70. TRITÕES

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1.900 palavras é o tanto que a casa fornece hoje.

Tem uns capítulos que são menores. Fazer o que, né?

(Nada de ameaçar a escritora. Sem mim, não tem história, ashuashua!)

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UM PALÁCIO MORRENDO era triste e desesperador, e mais desesperador se tornava devido à impossibilidade de interferência. O Palácio agonizante reduzia o contato cada vez mais, fechando seus acessos da periferia para o centro, escurecendo e esvaziando progressivamente setor depois de setor. O último local a ser afetado era o Salão dos Tronos.

Um Palácio fingindo que estava morrendo era algo muito mais raro... E muito mais inexplicável! Apenas em memórias antiquíssimas do Império havia o relato de Palácios fingindo morrer. E todos estes Palácios, mais cedo ou mais tarde, haviam morrido realmente, sem que ninguém compreendesse porque aquilo que antes era fingimento se tornara verdade. Acontecera em Palácios pequenos e fracos, sem suas Linhagens.

Os Palácios de Crialelar eram gigantescos, e sua força, embora há muito não sentida, uma vez fora lenda nos oceanos. Há centenas de anos estavam na primeira fase de morte: cada vez mais acessos se fechavam, empurrando os criale em direção ao coração do Palácio. O contato entre Palácio, Linhagem e raça se tornava cada vez mais pobre.

Mas uma coisa não fazia sentido: todos os Palácios que morriam ou fingiam morrer tinham perdido suas Linhagens. Crialelar, no entanto, permanecera com suas quatro grandes Linhagens durante todo o tempo da decadência. Mesmo agora, em Triss de Criale (ou de Merine), Crialelar possuía uma herdeira direta.

Pelas mesmas centenas de anos, Senira monitorara Crialelar e seus Palácios, procurando algum sinal de esperança. Nada. A cada geração, a situação parecia se agravar. O surgimento do Talismã Quádruplo parecera uma esperança... Mas Senira observara que, apesar de todo o poder do Talismã e de toda a força que parecia brotar na raça, os Palácios não se comportavam da mesma forma. Acessos fechados não reabriram. O contato entre Palácios e suas Linhagens não se fortaleceu.

Algo estava errado. Muito errado!

Então, Denaro tinha vindo para dentro de Senira, trazendo consigo o Verde de Chor.

Então, Senira tivera certeza de que a morte de Crialelar era fingimento, pois o Verde de Chor surgira com a força e a vitalidade esperadas. Era o contato de um Palácio saudável – um Palácio saudável que fazia questão de parecer semimorto.

Os de Senira explicaram tudo isto a Denaro e Sulon. A Rainha completou, chocando os dois jovens:

– Ou, no caso, parecer realmente morto. Os Salões dos Tronos dos quatro Palácios de Crialelar estão lacrados. Agora, os Palácios recusam qualquer contato.

Todo o Império sabia do sequestro de Triss por Durin de Merine e do desaparecimento do Talismã Quádruplo, cujo roubo era atribuído a Durin de Merine. Igualmente, sabiam da chacina feita por Jamion de Relana em Crialelar. Os únicos integrantes das Linhagens Criale a escaparem com vida haviam sido Aroanor, o irmão mais velho de Triss, e sua companheira. Sem o Talismã Quádruplo, a mortandade fora terrível na cidadela, dizimando os criale. Mas, mesmo em meio a tanta tristeza, a jovem Rainha finalmente concebera. Havia um herdeiro a caminho. Havia esperança, mais uma vez. A criança, no entanto, nascera frágil e sobrevivera por pouco tempo. A Rainha morrera de tristeza logo depois do filho. E o seguinte a morrer, com apenas dezenove anos, fora Aroanor, o último Rei de Crialelar.

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now