138. DE NOVO, SENIRA

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AINDA OLHANDO o iogurte como se ele pudesse fornecer respostas, ideias ou soluções, Sarah disse:

(– E, mencionando Rafa...)

(– Verifiquei três gerações da família dele. Não há mais filhos únicos do que o habitual para a superfície, e a morte cinzenta não está presente. Rafael é filho único devido a dificuldades de sua mãe em conceber. Houve abortos antes e depois de Rafa, até ela desistir.)

(– Sim... Ele falou disso uma vez. Que pergunta, a minha. O pai dele morreu há anos e a mãe, desconsiderando os problemas de saúde, está bem. É que, por um instante...)

(– Sarah.)

(– Foi só impressão, Carl. Ele não pode ser criale, afinal.)

(– Ainda restam os adotados que nunca souberam disso. Já foi verificado, mas vou aprofundar as investigações.)

(– Acha necessário?)

(– Você convive bastante com ele. Respeito suas impressões. Se tiver mais alguma, me avise.)

(– Claro.)

A resposta foi correta, mas havia distância e bloqueio emocional nela. Carl esperou alguns instantes e disse:

(– Você não estava errada sobre Enrique. Eu a parabenizei pelo excelente companheiro que estava agregando à Linhagem, lembra-se? Ele optou por um caminho diferente, e isso não é responsabilidade sua.)

Sarah não respondeu. Carl lembrou as inúmeras discussões de Sarah com seus pais sobre como estava levando o compromisso, em especial a questão dos sequestros sequenciais para que Enrique cumprisse suas tarefas na superfície e no Império. Agora, tudo pesava na consciência da princesa de Durina, que não conseguia parar de questionar suas atitudes passadas.

(– Você era uma garota apaixonada e tinha todos os motivos para só enxergar qualidades no seu amado.) – Carl suspirou, Sarah não entendeu aquele suspiro e prestou mais atenção. Carl não era dado a suspiros. (– Eu sou o Lorde de Moolna e sou considerado o melhor psicólogo dessa porcaria de planeta, e me enganei sobre ele tanto ou mais do que você. Faz com que se sinta melhor, alteza?)

A risada de Sarah foi a melhor resposta possível para Carl.

Depois de ter certeza que Sarah estava bem, Carl disse precisar retornar às suas tarefas.

(– Se tiver mais alguma ideia, avise-me.)

(– Minha ideia é que você deveria dormir, melhor psicólogo da porcaria de planeta. Faz bem, sabia? Até para Linhagens.)

Ele riu e saiu do contato. Seu rosto imediatamente perdeu a expressão leve. Avaliou, e decidiu que valia a pena tentar.

***

COM A PERMISSÃO de Senira, surgiu nos gramados verdes do Palácio. Foi recebido por uma correria de crianças festivas, entre elas Deila e Aldaret, distribuiu abraços e sorrisos, e agradeceu quando Lila dispensou os pequenos para conversarem.

A jovem Rainha olhou atentamente seu visitante.

– Hm. Parece que não é sobre Lucas.

Lucas, o caçula de cinco anos e meio de Carl, tinha se revoltado muito ao saber da morte dos avós. O suave controle emocional de Senira, acalmando a dor dos sentimentos feridos, ajudara o garoto a compreender e, na medida do possível, aceitar a perda. Principalmente, havia impedido que a raiva provocasse um escape precoce da Maldição de Moolna. Lucas, Leonard, seu irmão de sete anos, e a Lady de Moolna haviam passado uma semana em Senira. Ao retornarem a Moolna, a situação estava novamente sob controle. Os meninos estavam tristes pela perda dos avós, não conheciam detalhes do que tinha acontecido, mas sabiam que se relacionava a Relana. Não havia como esconder algo tão óbvio.

Olho do FeiticeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora