38. MINIATURA MAIS PERIGOSA

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O DOUTOR JANSON e Sarah retornaram juntos para o salão do laboratório, sendo prontamente atropelados por Maria Clara e Neco.

– Doutor Janson, se o senhor não fizer alguma coisa, estamos praticamente paralisados! – Maria Clara estava indignada. – Os computadores são poucos, são lentos, mas pelo menos dão o resultado certo, e eram nossos até ontem! Hoje, o pessoal da Energética ocupou todos! E agora, agorinha mesmo, acabaram de nos tomar a metade da equipe da matemática! Enrique está lá metendo a boca neles, mas estão dizendo que os reatores são mais importantes do que qualquer outra coisa!

Realmente, havia um bocado de tumulto num dos cantos do laboratório, e Enrique estava no meio.

– O senhor precisa fazer alguma coisa, doutor Janson! Eles chegaram na semana passada e estão tomando conta de tudo!

– Aí, um milagre ia bem – apoiou Neco. – Como um daqueles supergênios da EMAM. Tem algum aí no seu bolso? Se não tem, é melhor a gente ir pro Berto encher a cara, senão vou encher esses caras da Energética de porradas.

EMAM era a sigla da Escola de Matemática Avançada Mundial, que era, certamente, a Escola mais extraordinária da Terra. Não tinha sede física, não tinha corpo docente, seus alunos estavam espalhados pelo mundo inteiro, cada um estudando como bem entendia. Para se tornar um aluno da EMAM, havia apenas um requisito básico: ser um gênio matemático. Os alunos da EMAM não prestavam exames; seus progressos eram quantificados em torneios matemáticos e apenas os melhores eram considerados aptos. A EMAM tinha alunos, e alunos aptos; ninguém jamais se formava, porque todos concordavam que, em Matemática, seriam eternamente alunos. Um aluno da EMAM era disputado a peso de ouro; um aluno apto da EMAM, ou seja, um aluno aprovado nos torneios de qualificação, era um tesouro sem preço. Havia menos de quinhentos no mundo todo.

Alunos da EMAM não eram, de forma alguma, motivo para gargalhadas, mas foi exatamente isso que o comentário de Neco desencadeou em Sarah e no doutor Janson.

As risadas dos dois atraíram a atenção geral e, assim que retomou o fôlego, o doutor Janson bateu palmas e pediu a atenção de todos, por favor! Sarah, ao lado dele, tentava parar de rir. Mais alguns chamados com a voz possante do homem, e todas as conversas e discussões foram suspensas. O doutor Janson puxou uma cadeira e fez Sarah subir nela. O laboratório inteiro olhou, sem entender.

– Para quem ainda não conhece, deixem-me apresentar Sarah Duran, que frequenta nosso laboratório já há algum tempo. Sarah foi mandada por sua família para cá, para a Escola Superior, a fim de ampliar seus interesses e horizontes, e por isso se matriculou em Sociologia, cujo primeiro semestre acaba de concluir com uma série de notas máximas. Vai continuar na Sociologia no semestre que vem, Sarah?

Sorrindo, ela apenas negou com a cabeça, nada incomodada por ser o alvo de todos aqueles olhares intrigados. Anabel olhou para Enrique, que deu de ombros. Não estava entendendo também.

– Sarah concordou em integrar nossa equipe até, na definição dela, terminar a correria. Na EMAM, essa linda jovenzinha responde pela sigla de SD e, no final do ano passado, foi considerada uma aluna apta.

Diante do silêncio de pasmo ou incredulidade, Sarah tomou a palavra com a máxima naturalidade:

– Como a listagem de alunos da EMAM só é aberta a outros alunos e como foi o doutor Janson quem me identificou, informo à equipe que terão não um, mas dois alunos aptos, porque o doutor Janson também é aluno apto da EMAM. A equipe de Energética requisitou todos os computadores, então acho que ficaremos com a turma da Engenharia de Espaço, não, doutor Janson? Ah, sim. Vocês podem se mexer, podem perguntar e podem não acreditar. Fiquem à vontade!

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now