50. CORRER!

339 36 2
                                    

A PORTA FECHOU, desaparecendo no cristal da parede. Enrique ficou sozinho com as chispas e luzes. Sentou na cama, olhando o chão. Parecia maluquice, mas...

– Sarah disse que você conseguia fazer contato e informar coisas, mas parece que estamos com algum problema de comunicação, Palácio de Durina.

As faisquinhas dançaram de uma forma que parecia resposta. Hm. Como era a coisa dos videntes com pêndulos, que sua mãe tinha falado uma vez?

– Vamos combinar assim: quando a resposta for sim, faíscas girando pra direita. Quando a resposta for não, faíscas girando pra esquerda. Entendido?

As faíscas giraram rapidamente para a direita.

– Espetacular! Eles enxergam essas faíscas?

Não.

– Uau! No começo, achei que estavam ignorando porque estavam acostumados, mas não tinha como alguém não se impressionar com os fogos de artifício que estavam voando pra todo lado! Então sou só eu que vejo?!

Sim.

– São a forma que você tem de se comunicar comigo!

Sim.

Enrique olhou seus pés. A linha de proteção continuava ali.

– Essa linha é uma espécie de barricada pra me proteger de alguma coisa que aquele simpático Imperador queria fazer, correto?

Sim.

– Mas ele não está mais aqui. Por que está mantendo a barricada? Ainda estou com algum problema?

Sim.

– Mas como? Pelo que entendi, ele e a família de Sarah saíram pra ter algum tipo de conversa séria. Ele vai mandar alguém atrás de mim?

Não.

– Ele não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Como vai estar na conversa e aqui ao mesmo tempo?

As faisquinhas dançaram e, no meio de toda aquela movimentação, Enrique viu um lampejo dourado. Levantou imediatamente.

– Ele está vindo atrás de mim?!

Sim.

As chispas douradas se multiplicaram, mas foram desviadas pelas fagulhas azuis.

– Me mostre a saída!

As faisquinhas azuis desenharam um rápido caminho até o que parecia outra parede, mas Enrique não confiava mais nas paredes daquela gente estranha. Foi até a parede, as faisquinhas rodopiaram loucamente e o rapaz olhou para trás, bem a tempo de ver a onda dourada surgindo no lado oposto do quarto. Droga. O simpatia estava de volta!

– Abra! – ordenou para a parede, o que fez uma porta estreita surgir. Enrique passou depressa e mandou fechar, vendo-se num corredor onde chispas, no chão, avisavam que era para correr.

***

ENRIQUE CORREU. Seus pés descalços quase não faziam ruído ao tocar o cristal, as faíscas indicavam o caminho em cada bifurcação, piscando cada vez mais depressa, numa sinalização frenética de urgência. Quanto mais avançava, mais intensas as faíscas ficavam e mais ricos eram os desenhos que traçavam nas paredes, chão e teto. Era maravilhoso, mas não tinha tempo de parar e examinar, porque as faíscas douradas não paravam de persegui-lo. Percebeu que as faíscas azuis não enfrentavam as douradas, e sim as desviavam. Camuflagem, compreendeu Enrique. Durina estava tentando escondê-lo, mas aquelas pragas douradas não paravam de aparecer!

Parou, ofegante, diante de uma parede repleta de arabescos azuis. Mais e mais pontos dourados se aproximavam. Enrique espalmou a mão na parede e mandou abrir, sendo prontamente atendido. Passou e mandou fechar.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora