137. EMPATIA CRIALE

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SARAH SAIU do quarto tão silenciosamente quanto havia entrado. Voltou ao seu quarto e, com a porta fechada, usou o cristal de Durina para fazer contato com Carl.

(– Eu já suspeitava, Sarah. Não há o que fazer.)

(– Por que não me disse?)

(– Era apenas uma suspeita. Já se passaram trinta e três dias. Se a resistência da família é de cerca de trinta dias, ele está no fim.)

A princesa de Durina arrumou a postura, aprumou os ombros. Qualquer Linhagem sabia muito bem como a morte cinzenta se comportava. Não havia cura, reversão ou esperança. Uma vez que o processo iniciava, seguia inexoravelmente até o fim.

(– Vou tomar conta de Bel. Espero que não aconteça enquanto Rafa estiver fora. Bel vai precisar dele.)

Carl assentiu e saiu do contato, e Sarah nem tentou dormir. Ficou sentada na cama, pensativa. Três gerações consecutivas de perdas por morte cinzenta. Era... inusitado.

Eventualmente, o bloqueio oceânico falhava, abrindo brechas que permitiam a saída para a superfície de imperiais não pertencentes a Linhagens. Mas não eram rupturas silenciosas; o bloqueio era feito de energia e, quando rompia, causava um verdadeiro estrondo mental, sempre ouvido pelo Palácio encarregado da segurança daquele setor do bloqueio.

Sarah recordou a última ruptura no setor de Durina. Tinha dezesseis anos na época, e estava dormindo quando o Palácio inteiro retinira como um gigantesco sino de cristal. A sensação de urgência havia sido tamanha que se vira de pé e armada antes de entender o que estava acontecendo. Em minutos se transportara com os pais e dois batalhões de elite para o setor do Palácio mais próximo da brecha, e então haviam saído para o mar, nadando o mais depressa possível para o problema.

O bloqueio separava o Império das terras emersas, de modo que, quando rompia, era em locais próximos à superfície. Nunca próximos demais, pois os superficianos precisavam da ilusão de que podiam avançar oceanos adentro tanto quanto quisessem. Os imperiais de fora dos Palácios tinham perdido as habilidades mentais quando os Reinos fecharam seu poder e, portanto, não conseguiam sentir o impacto da ruptura. Mas ainda havia dois grupos de imperiais mentais, capazes de perceber oscilações no bloqueio. Estes, no entanto, não tinham chance de tentar sair por uma questão geográfica simples. O primeiro grupo eram os que moravam nos Palácios, que nunca tinham perdido as habilidades. Como todos os Palácios ficavam longe dos limites do bloqueio, as fendas não aconteciam perto deles. O segundo grupo eram os que viviam nas profundezas, que pouco haviam sido afetados pelo fechamento dos Reinos e que ficavam mais distantes ainda do bloqueio.

Mas havia muito mais vida no Império além dos imperiais.

Strils, tlanares e serpentes convergiam para as brechas como mariposas superficianas encantadas pela luz. Atrás desses predadores iam os renegados, que há muito tempo tinham entendido que aquilo significava chance de alcançar a superfície.

Eles raramente tinham sucesso.

Não porque as Linhagens chegassem rápido para impedir fugas, mas porque simplesmente não conseguiam passar. E não compreendiam o motivo, pois não conheciam a origem do bloqueio.

Milênios atrás, a superfície havia sido seriamente ameaçada pela belicosidade dos imperiais. Não só predadores e renegados, mas também imperiais gananciosos ou Reis que pretendiam ampliar seus territórios para fora do mar. Então Relana tinha estruturado o primeiro bloqueio oceânico, cuja função era impedir a passagem de quem quer que pretendesse criar problemas do outro lado. Imperiais guerreiros não conseguiam sair, mentais superficianos hostis não conseguiam entrar. Corações tranquilos e mentes em paz tinham passagem livre dos dois lados. Não tinha resolvido por completo os problemas, já que sempre havia os que conseguiam burlar os critérios do bloqueio, mas a melhora tinha sido notável, permitindo uma convivência mais tranquila entre as duas metades da Terra.

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now