131. REENCONTROS

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SARAH ESPERAVA encontrar a casa ainda adormecida, mas Bel estava na sala, com os fones, ouvindo as mensagens da secretária eletrônica e gravando as respostas. Ao seu lado, o bilhete que Sarah havia deixado.

Ao ver a amiga, Bel pausou a gravação e tirou os fones. Continuava abatida, mas tinha trocado as roupas e os cabelos estavam úmidos do banho.

– Oi, bom dia, Bel. Esperava que estivesse dormindo.

– Acordei e não consegui mais pegar no sono. Deixei Rafa descansando. – Ela cutucou o bilhete com a ponta da unha. – Então, o dia está bonito?

– Lindo, mas não foi por isso que saí. Alguém me chamou lá fora pra conversar, e agora está travado na sua porta, sem saber se pode entrar ou não.

– Como assim? – Bel levantou, já rumo à porta. – Quem é?

– Neco. – Bel parou, olhando a amiga com surpresa. Sarah esboçou um sorriso. – Veio pra ver você.

– Neco. Eis que o salafrário reaparece! Devo sentar um soco, direto?

– Escute antes. Se bem que, considerando o jeito dele, acho até que está esperando um soco de algum de nós.

– Vou deixar o soco pro Rafa, ele é melhor nisso que eu.

Bel escancarou a porta, mãos na cintura, encarando o desaparecido – que parecia um cachorrinho perdido.

– Oi – arriscou Neco, recuando um passo instintivo. – Eu... vim pra saber se posso ajudar de algum jeito, Bel. Sinto muito por sua mãe.

A simples menção à mãe fez lágrimas escorrerem pelo rosto da jovem, que retrucou:

– E precisava alguém morrer pra você voltar, Neco?! Entre de uma vez, estropício! Não, espere! Primeiro me garanta que sua nojenta mulherzinha não está por aí escondida atrás de um arbusto, pronta pra entrar logo depois de você!

– Divórcio.

– Resposta correta. Pode entrar!

Ele parou logo do lado de dentro da porta para dar um abraço muito apertado em Bel. Quando chegaram à sala, Sarah estava desligando o telefone.

– Trovão – informou. – Clara e ele também acordaram cedo e queriam saber se já podiam vir. Eu disse que sim. E avisei que você estava aqui, Neco.

– E? – Ele engoliu em seco mais uma vez.

– Não desistiram de vir.

– O hotel é perto, vão estar aqui nuns minutinhos. Vamos pra cozinha, ver o que tem de café da manhã. Dispensei os empregados. A portaria vai despachá-los pra casa, quando chegarem. Aliás, como a portaria deixou você entrar, Neco?

– Hm, bem... Aproveitei que estavam distraídos e me esgueirei pra dentro.

– Você invadiu.

– É, pois é, invadi. Não queria a portaria avisando que eu tinha chegado, quer dizer, eu...

– Você não queria que a gente soubesse porque pensou que seria mandado de volta lá da portaria mesmo – concluiu Bel.

– Isso mesmo. E, se consigo me meter de clandestino numa nave de carga, não é uma portaria que vai me segurar.

– Você fez o quê?!

Sarah sorriu.

– Melhor esperar Clara e Trovão, Bel. Não quero ouvir três repetições da mesma história.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora