111. OUTRO ANO

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Outro capítulo sem emoções fenomenais.

Não, eu não estou enrolando vocês.

Estes anos precisam passar assim mesmo, meio voando,

só pinçando o mais importante aqui e ali!

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OUTRO ANO se passou.

Parecia impossível que as cúpulas pudessem crescer tão depressa, todas ao mesmo tempo. Em um ano, as quatro iniciavam a colocação da cobertura. Mas estavam localizadas em locais... inesperados.

Se qualquer outra pessoa construísse uma cúpula submersa e depois decidisse construir outras quatro, seria de se esperar que elas fossem posicionadas de forma lógica: em fila, em círculo, em pontos equidistantes. As cúpulas do doutor Reis, no entanto, formavam um triângulo irregular em torno da primeira cúpula. A segunda e a terceira cúpula ficavam tão próximas que, no começo, todos pensaram que seria uma cúpula só, muito maior do que as demais. A quinta cúpula estava sendo estabelecida sobre um enorme e irregular aglomerado de rochas, fazendo todos se perguntarem o motivo de o homem ter escolhido um lugar tão complicado para construir. A quarta cúpula era a mais afastada, construída a uma distância definitivamente sem sentido.

Ao lado de seu filho Joseph, agora com quatro anos e meio, o doutor Reis observava as paredes noturnas da Cúpula 1. Com a luz do dia desligada, as paredes da cúpula se tornavam transparentes, permitindo ver o mar, lá fora. O exterior da cúpula, no entanto, continuava parecendo uma bolha negra, apesar da farta iluminação em seu interior. As fábricas funcionavam dia e noite, sem parar.

Nas quatro cúpulas em construção, o trabalho também era incessante. As equipes tinham ordens de se manterem sob o um terço de cobertura já instalada em cada cúpula; assim, não seriam vistos por um eventual avião ou satélite superficiano. Mas, observado da lateral, o movimento dos trabalhadores se assemelhava a um intricando balé de luzes.

O ponto que pai e filho observavam era a Cúpula 5, a esquisita cúpula assentada sobre o aglomerado de rochas. Com a visão aguçada de guardiões – o atual e o futuro – podiam ver cada detalhe das luzes, avaliando o progresso das equipes.

– Sua escolha para o posicionamento desta cúpula foi inesperada, mas perfeita. – O doutor Reis olhou com orgulho o garoto ao seu lado. O Império inteiro pensava que a localização das cúpulas era aleatória; o menino Reis, no entanto, demorara apenas uma semana a identificar os motivos de seu pai.

– O que o Imperador queria, pai?

– O que ele queria, filho?

Na tarde daquele dia, Jamion de Relana viera para a Cúpula 1, fazendo questão de uma conversa a sós com o doutor Reis. Saíra visivelmente aborrecido da conversa.

– Uma cúpula só para ele.

– Exato. – O homem retornou o olhar para o mar, agora concentrando-se na Cúpula 4, a mais distante. Desde que, há uma semana, diversas equipes do turno da noite haviam sido sumariamente dispensadas por excesso de conversa e falta de produtividade, os trabalhos seguiam com rapidez. A qualidade das informações que o doutor Reis apresentara sobre o comportamento das equipes demitidas falava de câmeras muito bem escondidas, que os trabalhadores, por mais que se esforçassem, não conseguiram localizar. Jamais imaginariam que as câmeras eram os olhos dos Reis.

– Ele não vai desistir de ter uma cúpula só para ele.

– Ele não vai ter uma dessas. Não aqui.

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now