08. COM A SABEDORIA ONIPOTENTE DOS BEBUNS...

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O ALOJAMENTO FEMININO teve um sábado bem menos sossegado.

Rafael acordou nervoso na metade da manhã. Amava Sarah e estava se comportando como um idiota ao ficar parado, esperando ela voltar! Engoliu seu orgulho, foi ao alojamento e pediu para falar com ela. A portaria informou que a aluna Sarah só voltaria à noite.

Um ciúme louco tomou conta de Rafael. Ela estava só podia estar com O OUTRO CARA! Ia quebrá-lo inteirinho! Pediu, insistiu e rondou até conseguir falar com algumas garotas, tentando descobrir se alguém sabia aonde Sarah tinha ido, e com quem.

– Ela disse que ia ao zoo e não falou de companhia – informou uma ruiva que só faltava babar para Rafael.

Ele saiu correndo, mal olhando a garota ao agradecer. Pegou a moto, voou para o zoo e passou horas caminhando lá dentro, perguntando a meio mundo se tinham visto uma garota com a descrição de Sarah. Não, ninguém a tinha visto ali.

A essa hora, os amigos caçavam Rafael por todo o campus. Tinham esperado no Bar do Berto, como sempre, mas Rafael não aparecera. Isso não era nada bom!

– Isso vai acabar em confusão. Ah, vai! Acreditem em mim!

– Ah-ah, grande profecia! Aonde mais podemos procurar?!

– E se ele foi procurar a caloura? Devíamos ter começado por ela!

A portaria do alojamento feminino tornou a informar que a aluna Sarah avisara que só voltaria à noite. Sim, Rafael estivera lá mais cedo, perguntando por ela. Como não a encontrara, falara outras alunas.

– Podemos falar com essas alunas?! É urgente!

Pelas normas do alojamento feminino, rapazes não podiam entrar (ao menos pelas portas, porque as janelas eram bastante frequentadas). As garotas foram chamadas para o saguão e mal acreditaram ao ver um lote dos caras mais bem apanhados do campus esperando por elas. Tudo bem que era por causa de Sarah, mas, mesmo assim, fazia um sábado valer a pena! Repetiram tudo o que haviam dito a Rafael. Os amigos dele agradeceram e saíram bem depressa.

– Mas quanta correria por causa dessa chatinha!

– Eles só queriam saber dela porque acham que Rafael está com ela. Mas por que tanta pressa? Será que aconteceu alguma coisa?

– Acho que eles estão tentando evitar que aconteça alguma coisa, isso sim. Dizem por aí que Rafael fica sem noção quando bebe, e também falaram que os amigos andam cuidando pra ele não encher a cara por causa de Sarah!

– Encher a cara por causa dela. Olha se pode!

– Não acredito que um cara como Rafael possa ficar sem noção por causa de bebida! Isso é despeito de gente que quer achar defeitos naquele deus!

As outras concordaram que devia ser exagero, sem suspeitar de que logo teriam a prova de que não era.

Motos rugindo, os amigos de Rafael foram para o zoológico pelo caminho mais curto, enquanto Rafael, moto rugindo com muito mais fúria, voltava pelo caminho mais complicado, digno de quem bebeu várias cervejas além do que deveria.

Aconteceu que Rafael teve sede enquanto procurava Sarah no zoo. Tomou refri, água, e acabou tomando uma cerveja bem geladinha. E outra depois daquela. E mais seis para fazerem companhia às duas primeiras. Seu cérebro entrou em pane e ele, que não poderia estar pilotando de modo algum, agora voltava furioso para o campus, para acertar as coisas com Sarah. Com a sabedoria onipotente dos bebuns, deduziu que ela estava fechada em seu quarto com o outro, escondida atrás de suas amigas mentirosas!

Rafael passou por cima de gramados, criou atalhos no meio de canteiros e parou a moto em cima do primeiro degrau da escadaria. Subiu de dois em dois degraus, errando diversos. Chegou lá em cima e meteu o pé na porta do saguão, numa cadeira que voou longe e num pesado enfeite de mármore. Isso fez doer seu pé alcoolizado e ele parou de chutar coisas. Atirou um vaso contra a parede e espatifou-o, bradando por Sarah e pelo outro. Gritou com a encarregada da portaria, que saiu do caminho daquela montanha humana raivosa e ligou para a segurança. Gritou com sofás do saguão, quadros, janelas e com a porta trancada que dava acesso aos quartos, arrombando-a com o ombro. Gritou com um monte de garotas que olhavam estarrecidas e exigiu saber qual era o quarto de Sarah, mas elas não eram bobas de ficar perto de um cara que gritava esmurrando a parede. Debandaram correndo, como um bando de aves que ouve um tiro. Rafael ficou sozinho ali, urrando alucinadamente e batendo com violência em todas as portas de quartos que enxergava, enquanto as ocupantes dos quartos pulavam pelas janelas.

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now