— Problema é seu! — Eu não estava me importando, o que Micael dizia saía automaticamente dos meus ouvidos.

— Problema é seu, problema é seu! — Me remedou. — As vezes eu queria que você ficasse dois segundos no meu lugar, como eu queria!

— Infelizmente eu não posso. — Debochei novamente.

— Sabe por que você não pode? Porque você está cômoda. É isso!

— Como é que é? — Achei um desaforo, me virei à ele.

— É isso sim! Você não está ligando pro futuro da gente. Você só vê... A Kate, só vê você. Você não liga pra nada. Eu me viro em quatrocentos pra poder agradar à todos, e também, fugir da Rayana que vive no meu pé. Você acha que é fácil? — Soltou, como um desabafo.

— Então fale tudo pra ela, vamos! Solte tudo! Não temos nada a perder.

— É! Não temos nada a perder. Só um caixão esperando pela gente, ou um assassinato muito grande. É isso que não temos nada a perder. — Apertou o volante, nervoso. — Você acha que é brincadeira, você acha que se ela descobrir estará tudo bem. NÃO ESTARÁ TUDO BEM! — Gritou.

Encolhi meus ombros em silêncio.

— Ela é má, ela pode fazer coisas que nem imaginamos. E você ainda acha que está tudo bem se contarmos à ela. — Me encarou, parou em frente à minha casa. — É por isso que temos que esconder até o final.

— E esse final nunca vai ter um fim digno? Vamos ter que esconder até morrermos? Me poupe, Micael! Eu não vou ficar parada esperando a vida me dizer alguma coisa. Eu sou jovem! Eu quero curtir, quero conhecer o mundo, e não ficar presa nesse mundinho escondido. — Soltei.

Ele bufou.

— Eu já pensei em mil coisas pra poder afastar ela da gente. — Abaixou a cabeça, escorando no volante.

— Então me diga. — Cruzei os braços, esperando.

Ele se preparou ao dizer, respirou fundo enquanto me observava, parecia estar cansado e sem paciência.

— Eu falei com Ken alguns meses atrás... — Pausou. — Eu estava pensando em provocar um aborto espontâneo em Rayana, em alguma consulta médica, pelo hospital. — Paralisei. — Essa ideia nunca foi descartada do meu pensamento.

Meu corpo respondeu tão rápido que Micael foi surpreendido por um tapa meu, bem forte, fez uma careta enquanto reclamava de dor.

— VOCÊ FICOU MALUCO? — Me exaltei. — É um bebê, ele não tem nada a ver com isso, você foi o culpado. Ele não tem nada a ver!

Me choquei novamente, estava boquiaberta quando sai do carro, batendo a porta com tudo. Micael me parou.

— Onde você vai? — Segurou meu braço.

— Embora daqui. Você é um monstro, Micael! Eu não conhecia esse seu lado. Ainda bem que conheci antes. — Me virei, entrando em casa. Sumindo das vistas de Micael.

Por um bom tempo.

Young and the Restless - Jovens e Inquietos 2ª Temporada Where stories live. Discover now