77. PREVISÃO COLORIDA

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DESTRUIÇÃO DE TODO O IMPÉRIO?! Eles esperavam por muita coisa, mas não por isto! Enrique devia estar errado. Devia ter entendido mal!

– Calma – disse o Lorde, repetindo a instrução de Sarah. – Seja o que for, não vai acontecer nos próximos dez minutos. Fique deitado, respire fundo, espere sua mente clarear.

Enrique hesitou um instante... Não. Não ia acontecer nos próximos dez minutos. Não ia acontecer nem mesmo nos próximos dez anos. Mas, quando acontecesse, seria catastrófico.

Ficou deitado, percebendo uma inédita e discreta pressão em sua mente. O que era aquilo?

Durina, identificou-se o Palácio, estabelecendo o primeiro contato direto com a mente de seu novo príncipe. Não haverá maior contato até o príncipe estabelecer suas recordações sobre a previsão.

Sarah estendeu um copo d'água e Enrique apoiou-se no cotovelo, erguendo-se um pouco para beber. A água desceu bem por sua garganta ressequida.

– Durina estava fazendo contato com você? – perguntou Sarah, em dúvida se o que percebera tinha sido mesmo contato do Palácio. Enrique assentiu. – O que o Palácio disse?

– Que o contato vai ser restrito até eu estabelecer minhas recordações sobre a previsão – respondeu Enrique, a voz ainda muito rouca. – Tipo, nada de interferência até eu ter certeza do que lembro.

Com movimentos lentos e apoiado por Sarah, ele sentou e recebeu mais água, que bebeu com avidez. A sede era enorme, mas se sentia mais recuperado a cada instante. Olhou com alguma surpresa os natils em seus braços, olhou Sarah com muito carinho...

– ... Desculpe... Nem tive tempo de avisar o que precisava fazer. Está... tudo bem aqui?

E olhou em torno, desconfiado.

– Depois falamos sobre o que aconteceu aqui – respondeu a jovem, esforçando-se por não pensar em todos os mortos, entre eles seus avós. – Durina tem razão, você não pode ser distraído com outras coisas. A previsão é mais importante, mas você precisa tomar um fôlego antes. Está com fome? Quer... tomar um banho, trocar de roupas, talvez?

– Não. – Ele bebeu mais água, sentindo a voz voltar. – Quero me livrar disto o mais depressa possível.

– Livrar?

– Sei que tudo que a previsão conseguiu transmitir está só comigo e não gosto disto. – Enrique pigarreou, terminando de limpar a garganta. A voz veio firme, agora. – O Palácio não pode pegar as recordações direto da minha cabeça? Eu não vou conseguir explicar.

– Com sua permissão, ele pode, mas não se atreve – respondeu a Rainha. – A única interpretação presente era a sua e o Palácio teme influenciá-la. Fale, quando se sentir pronto.

– Já disse, não vou conseguir explicar. Era... complexo demais por um lado, e confuso demais por outro. – Voltou-se para Sarah. – Como se projetassem filmes uns por cima dos outros, todos na mesma tela... De vez em quando eu via partes de um, borradas pelos outros. Depois, via parte de outro, e de outro, e assim por diante... Eram... flashes de imagens claras no meio de um... caos. Um caos bem desagradável. As previsões são sempre assim?

– Cada uma é diferente, mas, até agora, sempre foram bastante claras – admirou-se Sarah.

– Talvez esta estivesse ferida demais para se comportar como as outras. – O rapaz suspirou e, ao mover a mão, tocou o Olho do Feiticeiro, que estivera ao seu lado o tempo todo. Com um gesto natural, segurou o brilhante globo azul na palma, sem saber que príncipes só conseguiam fazer aquilo depois de meses na Linhagem.

Olho do FeiticeiroDonde viven las historias. Descúbrelo ahora