100. SALA DE CONTROLE

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No dia.

Certinho.

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VINTE E QUATRO HORAS após o lançamento.

A instabilidade das células de energia seguia crescendo, apesar dos esforços da tripulação e do pessoal de terra. Todos estavam exaustos e demolidos. A única que conseguia manter alguma elegância era, como sempre, Anabel.

A nave estava na metade do caminho para a Lua. Qualquer manobra para fazê-la retornar dependia da integridade das células de energia, que estavam cada vez menos confiáveis.

– O mais sensato, agora, é prosseguir e usar a gravidade lunar para frear a nave e ajustar a rota de volta, como tínhamos planejado inicialmente – rendeu-se Trovão, afundado em cálculos e gráficos. – Tentar o retorno agora, usando os motores, vai sobrecarregar ainda mais as células de energia.

– Eu avisei faz seis horas que, ou eles retornavam daquele ponto, ou logo seria tarde demais – retrucou friamente Bel. – Por que agora isto se tornou uma grande novidade?

– Porque agora é oficial. – Enrique falou com a mesma frieza da garota. – Temos que prosseguir e usar a gravidade lunar para fazer a nave voltar. Portanto, temos que manter estas células de energia funcionando por mais três dias.

Mais um dia para chegar à Lua, algumas horas para contorná-la e outros dois dias para a viagem de volta... Todo o restante da missão seria abandonado. A única coisa que queriam era trazer a tripulação de volta. Viva.

– Quando vai liberar para a Imprensa? – cobrou Anabel. – Nunca houve problemas com as outras naves e todos estão pensando que não tem problemas com esta também. Vai esperar a nave explodir pra então dizer é, a gente sabia há um tempão que as coisas estavam erradas, mas pensamos que podíamos consertar sem alarmar um planeta inteiro, ou a versão vai ser foram inesperadamente atingidos por um meteorito que causou danos irreparáveis e a destruição da nave, que é uma alternativa que não fere seu ego, Enrique?

– Bel tem razão, Enrique. – Maria Clara engoliu em seco e enxugou uma lágrima fujona. Ela e Neco estavam juntos há quatro anos. – Não podemos adiar mais. O protocolo manda avisar primeiro aos familiares dos tripulantes. Então, mande fazerem isto logo.

– Também precisamos começar o revezamento – juntou Anabel, com um olhar solidário para a dor da amiga. – Todos nós exaustos ao mesmo tempo é uma péssima ideia. Você, como sempre, vai dizer que é o super cara que não precisa dormir, Enrique. Maria Clara não vai conseguir dormir, eu fico com ela. Vocês vão descansar.

Vocês eram Rafa e Trovão, que protestaram. Também não tinham as menores condições de deitar a cabeça em um travesseiro e sequer pensar em dormir.

– Se é pra ficarmos acordados, ficamos aqui. – Rafael voltou para sua estação de trabalho com determinação. – Mas tudo bem, quando for a hora de começar o revezamento, nós dois vamos primeiro.

Assim, duas horas mais tarde, a Terra soube que a nova missão lunar estava enfrentando graves problemas.

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TRINTA E SEIS HORAS após o lançamento.

Numa inspiração brilhante confirmada pelos cálculos de Maria Clara, Anabel identificou um padrão de ressonância entre as células de energia. O desligamento de algumas células em posições estratégicas ajudou a estabilizar o sistema. Quando a nave alcançou a Lua, doze horas depois, o sistema de células de energia apresentava apenas os picos nos gráficos, mas não mais a oscilação que ameaçara a nave.

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now