Vossa Alteza

Um pequeno raio de sol na Inglaterra

O ambiente era quente e aconchegante. Escutava o suave crepitar do fogo ao fundo, um pouco longe demais de mim, porém, quando abri os olhos, vi a penumbra do quarto iluminada por ele. Theodore segurava minha mão, passando os dedos da outra em minha testa, debruçado na cama. Ele sorriu ao ver que eu havia acordado, e vi alívio em seu olhar.

- Que bom que você acordou! – sorriu – Esse foi, ao mesmo tempo, o dia mais feliz e angustiante da minha vida. Pensei que fosse te perder.

- Onde está nossa filha? – tentei sentar-me, mas a dor me fez voltar para o mesmo lugar.

- No berçário real – para ele aquilo parecia óbvio – Nossas mães e Amélia estão lá.

Franzi o cenho.

- Ela deveria estar comigo – reclamei sem perceber meu erro.

- Eu sabia que você iria querer isso – sorriu, olhando para o lado, próximo ao local onde eu estava na cama – Por isso mandei que colocassem um berço aqui, mesmo não sendo habitual que as Rainhas passem os dias cuidando de seus bebês – havia um pouco de julgamento em sua voz, mas ele cedia porque, provavelmente, sabia que aquilo seria melhor.

Suspirei porque, ao mesmo tempo em que eu queria aproveitar cada segundo da vida da minha filha, ansiosa que algo pudesse acontecer, eu sabia que isso não seria adequado na Inglaterra e na família real.

- Acho que já quebramos regras demais – afundei minha cabeça no travesseiro, pensativa – Uma futura Rainha, sendo que este país, até hoje, só foi governado por homens. Uma Rainha que não renuncia à sua filha e quer ficar com ela o tempo inteiro...

- Quem se importa com as regras? – se fez de desentendido, deixando claro que não era ele quem dava a importância necessária para elas – Quero que você seja feliz; quero que nossa filha seja feliz. Não foi isso o que eu te prometi? Eu nunca quebro minhas promessas, elas são mais importantes para mim do que as regras idiotas que a sociedade tenta nos impor.

- Você é o Rei, precisa seguir as Regras do jogo – o lembrei – O povo pode se irritar com tudo isso.

- O povo nunca esteve mais feliz, Bella – rebateu rapidamente, como o dono da verdade – Meus conselheiros foram às cidades avisar sobre o nascimento da nossa pequena herdeira. Os cidadãos estão fazendo festas, pendurando panos rosas nas janelas de suas casas, e muitos deles estão ali, fora dos nossos portões, gritando o meu nome, gritando o seu nome, esperando ansiosamente o documento oficial com o nome do bebê ser posto à mostra.

Surpreendi-me com isso; esperava por uma revolta, algo com tochas pegando fogo e multidões irritadas.

- Você parece surpresa com isso – ele franziu o cenho sem entender – Acho que perdeu muita coisa desde o momento que adormeceu.

- Me conta o que houve – pedi, pegando gentilmente em sua mão quente.

- Logo após o nascimento da nossa filha, nossos exércitos fizeram uma homenagem com tiros de canhão por todo o país, assim como foi feito quando eu nasci. Fizemos um documento oficial e colocamos do lado de fora dos portões do castelo, para as pessoas verem algumas coisas sobre a criança – sorriu – Pode parecer bobo, mas muitos querem saber com que peso nasceu, em qual horário chegou ao mundo, quem estava presente no quarto com a mãe e, claro, o principal: o sexo. Você ficaria abismada com a comemoração que ocorreu em frente a este castelo, como o povo cantou o hino do nosso país e o hino cantado em meu batismo e em nosso casamento. Eles também trouxeram velas e rezaram muito por sua recuperação e pela saúde do bebê. A Torre de Londres está iluminada com velas e enfeitada com flores vermelhas e brancas. Muitos nobres trouxeram presentes para ela, e vamos dar uma grande festa esta noite para comemorar a chegada do futuro da Inglaterra. O povo também está trazendo presentes para você; estamos recolhendo-os e alocando-os em um quarto seguro, serão inspecionados e depois você poderá pegar o que desejar.