35. SANGUE DE MOOLNA

366 38 4
                                    

SARAH FREQUENTOU com naturalidade as aulas da manhã. Esperou Anabel para o almoço, como sempre fazia. A amiga chegou muito impressionada.

– O que você fez com Enrique?! Ele não conseguiu terminar uma frase esta manhã, e muito menos um raciocínio!

– Não fiz um décimo do que gostaria e, por favor, vamos falar de outra coisa, ok?

As palavras pareciam normais, até meio doces... Mas havia tanta firmeza nos olhos azuis da lourinha que Anabel não arriscou uma palavra a mais sobre Enrique. Voltou ao laboratório bastante pensativa. Trovão agarrou-a pelo braço assim que passou pela porta e levou-a para a sala onde o doutor Janson estava com Enrique.

– Nosso gênio está numa agonia tremenda por notícias!

O rapaz levantou, ansioso, quando Anabel entrou.

– Como ela está, Anabel?! O que ela falou de mim?!

– Sarah está bem. Muito bem, de verdade. Cortou o assunto quando mencionei seu nome e foi bem interessante, porque era como se você nem existisse. Você falou alguma mega besteira, não falou?

A cara de Enrique respondia tudo, sem precisar de uma só palavra.

– Bom, parece que ela resolveu que você é invisível. E que ela não precisa se aborrecer com alguém invisível. Acho que, antes de tentar consertar sua mega besteira, vai precisar se tornar visível de novo. Como vai fazer isso?

Anabel saiu, deixando Enrique e o doutor Janson lá dentro.

***

SARAH TERMINOU as provas do dia e foi para seu quarto, no pavilhão-dormitório.

No laboratório, uma equipe de Energética avançada se agregava à equipe de Engenharia, num entra e sai intenso de gente. Enrique parecia um ioiô, virando cada vez que a porta abria. Anabel logo saturou daquilo.

– Não adianta ficar olhando a porta porque Sarah não vem. Se você gosta dela, melhor correr atrás!

Enrique oscilou, hesitando.

– Resolva logo o que é mais importante: conquistar o espaço ou reconquistar Sarah!

Ele saiu correndo. O laboratório inteiro olhou Anabel e ela deu de ombros:

– Do que adianta ele ficar aqui se a cabeça está com ela?

Sarah não estava no apartamento deles, não estava no apartamento de Donasô...

– Você piorou ainda mais as coisas, não foi?!

Enrique voltou para o campus, direto para o pavilhão-dormitório. Sim, a aluna Sarah Duran estava no pavilhão.

– Com a responsável pela checagem do quarto. Já despachou a mala para a rodoviária.

– Ela está entregando o quarto e a mala já foi?!

A mulher olhou-o como quem olha um inseto.

– Foi o que acabei de dizer.

– Ela vai sair por aqui?! Quer dizer, por essa saída, por essa porta?!

– É claro. – A mulher dirigiu outro olhar para o inseto desprezível. – Precisa entregar as chaves.

Pareceu um tempo imenso, mas foram só vinte minutos até Sarah surgir com uma grande bolsa no ombro e as chaves na mão. Entregou-as à mulher da portaria, esperou serem conferidas e fez questão do recibo de quitação. Guardou-o, despediu-se e foi para a saída. Tudo isso como se Enrique não estivesse parado no saguão, inquieto e nervoso, sem ousar se aproximar.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora