97. MORTES

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Hoje está bem longe de ser o sábado combinado para postar o capítulo,

mas ele acaba de ficar pronto...

A vida anda corrida, gente.

Vou tentar não furar no sábado que vem de novo.

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O dia seguinte ao ressurgimento da morte negra só poderia ser definido como um dia de silêncio.

Muitos sem-dono haviam morrido na batalha das cúpulas, lutando furiosamente contra o que acreditavam ser renegados. Fora chocante saber que não eram renegados. Traficantes, mercenários, tubarões, todos ainda eram considerado imperiais. Imperiais criminosos, mas imperiais mesmo assim. E, para um imperial, fazer-se passar por um renegado era algo impensável. Os tubarões já eram considerados a escória dos oceanos. O ataque à cúpula travestidos de renegados rebaixou-os ainda mais.

Talvez justamente este comportamento tivesse provocado o surgimento da morte negra. As lendas sobre a morte negra eram vagas e antigas; todas, no entanto, eram unânimes em um ponto: aquele era um poder justiceiro. Raramente aparecia, mas, quando isto acontecia, era para corrigir situações acima da força dos imperiais e, muitas vezes, acima da força das próprias Linhagens. A morte negra havia, com certeza, executado Reis insanos e liquidado vermelhos fora de controle. Com igual certeza, exterminara batalhões de renegados ou imperiais que se atreviam a atacar as zonas de segurança determinadas para mulheres e crianças, durante a Grande Guerra. E, com níveis menores de certeza, relatos e mais relatos se amontoavam pelo Império inteiro.

As lendas diziam que os guerreiros de Sarad lutavam cercados por sombras negras e geladas, que causavam terror em quem as tocava. A escuridão da morte negra era diferente. Era feita de vazio. Vazio e morte.

Nas quarenta e oito horas que se seguiram ao ataque, poucos dormiram. Todos os estudiosos de Relana e dos sem-dono colocaram-se em campo, tentando coletar dados e informações. As vilas de sem-dono fervilhavam como campos de desova. O Arquipélago estava em alerta máximo. A guarda de Relana se desdobrava para cumprir seus deveres. O Imperador parecia estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

***

JOSEP REIS EMERGIU com seu filho. Homem e criança vinham calados, como se não precisassem de palavras para partilhar a enorme dor que sentiam. Ao chegar em casa, as numerosas amigas de Ariane estavam prontas para partir. Todos conheciam os costumes e, em momentos de crise, os costumes eram respeitados com rigor maior ainda. Elas eram convidadas de Ariane, mas, agora, Ariane estava morta.

Ele olhou-as. Sua expressão era impenetrável.

– Agradeço em nome de Ariane a amizade de todas. Adeus.

Elas saudaram-no e saíram, sem questionar quem cuidaria da casa ou do menino.

Pai e filho passaram a noite a sós, em silêncio. Olhos que enegreciam em flashes de escuridão se alternavam entre um e outro. A compreensão era muito mais ampla do que palavras ou mente permitiriam.

Nas últimas horas da madrugada, os olhos de ambos enegreceram ao mesmo tempo, e assim permaneceram por intermináveis minutos.

O menino continuou sentado em sua cama, quieto, com seu pijama de baleias.

O homem se tornou negro, se vestiu de negro e mergulhou no círculo negro que surgiu ao lado de seus pés. Retornou menos de cinco minutos depois.

Nestes cinco minutos, sua escuridão envolveu uma moradia fortemente guardada no centro da vida dos sem-dono. Quando a escuridão se dissipou, todos os tubarões e seus asseclas estavam mortos. Transporte dentro d'água era impossível, mas, mesmo assim, algo chegara ali, exterminara homens e mulheres e desaparecera sem um som, um movimento a mais da água, um sinal mental, um vestígio.

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now