101. DOUTORA DARAH

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MARIA CLARA ABRIU o mapa sobre a maior mesa disponível. Diversas mãos prontamente ajudaram a mantê-lo aberto.

No grande mapa astronômico, estavam marcadas Terra, Lua e um traçado simplificado da rota. A rota atual era praticamente a mesma da nave de dez anos atrás; a grande diferença era a maleabilidade e mobilidade da nave atual. Isto permitia alterações antes impensáveis, como cancelar ou alterar a circum-navegação lunar.

A doutora Darah marcou alguns pontos na rota.

– Aqui os problemas surgiram, aqui foi o ponto de pico e aqui começaram a diminuir, estabilizando durante todo o tempo em que a nave permaneceu próxima à Lua. Os mesmos pontos se repetiram na viagem de volta, mas foram muito mais graves, pois, como eu disse, atingiram sistemas já fragilizados. Surgiram muitas teorias a respeito, mas nenhuma se mostrou satisfatória. Anabel?

Com um sinal a Trovão, um dos especialistas na posição da nave, Anabel marcou o ponto de início dos problemas nas células de energia e sua flutuação ao longo da rota. Suas marcas não coincidiam com as feitas pela doutora Darah. Os problemas tinham começado mais tarde, atingido o pico muito mais rapidamente e então, devido às interferências feitas nas células de energia, estabilizado num ponto que nada tinha a ver com a gravidade lunar.

Houve silêncio em torno da mesa. Os traçados eram semelhantes, mas não iguais.

– Não são iguais porque nós pudemos interferir muito mais do que o pessoal de dez anos atrás. – Trovão examinou o mapa com seus olhos de perito. – Nós mudamos a curva.

– Exato! – Com o rosto cheio de convicção e uma passada de mão nos cabelos ainda bastante despenteados, Anabel se apossou da caneta. – Mas, se a gente usar os pontos em que os picos sem explicação se alteraram lá nos meus gráficos, o que foi muito antes de as células de energia darem problema...! – As novas marcações de Anabel foram rápidas e precisas, sobrepondo-se quase completamente às marcas feitas pela doutora Darah. – Viram?! É o MESMO padrão! O padrão dos meus gráficos é igual ao dos problemas da última missão lunar! A senhora tem razão: é coincidência demais pra ser coincidência! Se funcionar do mesmo jeito, os problemas vão aumentar na viagem de volta, quando a nave se afastar da Lua. Até hoje, ninguém conseguiu explicar o que deu errado naquela missão. Vamos ter que encontrar a explicação e a solução agora!

A doutora Darah traçou três círculos tendo a Terra como centro, e um com a Lua como centro. Indicou o círculo mais próximo à Terra:

– Camada interna do cinturão que protege a Terra da radiação vinda do espaço. – Indicou o segundo. – Camada intermediária, onde fica a base orbital em construção. É o ponto máximo alcançado pelas naves de vocês até agora. – Indicou o terceiro círculo, embora todos já tivessem visto o óbvio: os problemas começavam justamente além do seu perímetro. – Camada externa, a partir da qual a nave está totalmente exposta à radiação, seja ela qual for. O escudo da Lua é mais fraco, mas existe e proporciona proteção parcial. Vocês protegeram a nave contra tudo o que sabemos que existe lá fora. Mas nós não sabemos tudo.

– Por isso a senhora se especializou em Cinética de Partículas!

– Sim, Anabel, mas outros deveres me absorveram a ponto de eu não conseguir prosseguir as pesquisas. Na missão de dez anos atrás, a interferência desta provável radiação teve ação indireta, surgindo nos sistemas de navegação. Se estou certa, a ação agora é direta: energia interferindo em células de armazenamento de energia. As respostas de que precisamos estão nos seus gráficos.

Anabel olhou suas pilhas e pilhas de folhas impressas com linhas repletas de picos. Sorriu, orgulhosa.

– A senhora vai fazer uma grande descoberta!

Olho do FeiticeiroTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang