43. UMA VELHA AMIGA

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AQUI INICIA O LIVRO II - IMPÉRIO ATLANTE

E, só para lembrar os que esqueceram e avisar os desavisados, o Império Atlante é o lugar onde mais se luta na Terra inteira. O que está sempre presente nele? Guerreiros. E órfãos.

Terão chance de verificar que também tenho uma veia sanguinária e impiedosa, que só uso quando estou abaixo do bloqueio oceânico. Hoje não tem sangue. Mas vocês não perdem por esperar.

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O IMPACTO CONTRA a água levou Enrique de volta a suas distantes aulas de mergulho. Posicionou corretamente o corpo, segurou firme o anel da âncora com a mão presa e segurou Sarah mais firme ainda com o outro braço. O pânico do animal camuflado de alga voltou. Mas, mais forte do que ele, voltou a familiaridade que o rapaz sempre tivera com o mar. A água estava fria, escura... mas não ameaçadora. Enrique sentia-se reencontrando uma velha amiga, e perguntava-se por que permitira que o medo o afastasse por tanto tempo do mar.

A escuridão foi logo quebrada pelo brilho verde das pulseiras da Ilha do Céu; apenas essa tênue claridade os acompanhou até a âncora encontrar a areia e tombar lentamente de lado.

Estavam no fundo, estavam bem e, com os olhos acostumando à escuridão, o brilho das pulseiras se tornou luz suficiente.

Antes até de tocarem a água, Sarah havia segurado com firmeza o bocal que garantiria a vida do companheiro. Tomou um bom gole de ar e passou o bocal para Enrique, que o usou com desembaraço. Repetiram o movimento algumas vezes, recuperando-se do fôlego preso durante a descida. A garota logo livrou a mão da incômoda algema e, sempre alternando o bocal com Enrique, tirou o casaco que havia sido tão útil para aquecê-los a bordo. Na água, era apenas um estorvo.

Enrique estava fascinado com o desembaraço de Sarah na água. Não era apenas nadar; era se mover com precisão, usando movimentos mínimos e muito eficientes. Sarah amarrou a manga do agasalho no cabo da âncora e sorriu para Enrique ao ver o modo como ele a olhava. Fez um gesto de está tudo bem e retirou a máscara com nítido alívio.

Ele fez um gesto de compreensão. Pelo jeito, o mergulho livre de Sarah era livre mesmo. Passou o bocal a ela, Sarah inspirou pela boca e logo expirava pelo nariz, enchendo a leve claridade verde que os rodeava de bolhas bastante diferentes das liberadas pelas máscaras. A ocupação seguinte da garota foi amarrar a máscara de mergulho na cordinha do capuz do seu casaco.

Enrique apontou Sarah e, em seguida, para cima. Ela não ia subir?

Sarah negou com um sorriso e um gesto de cabeça. Os cabelos ondularam em torno dela, e só então o rapaz percebeu que, dentro d'água, os cachos se abriam, tornando-se uma cabeleira muito longa e ondulada. Uau. Devia ser um espetáculo incrível durante o dia!

E então uma coisa ainda mais incrível aconteceu.

Sua linda e sempre inesperada namorada começou a brilhar. No começo era tão leve que Enrique duvidou de seus olhos, mas logo ela estava cercada por um halo de claridade azul bem clarinha, quase branca. Os cabelos luziam, dourados; os olhos cintilavam em azul intenso; ela era toda feita de rosados e tons de pele que se tornavam simplesmente mágicos na escuridão das águas noturnas.

Com um volteio leve e elegante, Sarah sentou no fundo, bem pertinho de Enrique. Aceitou mais um gole de ar, sorriu e, com uma piscada marota, mostrou a ele o anel de pedra verde. Girou-o, deixando a pedra na palma da mão... A luz daquela mão se tornou verde.

Olho do FeiticeiroDonde viven las historias. Descúbrelo ahora