Albert pensa em não casar

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História do ponto de vista do Príncipe Theodore:

Estávamos em um amplo campo verde enquanto treinávamos luta de espadas. O sol, junto dos movimentos, fazia-me suar. Era bom ter esse momento longe de todas as pessoas, na presença apenas do meu irmão. Albert estava quieto, o que era ainda melhor, concentrado nos seus golpes. Eu apreciava o silêncio do treino, precisava colocar meus pensamentos em ordem, estava angustiado com muitas coisas, ao mesmo tempo que Bella invadia meus pensamentos causando-me um bem-estar estranho, onde as pontas dos meus dedos sempre gelavam. Junto do barulho da natureza restava apenas o som reproduzido pelas espadas se chocando contra a outra, quase como uma música.

Albert, sem falar nada, baixou sua espada e limpou a testa suada. Sua feição era pensativa, um pouco desgostosa. Isso não era comum, geralmente ele estava de bom humor. Seu silêncio mostrava que algo não ia bem e, conhecendo como eu conhecia, sabia que Amélia devia estar envolvida nisso.

- Você quer conversar? – eu não sabia como questionar o que ele sentia.

Ele negou com a cabeça, baixando seus olhos para não me olhar.

- Albert... – coloquei minha mão em seu ombro de forma amigável – Somos irmãos, você sabe que guardarei seus segredos para mim e lhe darei o melhor que puder.

- Você não entenderia – ele sorriu sem jeito.

- Por que não tenta? – insisti tentando ser ainda mais gentil.

Ele se calou brevemente e caminhou para longe, sentando-se em um banco em frente ao lago. Decidi o seguir, mas preferi me manter em pé.

- Amélia um dia será Rainha – começou, mas parou nisso.

- Sim, ela será... Isso te angústia? – ele sempre soubera disso, era estranho questionar agora a validade dessa afirmação.

- Sinceramente? – me encarou – Sim.

- O que exatamente te perturba? – decidi me sentar ao seu lado para ficar de igual a igual.

- Aqui na Inglaterra, sou um príncipe, filho de um rei e irmão de um futuro rei. As pessoas me respeitam e seguem minhas ordens; estou em uma posição elevada. No entanto, quando me casar e Amélia se tornar rainha, serei obrigado a me mudar para um país que mal conheço, com uma cultura muito rígida, e que não me valorizará da mesma forma que sou valorizado aqui - Ele respirou pesadamente, como se aquilo fosse um grande fardo para ele.

- Creio que esteja se preocupando à toa – balancei a cabeça – Você, ao se casar com ela, também será rei. O povo tende a respeitar mais o homem do que a mulher. Amélia provavelmente se encarregará de cuidar dos herdeiros, o que as rainhas costumam fazer para manter o reino unido e a dinastia segura.

- Amélia já deixou claro que foi criada para estar a frente de tudo, e espera que eu me posicione ao seu lado, mas não que eu tome seu papel – esclareceu – Porém, como a Alemanha precisa mais de nós do que nós deles, deixei claro que não aceitarei estar em posição inferior, que prefiro, se for necessário, cancelar o casamento.

- E como ela reagiu a isso? – pensei automaticamente em Bella e em como eu não queria que ela fosse embora. Isso podia ser um grande problema para meu país, mas também para meu coração. Albert, querendo ou não, havia dado sua palavra.

- Acusou-me de estar a ameaçando e disse que não me reconhecia mais como o homem pelo qual estava se apaixonando. Pensava que eu era diferente – ele abriu as mãos e as olhou por um tempo.

- Mas você é diferente – apontei – Você nunca pareceu se importar com isso antes, o que mudou?

- Não quero ir embora da Inglaterra – chegou, então, na questão central – Gosto da minha vida aqui, cresci com você e gostaria de me manter ao seu lado.

De fato, ter que aceitar que ele iria para longe também era um fardo para mim. Desde o começo, não entendia por que meu pai insistia no casamento de Albert com Amélia, enquanto me deixava livre para escolher quem eu quisesse.

- Eu sei – assenti – Também gostaria que fosse assim.

- Talvez me casar com ela não seja a melhor opção – divagou.

- Mas você não gosta dela? – estranhei, ele estava tão feliz desde a chegada de Amélia.

- Gosto, ela é incrível, mas...

- Não há "mas" – o cortei – Seja forte e corajoso pela mulher que você gosta, Albert – isso servia mais para mim do que para ele, eu estava sendo um fraco – Amélia precisa de você, e, sinceramente, seu papel aqui na Inglaterra se tornará reduzido conforme os anos passarem. Na Alemanha você tem mais chances de governar, e poderá formar uma família que um dia continuará o legado de vocês, e que não serão esquecidos como seriam se você fosse apenas um príncipe.

- Sim – ele concordou sem pensar – Você tem razão, estou agindo de forma tola e infantil. Nunca devia ter aberto meus sentimentos com a Amélia, não quero a magoar...

- Não acho que seja um problema você dizer como se sente, pelo contrário, acho que isso é essencial.

- Vossas Altezas Reais – meu valete, homem responsável por atender todas as minhas exigências e necessidades, chegou até nós e fez uma reverência – Está na hora de voltarem para o castelo e se arrumarem para a aula de dança com as donzelas.

- Obrigado Miguel – sorri para ele e logo me levantei.

Caminhamos para dentro de casa em completo silêncio.

Não havia muito o que pudesse ser dito, tudo parecia esclarecido. Perder Albert doeria mais em mim do que nele, ter que estar neste lugar, sozinho, cercado por súditos famintos por atenção, me sufocaria aos poucos.

Havia uma única esperança para mim: que Bella ficasse.

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