39. A ILHA ROCHOSA

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SARAH NÃO SE AFASTOU um minuto de Enrique durante toda aquela semana, e nem podia, porque trabalhavam juntos agora. O laboratório progrediu de maneira estupenda. Enrique não podia estar mais orgulhoso de sua miniatura maligna.

Os dois brilhantes alunos aptos da EMAM às vezes tiravam alguns minutos para uns assuntos em particular na salinha fechada. Ali, Sarah mantinha o Lorde atualizado em relação à sua sensação de perigo (indefinida e oscilante, mas aumentando), e o Lorde relatava as precauções de segurança tomadas, tanto oficiais (a equipe do campus) quanto extraoficiais (uma equipe vinda do Império). A Ilha do Céu, onde seria a festa de final de semestre, fora extensamente examinada. Era segura, e o Lorde estaria lá, supervisionando a segurança de Enrique.

O hotel para a semana de férias foi deixado a cargo de Donasô, porque Sarah não tinha mais tempo. Donasô escolheu um belo hotel numa ilhazinha isolada. O Lorde aprovou o lugar. Ali, a segurança precisaria ser mantida por apenas uma noite. A festa seria num dia e, no dia seguinte, Sarah e Enrique sairiam para um cruzeiro-surpresa de quatorze dias. O pequeno iate e sua tripulação já estavam contratados pelo doutor Janson. Oficialmente, ele fizera isso a pedido de Enrique, que desejava surpreender a namorada com algo ainda mais especial do que uma semana de férias.

– Escolheu a ilha, doutor? – perguntou Sarah.

A região era um arquipélago com centenas de ilhas de todos os tamanhos. O Lorde de Moolna desdobrou um mapa e indicou a Sarah uma pequena ilha na periferia. Em mar aberto e cercada por fortes correntezas, a ilha rochosa e inóspita era ignorada naquele arquipélago de belezas incríveis.

– É bem afastada de tudo. Perfeita! – A jovem sorriu para o pontinho minúsculo no mapa. – Diga a meu pai que estou com saudades, doutor. Muitas saudades!

* * *

NAQUELA NOITE, Carl de Moolna se transportou para a ilha escolhida. Seus natils surgiram e ele estendeu seus sentidos mentais, buscando contato com o bloqueio oceânico.

O bloqueio, uma invisível linha de demarcação que separava o belicoso Império Atlante dos povos da superfície, respondeu de imediato ao Lorde de Moolna. Naquela região intensamente povoada, o bloqueio estava ancorado a mais de uma centena de quilômetros da costa.

Com a autoridade de sua Linhagem, o Lorde de Moolna chamou. O bloqueio obedeceu. Avançou velozmente em direção ao arquipélago, ergueu-se acima da superfície do mar e abraçou a ilha, tornando-a parte do Império. O Lorde ancorou o bloqueio, fixando-o ali até segunda ordem. Enquanto o bloqueio permanecesse ali, superficiano algum poderia se aproximar.

No centro de uma área plana e desimpedida, Carl de Moolna colocou o cristal azul de Sarah e ativou-o, abrindo o canal de transporte com o Palácio de Durina.

Em um rápido e intenso flash azul, Durina transportou o primeiro grupo: o Rei Sammal e os cinco guerreiros de sua primeira escolta, responsáveis por sua segurança.

Atlantes eram um povo em guerra permanente. Os seis homens surgiram com armaduras completas, escudos em posição, espadas desembainhadas e defesas mentais erguidas. O gesto do Rei, recolocando sua espada na bainha, foi imitado pelos demais.

O Rei de Durina não era um homem muito alto, mas seu porte impressionava. Retirou o capacete, revelando o rosto firme, olhos muito azuis e cabelos presos em um nó. Todos os seus movimentos indicavam o guerreiro poderoso que ele realmente era.

Rei e Lorde saudaram-se, enquanto Durina transportava o restante do grupo em sucessivos flashes azuis. Entre homens e mulheres, eram cinquenta guerreiros treinados para defender a Linhagem com suas vidas. Havia diversos jovens entre eles, integrantes da guarda da princesa.

O Rei aprovou a ilha que serviria de posto avançado para o destacamento imperial: afastada o suficiente para não se preocuparem com superficianos, próxima o bastante para uma ação rápida, se fosse necessário.

