117. NO JATO

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Ok, vamos em frente. 

Desta vez, sem interrupções de meses pós-Bienal!

Alguém aí estaria ansioso para ver o 

Olho do Feiticeiro impresso?

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LILA AGUARDAVA ao lado da porta da suíte, com um sorriso neutro e profissional idêntico ao da legítima proprietária daquela aparência. A ruiva entrou como uma ventania, sem cumprimentar, e fechou-se no banheiro.

Silenciosamente, Lila segurou a maior gargalhada. Graças a Durina, a atrizete estava no maior sufoco. O ímpeto de falar a verdade, ou seja, de encher Enrique de desaforos, era quase maior do que sua força de vontade. Quase.

Com um relancear de olhos, Lila constatou que a equipe não estava particularmente escandalizada por alguma informação nova e extraordinária. Ótimo. Eles não haviam lavado a roupa suja no helicóptero.

– Decolem assim que receberem liberação da torre – determinou Enrique aos pilotos, rude. Entrou em seus aposentos privados, com a aeromoça um passo atrás. Ela fechou a porta.

Do lado de fora, a equipe se entreolhou, não arriscando uma palavra. Já haviam aprendido que Enrique tinha ouvidos em todo o avião. Mas, através de olhares, concordaram: o chefinho tinha chegado cheio de fúria e moral, e dado de cara com uma sogra que não se impressionava minimamente com ele. Bem feito!

– Gostaria de uma bebida, doutor Morales? – perguntou Lila.

– Sim. Não. – Ele arrancou o paletó e atirou-o sobre a cama. Indicou a porta com o queixo. – Assim que ela sair de lá, deixe-nos a sós. Melhor. Saia agora!

– Perfeitamente, doutor.

As quase imperceptíveis brisas prateadas o alcançaram, fazendo-o dar as costas à moça após a ordem. Enrique ouviu uma porta abrir e fechar; quando se voltou, estava sozinho. Não percebeu que Lila não havia saído, mas entrado no pequeno hall interno.

O jato começou a taxiar pela pista e Lila recuou para dentro do depósito. Instantes depois, Enrique batia na porta do banheiro.

– Saia logo daí. Vamos decolar.

A sensibilidade da Rainha de Senira informava que a ruiva estava se contendo para não bater a cabeça nas paredes, sem entender o que acontecia consigo mesma. Não podia brigar com ele. Estragaria toda sua estratégia.

– Claro. – Ela não conseguiu dizer o habitual claro, meu amor/querido/paixão. A língua não a obedecia. A garganta estava trancada. – Já vou sair.

Quando a ruiva chegou ao aposento principal, Enrique estava sentado em uma poltrona, com o cinto afivelado. Olhava para fora, sem dar qualquer atenção à acompanhante.

Ela sabia que devia sentar na poltrona ao lado e ser simpática, mas simplesmente não conseguiu. Escolheu outra poltrona, na outra extremidade do aposento. O tec do cinto fechando fez Enrique se voltar, avaliando a moça. A ruiva encarou-o.

– Podia ser minimamente gentil quando fala comigo, Enrique.

Ele olhou de novo pela janela.

– Não tenho paciência com crises histéricas.

– Você não gostaria de me ver histérica. – As palavras saltaram antes de conseguir contê-las. Do ponto de vista de estratégia, estavam totalmente erradas. Mas faziam bem. – O que vai fazer a respeito da tal de Lila, a prima de sua ex? E do marido dela?

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora