Ele não me olha mais

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Eu observava Theodore parado na sala de reuniões, as mãos sobre a mesa enquanto lia uma pilha de papéis

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Eu observava Theodore parado na sala de reuniões, as mãos sobre a mesa enquanto lia uma pilha de papéis. Sua respiração pesada fazia o tempo parecer ainda mais melancólico. De fato Londres estava triste, podíamos sentir isso na atmosfera, o tempo sempre frio e nublado, contornando a natureza com neblina. Até mesmo os cabelos incrivelmente loiros de Theodore pareciam mais escuros, e embaixo de seus olhos havia olheiras cansadas. Seu corpo forte parecia padecer com o estresse de ser um novo Rei. Eu, mais do que nunca, me sentia sozinha, deixada pelos cantos. Estava sempre rodeada de pessoas, mas a que eu mais queria estava perdida em um mar de dor, sem saber como pedir ajuda, sem me deixar adentrar nos muros altos do seu coração. Theodore queria ser forte, eu sabia disso. E ele era, até demais. Apesar disso, a minha percepção do tempo não mudava: tudo estava fora do lugar. Meu pai havia ido embora, e minha mãe passava a maior parte dos dias com a Rainha. Amélia tinha acabado de se casar e estava em sua tão esperada lua de mel com Albert, um presente que não foi concedido a mim e Theodore, visto que seu pai havia falecido na noite das nossas núpcias. Eu não tinha do que reclamar, de qualquer forma, eu tinha comigo, de alguma maneira, o homem que eu amava. Meus irmãos estavam ajudando Theodore a organizar o Reino, e Theodore os havia concedido cargos na corte, tornando meu irmão o Duque de Suffolk em uma pequena cerimonia discreta dois dias depois do casamento de Albert.

Theodore largou os papéis e caminhou até o grande mapa estendido na parede, pendurado como uma obra de arte, o que de fato era, uma tapeçaria antiga e muito bem cuidada, perfeitamente produzida para o mais chique dos cômodos. Ele observava atentamente os territórios que corriam risco de serem invadidos na guerra que agora travava contra a Áustria. Eles estavam ameaçando-nos cada vez mais, nosso casamento apenas havia piorado o frágil relacionamento que já tinham, permeado por complicações e desentendimentos. Amélia e Albert haviam sido a gota da água para acabar com tudo. As tentativas de invasão aos territórios ingleses se tornavam mais comuns, e isso era cansativo. Theodore, muitas e muitas noites nestes dois mês após nosso casamento, era acordado por seus conselheiros, precisando enviar reforços para suas tropas nas costas. Ele não reclamava, apenas aceitava o que vinha, e lidava com tudo em silêncio. Completo silêncio. Nenhuma palavra quando eu perguntava como as coisas estavam, sempre dizia que conseguia lidar com qualquer coisa. Eu estava me sentindo completamente perdida.

Nestes últimos dois meses eu aprendi mais neste castelo do que em minha vida toda. Theodore era responsável por tudo o que era importante: manter a paz, fazer políticas, defender o território e os reinos aliados, cuidar da justiça e da cobrança de impostos, manter e criar novas alianças, ser chefe da igreja e um papel importante na fé do seu reino, tomar conta do bem-estar e segurança de seus súditos, monitorar o comércio interno e externo, e muitas outras coisas. E eu era responsável por ser uma figura acolhedora, sempre prezando pela etiqueta e sendo cheia de graça, promover eventos reais para receber pessoas importantes para o reino e para a monarquia, estar envolvida em todos os tipos de cerimonias religiosas, como uma santa, mostrando exemplo para todos que me cercavam e também para os que estavam fora dos muros do castelo, desenvolver e cuidar de projetos sociais, cuidar da gestão do castelo de uma forma geral, prezar pela família e cuidar das questões mais urgentes, incluindo alianças de casamento, o que, por sorte, não era necessário neste momento, visto que Albert já tinha seu casamento programado e não havia mais nenhum herdeiro próximo ao trono solteiro. Mas o meu maior papel, o mais importante, era gerar um herdeiro, e Theodore estava empenhado em fazer isso acontecer. Ele estava fascinado nesta questão, quase de uma forma doentia, temendo que sua família ficasse sem um sucessor. Por isso nossas noites de amor eram longos, e ocorriam praticamente todos os dias, em todos os locais possíveis. Ele era impossível de saciar e controlar.

Vossa AltezaWhere stories live. Discover now