56. REI VERMELHO

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JAMION DE RELANA estava de volta ao escudo, ensandecido de fúria. Atacava com a espada, com disparos mentais, enfrentava as descargas verdes que o repeliam uma vez depois da outra. Chamou sua guarda, toda ela, e ordenou atacarem a maldita barreira até destruí-la!

A guarda obedeceu.

E Senira aguentou.

Os relâmpagos verdes pertenciam ao Rei, que lutava para afastar os ataques físicos e mentais do escudo gerado por sua Rainha. Cada golpe que alcançava o escudo feria a mente dela e, quando os ferimentos mentais eram graves demais, refletiam-se no físico. Mesmo sem ter sido tocada por arma alguma, havia sangue escorrendo pela armadura prateada e se juntando aos pés da mulher.

Carl de Moolna estava ferido, com o braço direito fora de ação e a mente desgastada devido a constantes defesas e ataques. Só alguém tão treinado quanto um Lorde de Moolna tinha condições de resistir por tanto tempo à ferocidade da guarda imperial, mas ele sabia que não poderia resistir para sempre. Sua força mental era tremenda, mas não inesgotável. Sua velocidade com armas físicas era incomparável, mas chegaria o momento do cansaço. Sozinho, tinha causado mais baixas na guarda imperial do que todos os outros mentais do Salão reunidos. Mas a guarda era numerosa, e cada um que o Lorde de Moolna eliminava era prontamente substituído. Se nada acontecesse, seria vencido.

Mas algo aconteceu. A ordem do Imperador chamou a guarda para atacar o escudo de Senira. Levado pela fúria, o Imperador ignorou que uma parte importante de seus homens detinha o mais perigoso de todos os Lordes.

Poucos momentos de paz foram suficientes para o Lorde de Moolna reorganizar seu campo mental, recolher diversos punhais do chão e travar o braço direito da armadura. Assim, poderia usar o braço ferido como escudo. Seu pai tinha razão. Aquela era uma safra podre de Lordes e, quanto mais depressa fossem extirpados, melhor. Durante sua luta com a guarda, os dois Lordes remanescentes tinham ficado para trás, protegidos. Agora estavam de novo atrás da guarda, afastados do escudo. Desprotegidos.

Com a mão esquerda, arremessou certeiramente dois punhais de uma vez só. Os punhais acertaram juntos o pequeno espaço entre capacete e armadura, rasgando a garganta do Lorde Patriarca de Novonax. Mais dois punhais repetiram o estrago no principal oficial da guarda de Relana. O Lorde de Kotnahur desaparecera entre a guarda que, cumprindo as ordens do Imperador, concentrava seus golpes físicos e mentais no lendário escudo de Senira.

O Lorde de Moolna empunhou sua espada e retornou à luta, mas não sozinho. Os remanescentes da guarda de Durina se reuniram a ele e, juntos, atacaram as costas dos guerreiros imperiais, guardando o combate honrado para adversários que o merecessem. Alguns se voltaram para enfrentá-los; a maioria continuou cumprindo as ordens e atacando o escudo de ventos. Carl de Moolna esforçava-se para alcançar o Imperador. Não interessava se estava cansado, ferido, com as chances de sobreviver diminuídas. O Império não podia continuar nas mãos de uma desgraça como Jamion de Relana! Mas não conseguia. A própria batalha parecia conspirar para afastá-los!

Então, o Lorde de Moolna viu o Patriarca de Durina se aproximando do Imperador, indiferente à luta, golpes, disparos. Seus ferimentos eram incontáveis, graves demais, mas, mesmo assim, ele avançava. Estava morto e sabia disso, mas se recusava a cair. Sua última força, seu último golpe e seu último suspiro seriam para aquele simulacro de Imperador que deveria proteger os Reinos e as Linhagens, não destruí-los. O Patriarca lembrava a grandeza e a bondade dos pais daquele louco. E, com as mãos luzindo levemente em azul, avançava.

Três guardas protegiam a retaguarda do Imperador e pretenderam deter o Patriarca de Durina. Moolna estava longe demais para ajudar. Os olhos do Patriarca luziram em azul sinistro e dois deles caíram, desesperados e aos gritos, retorcendo-se no chão. O terceiro foi trespassado por uma espada sem luz empunhada por um guerreiro igualmente escuro, que se perdia na escuridão do Salão repleto de espectros em batalha. A proximidade da aura dourada do Imperador, no entanto, iluminou os natils metade dourados do guerreiro sem luz: era a Matriarca de Cerna, o pequeno Palácio de estudiosos. O golpe seguinte da espada escura foi para o pescoço do Imperador, mas o senso de perigo avisou-o a tempo e ele se voltou, detendo o ataque com o natil esquerdo. A espada dourada, vibrando de poder e fúria, decapitou a Matriarca de Cerna em um só golpe.

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