14. UMA BESTA HUMANA DESOCUPADA

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NA NOITE DE SEGUNDA para terça, Sarah dormiu no apartamento de Anabel enquanto o alojamento feminino aguentava gritaria e pesadelos. Na manhã de terça, Sarah nem precisou perguntar como tinha sido a noite. Bastava olhar as colegas cansadas, irritadas ou simplesmente dormindo em aula. Sarah concluiu que era realmente uma princesinha muito má, e que aquela gente era muito lenta. Três noites com dezenas de alunas sem conseguir dormir, e ninguém tinha pensado em transferir as gritonas para a enfermaria?

Sarah estava almoçando com Anabel e seu séquito quando o alarme anti-Rafael apitou freneticamente. Nada disposta a falar com ele no refeitório cheio de gente, Sarah saiu tão depressa que as garotas ficaram se olhando, perplexas. No final das aulas da tarde, Sarah foi ao seu quarto, pegou algumas roupas para mais uma noite fora e foi encontrar Anabel. Estava com ela quando pressentiu Rafael se aproximando e arrastou Anabel para um canto de parede. Rafael passou reto. O episódio se repetiu quando as duas estavam saindo do campus.

A essa altura, Anabel estava olhando a nova amiga cheia de divertimento.

– O que é isso? Você colocou algum tipo de bip nele, pra saber quando ele está perto?

– Considere radar para encrencas bem desenvolvido e excelente visão periférica!

– As garotas falaram que tentavam pegar você com aquelas brincadeiras sem graça e você sempre escapava, mas achei que elas estavam exagerando!

– Elas nem me deram trabalho, são só amadoras. Ok, ele não está por perto. Podemos ir!

Anabel concordou, e saíram do campus. Lá atrás, Rafael estava enlouquecido à procura do seu amor desaparecido.

– Por que faz tanta questão de não falar com Rafa?

– Um, porque não tenho nada pra falar. Dois, porque não falo com gente que bebe e faz o fiasco que ele fez. Três, porque ele precisa se convencer que não quero nada com ele!

– Conhecendo Rafa como conheço, é mais fácil você convencê-lo falando com ele do que fugindo dele.

– A coisa do desafio?

– Exato.

– Mas que cara de cérebro mais torto!

* * *

AS LENTAS PESSOAS do campus finalmente compreenderam que era melhor retirar as alunas afetadas por pesadelos de dentro do alojamento e transferiram-nas para a enfermaria. As alunas receberam medicação para dormir depois da primeira crise de gritos, o que manteve a enfermaria em paz durante uma parte da noite. Os pesadelos recomeçaram de madrugada. O pânico de Lu foi tão grande que um enfermeiro acabou de olho roxo e o caso delas passou a ser tratado como assunto médico, não chilique feminino.

No alojamento, as alunas dormiram em paz e acordaram bem mais descansadas.

Na enfermaria, os médicos não sabiam o que fazer com os pesadelos que não paravam.

No laboratório de Engenharia de Espaço, Enrique e o doutor Janson seguiram espantando a todos.

E, no campus inteiro, Rafael procurou Sarah. Os colegas indicavam onde ela estava, mas, quando ele chegava, ela não estava mais. Aconteceu uma vez. E outra. E mais outra. Foram quarto, só no intervalo do meio-dia. O rapaz, exasperado com aquela brincadeira de gato e rato, xingou os amigos e mandou todo mundo longe. Não interessava se Sarah não queria falar com ele. Ele queria falar com ela. Ele queria se explicar, tentar de novo, conseguir mais uma chance!

– Cara, isso não é gostar de uma garota! Isso é doença!

– Some da minha frente! Eu vou fazer o que sei que é certo!

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now