Olho do Feiticeiro

141 - INVESTIGANDO

O PRIMEIRO CONTATO foi com Durina. Afinal, a herdeira deles estava apagada em Senira.

O único representante de Linhagem presente era Alek, o preposto. A Rainha e o Rei ainda estavam na superfície. Ela ajudava Carl na versão oficial dos acontecimentos; ele, advogado, tratava com os advogados e administradores da família de Anabel. A jovem era herdeira de uma razoável fortuna e os responsáveis questionavam sua ausência e falta de contato. Um tanto de autoridade de Linhagem ajudou a manter a situação sob controle.

Alek agradeceu as informações sobre Rafael. Encontrara o superficiano apenas uma vez, na ida à superfície com as crianças, mas haviam se entendido bem.

– Repassarei ao Rei e à Rainha. Quanto a Sarah, Durina agradece, Denaro. Alguns dias de repouso, ainda que forçado, farão bem a ela.

– Enrique fez contato?

– Não.

– Gostaria de falar com a Linhagem e com Carl, mas não quero atrapalhar. Poderia pedir que fizessem contato quando possível?

– Claro. Mais uma vez, Durina agradece.

Algumas horas mais tarde, Denaro despertou a filha e explicou sua decisão de manter todos adormecidos enquanto Senira recuperava corpos, mentes e corações.

– Em situações muito complicadas, pausas são preciosas. Ajudam a acalmar e pensar com clareza. As pessoas costumam não gostar, mas, no fim, concordam que foi melhor assim. – Deila, muito séria, assentiu. – Aldaret vai continuar dormindo para podermos dar atenção ao que é mais grave. Você é a herdeira e acordou para ajudar. Vovô e eu vamos nos encarregar do Palácio. Você cuidar da recuperação de Rafael, precisa ter certeza que Senira está cuidando muito bem dele. Também vai cuidar de Bel e do bebê. Combinado?

– Pode deixar, papai. Eu tomo conta deles.

– Vovô e eu vamos cuidar de você de longe, só para ver se não se esqueceu de nada.

– Tá. – Ela, miúda como a mãe, ergueu o queixo com orgulho. – Eles são muito importantes e eu ainda sou muito pequena. Tá tudo bem.

– Obrigado, querida.

Quase anoitecia quando a Rainha Darah fez contato com Senira.

(– Houve alguma modificação em relação ao que informou a Alek?) – perguntou ela, após os cumprimentos iniciais.

(– Não, senhora.) – Denaro não conseguia chamá-la de tia, como Lila fazia e como, aliás, recebera permissão de fazer. E, como ex-guarda de Durina, jamais conseguiria chamar aquela que tinha sido sua Rainha pelo primeiro nome. (– Sarah e Lila estão dormindo e se recuperando, Rafael está estável e fora de perigo, e Bel reagiu bem a Senira. O sono está tranquilo e sem incidentes.)

Em qualquer outro Palácio, seria desastroso entrar direto como Bel havia feito, mas Senira era diferente. Tolerava bem intrusos autorizados pela Linhagem.

(– Gostaria de notícias da superfície, senhora. Particularmente, sobre Enrique.)

(– Por que sobre Enrique?)

(– Tenho pensado bastante em socos. Não faz muito tempo, Bel e Rafael estavam entre seus melhores amigos. O silêncio dele me incomoda. Mais do que deveria, admito.)

(– Depois que Sarah retirou dele as habilidades de Durina, Moolna e Senira afastaram a supervisão por dois dias. Ao retornarem, ele continuava fechado no apartamento. Abre a porta somente para receber bebidas e mantém as janelas fechadas desde a visita de Sarah. O apartamento está mais sujo do que antes e, de alguma forma, Enrique parece ter conseguido realmente se embebedar. Destruiu o televisor, o computador e todos os telefones. Provavelmente não sabe o que aconteceu nos últimos dias, incluindo-se nisso a morte do pai de Bel e a suposta morte de Rafa. Sugeriria que deixasse os socos para quando ele estiver sóbrio o suficiente para sentir dor.)