36. A JANTA

387 35 4
                                    

ENRIQUE ESTACIONOU diante do endereço dado por Neco. Era um prédio elegante, cercado por jardins e com um porteiro de dois metros tomando conta da entrada. O rapaz se identificou, o porteiro fez contato com o apartamento da senhorita Anabel e Enrique recebeu permissão para subir. Não precisou nem bater; Sarah abriu direto.

– Boa noite. Entre. Aconteceu alguma coisa?

A voz baixa dela fez Enrique responder da mesma forma:

– Eu é que pergunto, Sarah! O que você está fazendo aqui?!

– Enrique, boa noite.

– Sarah, boa noite! Escuta, eu já estou bem castigado por causa da minha língua solta, ok?! Vem pra casa e vamos conversar! E por que estamos cochichando?!

– O mundo não gira em torno dos seus problemas. – A voz de Sarah continuou baixa. – E nós estamos cochichando porque Anabel já está bem ruim sem nos ouvir discutindo! Espere aqui.

– Mas...!

Sarah apontou o chão bem nos pés de Enrique e ele se conformou em ficar parado, olhando a sala de Anabel. Sarah foi até um pequeno corredor, bateu numa porta fechada e entrou em seguida. Depois de uns minutos, reapareceu e fez sinal para Enrique se aproximar. Ele atendeu, Sarah olhou-o numa advertência severa e abriu a porta, deixando-o entrar no quarto de Anabel.

– Como eu disse, Anabel, Enrique ficou muito preocupado com você depois que Donasô disse que a visita a Rafael não correu bem.

Enrique ficou pasmo. Anabel estava irreconhecível! Sem maquiagem, olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, a garota era a imagem da tristeza e desespero. As roupas eram das da manhã, mas agora pareciam desleixadas, esquisitas. Até a fantástica cabeleira loura estava opaca, como se o estado de espírito de Anabel tivesse apagado todo o brilho de sua personalidade.

– Mocreia...! – murmurou o rapaz, sentando na cama ao lado dela e abraçando-a. – Não se deve dizer isso a uma garota, mas você está horrível!

Anabel conseguiu dar uma risadinha, sussurrou um que bom que você veio e desatou a chorar abraçada a Enrique. Ele olhou desamparado para Sarah que, com um olhar, mandou continuar bem ali. Anabel precisava de abraços.

A choradeira afinal amainou e Enrique secou o rosto da mocreia com a ponta do lençol, alegando que lenço algum teria tamanho suficiente. Anabel riu mais um pouquinho e Sarah interferiu:

– Certo, Anabel, agora você tem um visitante masculino e sua tradição de elegância exige que você se apresente condignamente. Vá tomar aquele banho que eu tinha falado antes, vai se sentir melhor. Enrique, você precisa voltar ao laboratório?

– Se já não tivesse mandado todos eles pro inferno, mandava agora!

– Então vai ser o encarregado de buscar a nossa janta. Anabel, banho. Enrique, carro.

– Ela é sempre mandona assim, é? – Anabel secou mais umas lágrimas, dessa vez concordando com o banho.

– Só com as pessoas que eu gosto – assegurou Sarah.

Enrique ia dizer alguma coisa, Sarah calou-o com um olhar, Anabel percebeu e riu.

– Que eficiência! O que ele ia dizer?

– Besteira. Vá para o banho. Enrique e eu vamos conversar na sala. Vinho ou espumante?

– Você sabe mesmo consertar amigas que estão mal. – Anabel sorriu, as lágrimas voltando a escorrer. – Espumante.

– Vamos, Enrique.

Sarah fechou a porta que separava a sala do corredor, isolando Anabel do lado de lá.

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now