44. REALIDADE E ILUSÃO

330 36 0
                                    

SARAH EMERGIU, expulsou a água dos pulmões para o ar entrar e subiu até a amurada. Secou-se num rápido clarão e pulou para bordo.

– Espere do lado de fora da amurada, Liara. Não tem perigo aqui!

– Uau, ele é mesmo impressionante! – Debruçada na amurada, Liara olhava Rafael, dormindo ali bem perto. – Posso levar pra mim?!

– Não me distraia! – riu-se Sarah, que não podia estar mais feliz. O comportamento de Enrique fora exemplar!

A princesa de Durina deixou Liara contemplando Rafael e concentrou-se nas sugestões a implantar. O contato com o Lorde de Moolna fornecera as poucas informações que faltavam, entre elas o nome do pequeno iate onde Sarah e Enrique teoricamente passariam os próximos dez dias: Onda Verde. E, seguindo as instruções do Lorde, o Onda Verde estava no mar há várias horas.

Sarah começou pelo capitão, perguntando se ele conhecia o Onda Verde e sua tripulação. Sim, conhecia. Todos se conheciam. Sarah sorriu. Perfeito!

Com frases simples e claras, Sarah de Durina remodelou, na mente do homem, todos os acontecimentos da noite.

– Vai acordar quando eu estalar os dedos, capitão Gomez.

Olhos vazios, ele apenas concordou.

Sarah desceu para as cabines e repetiu o processo, com cuidado especial em apagar da mente de Anne-Marie qualquer recordação do tempo passado sob a mira da arma. Presos nas cabines, os jovens se lembrariam de ter passado o tempo namorando; os tripulantes, de tentar sem sucesso destrancar a porta. Acordariam ao ouvir um assobio.

Rafael foi o último.

Sarah ajoelhou-se ao lado dele, mandou-o sentar e fez as perguntas que faltavam:

– A quem você ama, Rafael?

– Anabel. – Ele respondeu sem hesitar. – Sempre Anabel.

– Se não me ama, por que se sentiu tão atraído por mim?

– Você tem brilho próprio.

Sarah suspirou. Ok, era o que faltava. O mastodonte era sensitivo também, e tinha respondido exatamente como Anabel! Repetiu a pergunta feita a Anabel:

– Defina o brilho próprio.

– É algo que faz parte de você, mas vai além de você.

De novo, quase as palavras de Anabel! Aqueles dois briguentos eram um par tão ajustado e respondiam tão igual que devia haver até algum tipo de contato mental entre eles.

A princesa suspirou mais uma vez. Sensitivos sentiam mais, eram mais afetados pelas sugestões e ilusões. Precisaria deixar o castigo um pouco mais leve.

Mas não muito.

A jovem reorganizou meticulosamente cada detalhe da sugestão e começou.

Item número um, avisar àquele idiota supervitaminado que Anabel o amava e que poderia se tornar o seu principal apoio, nos dias que viriam. Era só ele permitir.

Item número dois, não mexer na memória de Rafael. Através de seu filtro pessoal de bebida e medicação, ele lembraria tudo o que tinha feito a bordo, e Sarah certificou-se de que ele não esqueceria nada importante: as ameaças com a arma, o choro de Anne-Marie, Sarah prendendo a todos por ordem sua. Rafael recordaria muito bem de Sarah e Enrique afundando, e de sua intenção de puxá-los de volta em dez minutos. Mas havia adormecido.

Então iniciava a ilusão, perfeitamente entrelaçada com a realidade: quando a âncora fosse içada, Rafael encontraria Sarah e Enrique mortos, afogados por sua culpa. Seria capaz de vê-los, cheirá-los, tocá-los. Os cadáveres de Sarah e Enrique seriam reais aos seus sentidos até a primeira vez em que fosse dormir. Ao acordar, a ilusão estaria desfeita.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora