17. A CAMPINA

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SARAH PASSEOU sem pressa pela campina deserta. O céu estava lindo e muito azul, mas o vento frio assobiava com força... Ela se aconchegou no casaco, seus olhos de fotógrafa registrando a cor de umas poucas flores sobressaindo na relva muito verde, pássaros, sombras, contrastes.

Logo os olhos deixaram de ser de fotógrafa e se tornaram olhos de princesa... Olhos que choravam em silêncio, pois Sarah sabia que estava falhando numa missão crucial. Andou mais um pouco, mas as lágrimas eram tantas que começavam a atrapalhar. Sentou numa suave rampa coberta de plantas rasteiras, abraçou os joelhos e chorou, chorou, chorou. Chorou de aflição por estar fracassando, chorou de remorso pelo tempo perdido, chorou por sua gente, por sua Linhagem, por seu Palácio... Chorou pelo Olho do Feiticeiro, que tinha confiado nela. Gostaria de poder dizer que tinha feito seu melhor, mas sabia que não era verdade. Podia ter se esforçado muito mais! E agora... Só mais trinta dias! Como conseguiria em trinta dias o resultado que não obtivera em mais de três meses?!

As lágrimas afinal pararam, talvez por terem acabado. Sarah secou o rosto e continuou ali sentada, só deixando o tempo passar. Não se sentia calma. Se sentia vazia.

Foi então que percebeu a aproximação de Rafael. E notou que se sentia vazia de vontade de brigar, também. Talvez fosse um bom momento para convencê-lo de que toda aquela perseguição era inútil. Ao menos seria uma conversa - ou discussão - sem testemunhas.

Sentiu o momento em que ele a viu e suspirou quando ele fez a volta por trás, para chegar por suas costas. O vento trouxe o cheiro inconfundível de álcool.

- Ah, beleza! - murmurou a garota. - De onde você tirou a ideia de que ele ia chegar sóbrio, Sarah?! E lá se vai a conversa civilizada...

Levantou e voltou-se, encarando o rapaz. Ele estava a apenas três metros e venceu-os em dois passos, agarrando Sarah pelos braços, logo abaixo dos ombros.

- Chega de fugir!

Sarah torceu o nariz diante do bafo e retrucou:

- Se eu quisesse fugir, já tinha fugido. Senti seu cheiro de longe. E me solte. Não gosto que me agarrem assim!

- Eu não vou soltar! - Rafael apertou os braços de Sarah contra o corpo da garota, prensando-os tanto que ela não podia se mexer. Se estivesse raciocinando, perceberia que estava usando força excessiva, que qualquer garota já estaria se debatendo em suas mãos e lutando para escapar, e que aquela ali tinha deixado de ser suave e fofinha, transformando-se de repente em aço. - Eu não vou soltar até você dizer que é minha! Até você SER minha!

- Rafael, me largue. Agora!

A ordem era da Linhagem, mas o cérebro dele estava entorpecido demais para entender o perigo. Com um sorriso de vitória, seguro de seu tamanho e força, Rafael ergueu Sarah do chão, segurando-a presa entre suas mãos.

Sarah não acreditou no atrevimento e, com o rosto agora quase na altura do dele, foi bafejada em cheio mais uma vez:

- Eu te amo e você é minha. Só minha!

O tal vazio dentro de Sarah já tinha enchido de raiva, indignação e poder. Entredentes, quase rosnando, olhos chispando numa ameaça furiosa, ela repetiu:

- Me largue. JÁ!

A intensidade da ameaça bateu em algum lugar do cérebro dele, enquanto Sarah fechava os punhos e enrijecia as pernas, pronta para lutar. Infelizmente, a ameaça não bateu com força suficiente. Ele sorriu mais uma vez.

- Me dá um beijinho, minha linda!

Era tão absurdo que Sarah demorou um instante para decidir onde ia golpear primeiro.

Olho do Feiticeiroحيث تعيش القصص. اكتشف الآن