132 - ESPAÇO

141 14 5
                                    


Demorou, mas espero que gostem.

É um capítulo bem gordinho!

**********************************************************************

ORGANIZARAM a cozinha, deixando tudo em ordem como Bel gostava. As conversas pararam, a presença da mãe de Anabel se fazendo sentir em cada memória. Ao guardar alguns talheres, Rafa secou o rosto. Ninguém perguntou, mas ele explicou mesmo assim:

– Ela tinha um jeito todo dela de guardar os talheres, perfeitamente empilhados, e eu...

– Tudo bem, Rafa.

Bel estava demorando, e acabaram sentados em torno da mesa, com copos de suco ou xícaras de café. Rafa olhava a porta a todo instante, e afinal disse:

– Eu devia ir lá com eles.

– Pra quê? – Sarah se serviu de mais suco. – Pra chorar junto?

– Pode ser. Eu ficaria mais tranquilo se visse o pai de Bel chorando. Engolir tudo desse jeito não pode fazer bem.

– Esse tempo é deles, Rafa. Melhor ficar aqui com a gente.

Bel voltou depois de quarenta minutos. Era evidente que tinha chorado, mas parecia bem.

– Papai estava acordado desde bem cedo – informou, pegando a caneca de café de Rafa.

– E nós, falando alto e rindo. – Maria Clara corou. – Desculpe, Bel. Desculpe mesmo.

– Está tudo bem. – Bel passou a mão pelo rosto, secando um restinho de umidade. – Ele não se importou. Disse que gostou de nos ouvir, e também gostou de saber que você está de volta, Neco. Ele só não estava com vontade de se juntar à conversa.

– Acho melhor darmos um tempo para a família, pessoal – comandou Sarah, levantando. Bel sinalizou para sentar de novo.

– Nem pensem nisso. Ele ficou satisfeito ao saber que vocês estão aqui. Se saírem, ele vai se aborrecer, e eu, muito mais do que ele. Papai não quer conversar, só isso... E eu entendo. Não tem nada a ver com vocês, ou com nossa conversa bagunçada. Ele quer o tempo dele, só isso. Disse que não está com fome, mas vou levar alguma coisa para o quarto. E o almoço, Rafa?

– Ninguém está a fim de cozinhar. Encomendei daquele restaurante de frutos do mar que você gosta, pedi para entregarem em duas horas.

Anabel assentiu e preparou para o pai uma bandeja com frutas, bolo, chá e alguns sanduíches. Levou-a, permaneceu mais alguns minutos com ele e voltou para os amigos.

– Ele avisou que não vai sair do quarto hoje, e que não precisamos nos preocupar com volume de voz ou risos. Ele não se importa. – Bel secou mais umas lágrimas. – Porque mamãe não se importaria.

Aquilo causou uns bons segundos de silêncio.

– E ela não se importaria mesmo. – Bel se aprumou, deu uma ajeitada nos cabelos e forçou um sorriso. – Aliás, acho que ela não ia gostar nem um pouco se estivéssemos nos reunindo para chorar. Portanto, Neco, adiante. Você pediu o divórcio, e?

– E resolvi cair fora – respondeu ele, num tom muito mais moderado de voz. – Passei esses últimos meses na estação orbital, gente. Fui um dos maiores responsáveis por aquela nave nova estar pronta e ser do jeito que é.

Aquilo foi uma tremenda surpresa para os outros (exceto Sarah) e desanuviou um bocado o ambiente.

***

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now