139. RAFA

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SARAH FIZERA CONTATO com Carl e Lila separadamente, embora de modo simultâneo. Não sabia que Carl estava em Senira e, após uma rápida troca de olhares, o Lorde e a Rainha concordaram que era melhor continuar assim. Ninguém precisava saber que Senira e Moolna estavam se entendendo tão bem.

– Seu pessoal não está com ele? – Lila perguntou a Carl, mantendo a conversa mental com Sarah afastada da conversa verbal.

– Deveriam estar. Não respondem ao contato.

Após um palavrão pouco adequado a uma Rainha, Lila falou em voz alta para Carl e mentalmente para Sarah:

– De onde veio o aviso, Sarah?

(– Hospital Geral da cidade de Duas Cachoeiras. Bel é criale, Lila.)

– Eu sei. Vou fazer o que puder por Rafa. Nos encontramos lá!

Cortou o contato com a prima.

– Consiga pra mim a melhor localização que puder, Carl. Se Rafa ainda estiver vivo, vou providenciar pra que ele continue assim.

Transportou-se para seu quarto, mudou para roupas superficianas em velocidade de redimensionamento e voltou instantes depois para junto do Lorde de Moolna. A expressão dele estava impassível.

– Aconteceu algo a meu pessoal. Não respondem. – Fez contato mental com Lila e passou coordenadas. – Estacionamento do Hospital de Duas Cachoeiras. Talvez seja vista. Deseja escalas?

Era um transporte quase excessivamente longo para ser feito de uma vez só, considerando-se que não havia referencial ou marcador de chegada, apenas coordenadas.

Não sabem se vai resistir costuma significar muito pouco tempo, isso se não for conversa macia pra alguém que já chegou morto. Qualquer instante conta. Senira, transporte!

***

SURGIR EM LOCAL desconhecido sem referencial (uma mente para servir de guia) ou marcador (um cristal do Palácio para fazer o mesmo) era mentalmente desgastante, e arriscado de diversas formas. Problema número um, mesmo com o Palácio intermediando o transporte, a norma era chegar estonteado, muitas vezes quase inconsciente. Problema número dois, sem saber exatamente onde iria chegar, era necessário se transportar para pelo menos dois metros acima do chão, o que levava a uma queda sabia-se lá em cima do quê. Problema número três, não havia discrição alguma.

Ou seja, mesmo sendo um Rei de Linhagem, o mental podia surgir semiconsciente, com um belo clarão de transporte, dois metros acima de um time de futebol.

Mas Senira tinha diversas habilidades que mantinha em segredo.

Eram transportadores extraordinários que só tonteavam na saída de transportes extraordinários. Meia Terra com intermediação do Palácio não era extraordinário. Quando precisavam se transportar para o alto em terrenos desconhecidos, não caíam. Os ventos os levavam suavemente até o chão. E, embora o Palácio fosse capaz de transportar quase sem clarão ou sinalização, em circunstâncias como aquela a opção não era por discrição, bem ao contrário. Senira gerava o maior clarão possível, uma pequena explosão de luz sem som, cegando momentaneamente qualquer testemunha.

Lila caiu maciamente, quase sem barulho, no capô de um automóvel estacionado, enquanto todos protegiam os olhos do inesperado clarão. Antes que piscassem duas vezes, a Rainha já estava rumo ao prédio principal do hospital.

Dezenove anos, miúda, com uma linda cara de boneca e o fascínio de Senira transpirando por cada poro, Lila não tinha como passar despercebida. Sufocou o máximo de Senira que conseguiu, o rosto mudou para outro mais comum e mais velho, e os ventos rodearam suas mãos com delicadeza.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora