Olho do Feiticeiro

47. PRONTOS PARA PARTIR

O GRUPO de cinquenta imperiais aguardava Enrique e Sarah no platô. O acampamento estava desmontado, não havia qualquer rastro da passagem deles pela ilha. Estavam prontos para partir. Falavam em uma língua desconhecida, mas pararam quando Sarah e Enrique chegaram.

– Esse é o nosso idioma falado – apresentou Sarah. – Na água, usamos tanto os estalidos quanto uma linguagem de sinais. Também somos telepatas – Enrique olhou-a cheio de espanto –, mas a boa educação manda não usarmos telepatia quando podemos falar, se há um não-telepata no grupo. Todos que estão aqui fazem parte da guarda da Linhagem, o que quer dizer que conhecem o idioma e os costumes da superfície. Quando estiverem com você, vão falar a sua língua. Quando estivermos no Palácio, Durina vai traduzir para você tudo o que for dito. A guarda foi dispensada por meu pai de títulos para a Linhagem, o que economiza uma boa quantidade de altezas e majestades. Você está incluído nisso, mas, se quiser, pode determinar exceções pessoais.

Enrique não entendeu, Sarah explicou:

– Se quiser que alguém chame você de alteza, é só avisar. Está pronto para partir?

– Só uma coisa, antes... Não que eu seja admirador daquele encrenqueiro, mas Rafael não vai ser acusado do nosso assassinato, não é?

– Não. – Sarah sorriu, enquanto o grupo silenciosamente aprovava a preocupação do futuro Rei. – Mudei a mente de todos naquele iate. Rafael não vai ser acusado de nada, além de ser um mala. Depois conto os detalhes. Pronto?

O Mar de Areia ficava um bocado longe e não havia nada parecido com um barco ou um avião naquela ilha. Perguntando-se o que iria acontecer agora, Enrique respondeu que sim, estava pronto.

– Pai, o primeiro grupo pode ir.

A um sinal do Rei, cinco guerreiros retiraram as espadas da bainha e se dirigiram para uma área plana.

– O primeiro grupo vai sempre com as armas na mão, para verificar a segurança.

Houve um súbito flash azul, e os cinco desapareceram. Enrique recuou um passo, estupefato. Sarah passou o braço pelo dele, numa série de tecs e plancs.

– Isso se chama transporte mental, Enrique. Com o apoio do Palácio e de Artefatos como o meu cristal azul, pode nos levar a quase todos os pontos da Terra. O cristal está ali no meio da área de transporte, está vendo? – Enrique viu o cristal de Sarah brilhar mais uma vez, e outros cinco guerreiros de armas prontas sumiram. – O cristal serve como direcionador em uma ponta do transporte. O Palácio é a outra ponta. Nós poderíamos ir direto para dentro de Durina, mas você não pode. Na primeira vez em que se vai a um Palácio, sempre se entra por acesso físico. Então, todos nós vamos entrar pelo Mar de Areia.

Outro clarão, mais cinco se foram.

– Com quem vocês estão em guerra, Sarah? – Enrique olhou cinco jovens de sua idade desembainhando as espadas e indo para a área de transporte.

– Lembra o que eu disse sobre a última previsão colorida do Olho do Feiticeiro?

– Você falou de um perigo tão grande que todos os reinos esqueceram suas diferenças e se uniram pra sobreviver.

– Exato. Isso – Sarah indicou os guerreiros que ainda estavam lá – faz parte da nossa História desde sempre, Enrique. Nunca houve paz no Império. Quando o Olho do Feiticeiro previu um perigo tão grande que ameaçaria todos nós, alguns reinos riram de Durina. Diversos outros, nos acusaram de estar planejando alguma grande jogada para usurpar o poder dos Imperadores. Entenda, foram milênios de guerras a troco de tudo e de nada. Cada reino tinha seus exércitos, que eram gigantescos. Cada um tinha guerreiros treinados até o limite de suas habilidades físicas e mentais. O Império vivia em paz armada, onde ninguém se atrevia a atacar o vizinho para não desencadear uma guerra generalizada. Foi nesse ambiente que o Olho do Feiticeiro previu que teríamos que nos unir para sobreviver, e foi por isso que ninguém acreditou em nós. Se eu estivesse no lugar deles, não acreditaria também. Para você ter ideia de como isso era estranho para a época, até mesmo em Durina houve discussões sobre a correção da previsão. O Olho do Feiticeiro não fazia uma previsão colorida há milênios. A maior parte de nossa gente já havia esquecido que essas previsões existiam.