42. RAFAEL

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– TODOS PARADOS – ordenou Rafael, segurando Anne-Marie pelo braço, a arma encostada à têmpora dela. – Ou teremos sangue nesse lindo iate branco. Boa noite, minha linda.

– Ele estava lá em baixo, nas cabines. – Cássio tinha subido logo antes, com as mãos erguidas. – Nos pegou de surpresa.

O capitão pretendeu falar com o clandestino para distraí-lo, mas Rafael mandou todos calarem a boca e ficarem longe. A um sinal do capitão, um homem calmo e sensato, os tripulantes se afastaram. Anne-Marie começou a chorar.

– Nada de heroísmos! Capitão, pro leme. Vamos pra Ilha Torta! Não ouse tocar no rádio e não tente me enganar. Sei onde estamos e conheço a rota, que vai levar vinte minutos na direção sudoeste, ou seja, pra lá! – O queixo de Rafael indicou a direção correta. – E você, geniozinho, tire suas patas imundas da minha Sarah e se afaste dela. Agora!

Enrique tinha abraçado Sarah e se colocado entre ela e a arma. Olhou-a, tremendo de raiva, mas sua miniatura encarou-o com firmeza, ficando por instantes de costas para Rafael.

– Faça tudo que eu mandar – sussurrou. – Prometa!

Enrique se lembrou de Sarah erguendo-o do chão, movendo-se com rapidez sobrenatural, soltando rajadas de energia com a mão. Assentiu num gesto curto, rígido.

– Não reaja, não enfrente, não levante a mão contra ele! Entendeu?!

– Chega de cochichos! Sai daí, minha linda!

– Entendeu? – insistiu Sarah.

Enrique assentiu mais uma vez, e só então Sarah se afastou do companheiro, ficando entre ele e Rafael.

– Venha cá, minha linda, enquanto o capitão nos leva pra onde eu mandei.

– Vou aí se você largar a arma. Não chego perto de motos e não chego perto de armas, também.

– Eu não vou largar! – Rafael riu de uma forma desagradável, meio maníaca.

– Então eu não vou. – Sarah cruzou os braços e encostou na amurada, bem longe dele e de Enrique.

– Já vamos resolver isso, minha linda. Só espere o capitão chegar onde mandei!

Foram vinte minutos de tensão. No começo, houve algumas tentativas de diálogo ou de movimento, que foram agressivamente cortadas por Rafael. Ele se mantinha atento a tudo, com a arma sempre na cabeça de Anne-Marie, que chorava de soluçar. O capitão pediu que todos se mantivessem calmos e não tentassem interferir. O iate silenciou. Só se ouvia o motor, o mar e o choro da garota assustada. A tripulação conhecia seu capitão e ficou alerta, esperando uma brecha para agir. Rafael não forneceu nenhuma.

Sarah podia ter interrompido aquela palhaçada nos primeiros minutos, se quisesse. Mas não queria. Não ainda! Precisava se controlar para não tamborilar os dedos nos braços. Tanta preocupação com atiradores de tocaia, e no fim o perigo era aquele imbecil de dois metros, sua raiva infantil de Enrique e sua falta de noção quando bebia! Tudo bem, o senso de perigo estava certo, ele era mesmo perigoso, tanto que quase tinha matado Enrique uma vez. Se Enrique estivesse sozinho, Rafael seria um risco bem real. Mas Enrique não estava sozinho, e o senso de perigo de Sarah avisava que a arma não era perigosa. Ou aquela porcaria era falsa, ou estava sem balas, ou ele tinha molhado ao entrar no barco. O fato é que ele estava se achando o dono da situação. E que Sarah estava resolvida a acabar de uma vez por todas com aquela história.

Seria a última idiotice movida a bebida que Rafael faria na vida. E, como as colegas com pesadelos do alojamento podiam testemunhar, a princesa de Durina não era adepta de terapias suaves.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora