NA MANHÃ SEGUINTE, Bel estranhou quando Clara, Trovão e Neco não apareceram.
– Já são dez horas. Será que aconteceu alguma coisa?
– Você perdeu a fofoca, só isso – disse Sarah. – Que, aliás, não era da conta de nenhum de nós. Provavelmente passaram a noite toda conversando, coisa que, aliás, deviam ter feito há mais de dois anos.
Rafa concordou que era uma boa possibilidade, e o sapateado impaciente de Bel mudou de preocupação para curiosidade.
Meia hora mais tarde, no entanto, ela esqueceu dos amigos porque seu pai finalmente saiu do quarto. Estava pálido, abatido, triste.
– Sei que não deveria ser sua programação para hoje, querida, mas gostaria de visitar o túmulo de sua mãe. Vem comigo?
– Mas, mas... claro, pai. Claro que vou. O senhor tem que comer alguma coisa antes.
– Não tenho fome.
– Tudo bem, eu entendo, mas está se alimentando muito mal. Sente. Vou fazer um chá e, depois que o senhor tomar, nós vamos. Quer biscoitos ou torradas?
Ele não queria nenhum dos dois, mas a insistência da filha o fez comer dois biscoitos com a xícara de chá. Rafa aproveitou esses minutos para falar com Sarah, que garantiu não haver o menor problema em ficar sozinha.
– Eles vão precisar de você, Rafa. E, quando os outros chegarem ou telefonarem, eu explico onde foram.
– Certo, está bem, ótimo, assim não se preocupam. Obrigado, Sarah.
Eles saíram e, pouco depois, Clara ligou. Como Sarah supusera, o casal e Neco haviam conversado sem ver a noite passar. Tinham dormido até aquela hora e pretendiam almoçar juntos, na casa de Bel.
– Mas acho melhor dar um tempo a eles, Sarah, não vão voltar bem dessa... visita. Vamos almoçar por aqui. Tem como anotar nosso número? Ligue e avise quando e se pudermos ir, está bem?
Rafa, Bel e seu pai voltaram só à uma e meia da tarde. O homem foi direto para o quarto que havia partilhado com a esposa durante anos, avisando que não iria almoçar. Parecia ainda mais triste do que antes de sair. Bel tinha visivelmente chorado, e Rafa estava muito preocupado.
– Você não almoçou, não é, Sarah? Rafa, peça alguma coisa pra gente comer. Eu vou... lavar o rosto e já volto.
Rafa esperou a esposa fechar a porta do quarto para dizer, aflito:
– Bel precisou quase arrastá-lo de volta. Por ele, ainda estaria sentado lá, sem se mexer, olhando aquela lápide.
– Calma, Rafa. É muito recente.
– Não estou gostando disso. Bom, vou pedir a comida. O que acha de uma lasanha, pra variar? Bel gosta.
Sarah concordou e Rafa foi para o telefone.
Sozinha, Sarah olhou o corredor silencioso. De um lado, a porta fechada do quarto de Bel e Rafa. Quase em frente a ela, a porta fechada do quarto do pai. Parecia haver uma nuvem negra naquela porta. Rafa estava certo, havia algo no pai de Bel que preocupava. Muito.
Do fundo do coração, a princesa de Durina desejou que fosse apenas impressão.
***
OS AMIGOS VIERAM apenas na metade da tarde, quando Sarah deu o ok telefônico. Mais uma vez, instalaram-se na cozinha, dessa vez para falar do inexplicável surto de energia. Depois de quatro dias, as teorias se multiplicavam pela Terra inteira, mas o grupo foi unânime ao concordar que nenhuma delas entusiasmava. As teorias vindas das estações espaciais não eram nada melhores.
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Olho do Feiticeiro
FantasyJá há dias o brilho e as cores do Talismã se intensificavam. Rei, rainha e princesa se revezavam na vigilância até que, depois de seis longos anos de silêncio, o Talismã abriu-se ao contato. O Rei chamou a esposa e a filha; assim, os três integrante...