– Compreendo a necessidade de aguardar o final do período letivo para o desaparecimento do jovem não despertar atenção, mas não me sinto confortável com o prazo tão apertado.

– Nenhum de nós se sente, majestade.

– Diga a Sarah que também tenho saudades, Lorde. E, mais uma vez, Durina agradece a Moolna pelo auxílio prestado.

Sarah sorriu ao receber o recado do pai. Era tão bom saber que logo o veria de novo!

Anabel visitou Rafael na quarta-feira; voltou aflita mais uma vez. Avisou novamente à mãe de rapaz que, apesar da aparência, ele não estava bem. A mulher respondeu que sentia o mesmo, mas os médicos e psicólogos estavam fazendo o melhor possível. Rafael voltaria a ser o que era. Bastava dar tempo ao tempo.

– Eu gostaria de acreditar nisso, Sarah, mas meu coração está menor do que uma cabeça de alfinete! A única coisa que me consola é saber que o doutor Janson vai ajudar, a partir da semana que vem. – Anabel trocou abruptamente de assunto, não querendo mais pensar no ex-namorado. – E então? Hotel reservado, malas feitas, tudo pronto? Enrique está muito entusiasmado, e estou até surpresa de não ouvir falar de adiamentos!

– Ele que se atreva!

Enrique não se atreveu.

* * *

NA SEXTA-FEIRA, onze de junho, o trabalho no laboratório se estendeu até bem tarde. Enrique finalizou diversos projetos e simulações, deixou instruções para todas as equipes e, perto da uma da madrugada, saiu e fechou a porta atrás de si. Ele e Sarah voltariam somente depois de dez dias.

– Aí, cara, você tem dificuldades até com a ideia de férias, quanto mais com férias de verdade! – riu-se Neco. – Sarah, não deixa ele voltar antes!

– De jeito nenhum! O que acham da gente ir lá no Berto comemorar as férias de Enrique?

A turma jovem concordou, rindo. Haviam se tornado mais unidos ainda naquela última semana, e comentaram que era até estranho o doutor Janson não estar com eles.

– Ele deve ter mais o que fazer além de acompanhar a gente o tempo todo! – observou Enrique, sentindo falta do psicólogo.

Só Sarah sabia quanta coisa o doutor Janson tinha para fazer, principalmente porque o aviso de perigo havia se intensificado bastante nas últimas vinte e quatro horas. Estava mais próximo, mais intenso.

– Só precisamos nos preocupar por mais trinta e seis horas, Sarah. Depois disso, você e Enrique estarão dentro do Império.

Essa era a parte boa. A parte má é que ainda faltavam trinta e seis horas!

Na ilha, o Rei Sammal soube do aumento da sensação de perigo. Reuniu os guerreiros. Todos eram parte da guarda da Linhagem, conheciam o idioma e os costumes da superfície. Preferiam agir no Império, mas eram treinados para ações fora dele.

– Sarah informou de aumento na sensação de perigo. Temos trinta e seis horas. Quero três da minha guarda e dez da guarda de Sarah. Armas completas. Permaneceremos na água, mas cruzaremos o bloqueio em vinte minutos.

A guarda do Rei decidiu depressa, e os três guerreiros mais experientes em ações na superfície se apresentaram em poucos minutos. A guarda de Sarah discutiu um pouco mais até selecionar dez dos seus integrantes para a tarefa. Armaduras e armas completas, postaram-se diante do Rei. A um comando, os quatorze mergulharam juntos, fizeram a transição ar-água e nadaram até o bloqueio.

Com os natils brilhando, o Rei Sammal abriu uma passagem no bloqueio, o grupo passou e a passagem foi selada. Estavam fora do Império agora e, na escuridão das águas profundas, nadaram rapidamente para o coração do arquipélago.

Se a princesa precisasse de ajuda, estariam próximos.


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Nota da autora: ok, até eu concordo que este capítulo foi bem curtinho! Então, teremos mais DOIS capítulos amanhã, valendo como compensação deste curtinho e como adiantamento do capítulo de sábado, uma vez que estarei em Ribeirão Preto, na Semana do Livro Nacional. Espero que seja satisfatório! :D

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now