Décadas e ameaças

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Oficialmente, restava apenas um dia para a celebração do meu casamento

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Oficialmente, restava apenas um dia para a celebração do meu casamento. Meus nervos encontravam-se intensamente aflorados, atraindo para si a atenção de todas as pessoas ao redor. Meus passos pelos corredores eram acompanhados por olhares fixos, e meu nome era constantemente pronunciado pelos lábios alheios.

Ao longo da semana, participei de diversos encontros sociais com a Rainha e as damas do castelo, enquanto Theodore se dedicava a atividades como caçadas junto aos homens mais influentes do Reino. Tais eventos eram organizados como forma de celebrar antecipadamente o nosso enlace matrimonial, que se aproximava a cada momento que passava. Manifestações musicais, banquetes, danças, festividades e até mesmo peças teatrais eram dedicadas em honra a nós.

Não obstante, não tive a oportunidade de desfrutar de momentos a sós com meu noivo, e apenas compartilhava minhas ansiedades com minhas amigas íntimas, Amélia e Louise. As Princesas da Espanha já haviam chegado e, embora o prazer de conhecê-las tenha sido imenso, a brevidade de nosso encontro não nos permitiu estabelecer uma conexão mais sólida. Elas preferiam dedicar seu tempo às outras Princesas, provenientes de toda a Europa.

Como esperado, meus pais e irmãos chegariam hoje, pois estavam servindo na guerra da Alemanha contra a Áustria, exceto da minha mãe, que estava no lar dos meus avós maternos desde minha tenra idade, quando meu pai partiu para o campo de batalha.

Eu olhava pela janela do meu quarto, nervosa, apenas aguardando o momento em que me avisariam da chegada deles. Apesar disso, as horas se passavam e nada mudava, nenhum sinal eu tinha de que eles estavam perto. Comecei a divagar, pensando em coisas horríveis que poderiam ter acontecido na estrada.

Eu tinha plena consciência de que o conhecimento acerca do meu enlace matrimonial com Theodore já havia se difundido, o que despertava considerável atenção por parte de nossos inimigos. Agora, minha família assumira uma importância ainda mais relevante: em um futuro próximo, eu ascenderia à posição de Rainha Consorte, estabelecendo laços diretos com a realeza. A captura de qualquer membro da minha família seria extremamente vantajosa em tempos de conflito, permitindo sua troca por um valor substancial ou, até mesmo, utilizando-os como peões para alcançar seus objetivos.

Saí do meu quarto, quase sufocada pelo medo, e vaguei pelos corredores sem uma direção definida. Foi nesse momento, de forma inadvertida, que colidi com alguém. Ergui meus olhos, deparando-me com o semblante de uma pessoa que me era familiar, embora não a visse há décadas.

- Pai - a palavra saiu sem sentimentos, eu estava atônita.

Um sorriso brotou em seu rosto, enquanto envolvia seus braços ao redor dos meus ombros, em um abraço apertado que tirava meu fôlego, tal qual costumava fazer quando eu era apenas uma pequena garotinha.

- Há quanto tempo! - sua voz saiu firme, mas cheia de emoções, mesmo sabendo que ele não era o tipo de homem que demonstrava sentimentos.

Correspondi ao abraço, porém ainda me custava acreditar no que meus olhos testemunhavam.

- Não sei exatamente o que dizer - ele me largou com cautela, olhando em meus olhos - Você está tão crescida! - parecia surpreendido, como se não esperasse por isso - Você se tornou uma mulher maravilhosa, minha filha - sorriu com os olhos brilhando.

- Obrigada, pai - devolvi o sorriso, mas meu coração parecia prestes a parar. Era uma mistura de felicidade com surpresa, algo irreal.

- Filha! - minha mãe surgiu no corredor depois de virar a interseção dos caminhos.

Minha mão gelou, sua face não havia mudado muito desde a última vez que lhe vi. Apenas algumas rugas e um semblante cansado, entristecido pela vida.

A abracei quando ela se aproximou, mas rápido do que ela pode pensar. Eu estava com tantas saudades que era impossível me controlar.

- Senti sua falta - confessei.

- Também senti a sua, meu amor - sua voz saiu chorona.

Meus irmãos se juntaram ao abraço, esmagando-me.

- Christopher - olhei em seus olhos castanhos, idênticos aos meus - Augustus - seu olhar esmeralda lembrava os olhos do meu pai; na verdade, eram tão semelhantes que até mesmo suas personalidades se assemelhavam. Por outro lado, Christopher e eu havíamos herdado traços da nossa mãe: cabelos e olhos castanhos, pele clara, estatura média, corpos esguios, rostos alongados com bochechas salientes e olhares inocentes.

- Você não se parece mais em nada com aquela pequena garota que corria ao redor do castelo da família real - Augustus sorria, seus olhos ficavam menores. Sua voz era tão amorosa que me fazia derreter.

- Na verdade o rosto mudou muito pouco - Christopher, sempre mais protetor, rebateu.

- Quero saber tudo o que aconteceu na sua vida nestes últimos anos - minha mãe me pegou pela mão e começou a caminhar comigo como se soubesse tudo sobre este lugar - Mal posso acreditar que você se casará.

- Você amará Theodore - eu tinha certeza, a natureza benevolente dele quebraria toda a tristeza e incerteza da minha mãe em me deixar na Inglaterra. 

- Tenho um forte sentimento de que ele é um bom homem - concordou.

- Lady Liebenswert - Eleanor me reverenciou ao nos encontrar - A Rainha e o Rei estão a espera do Duque e da Duquesa de Hanôver - informou apressada - Disseram sentir muito por não estarem aqui mais cedo para os recepcionar, e gostariam de fazer isso neste momento. 

Minha mãe olhou para meu pai e concordaram entre si, seguindo, junto de mim e dos meus irmãos, Eleanor até a sala do trono.

- Devo saber algo sobre os pais do seu noivo antes de os encontrar? - meu pai perguntou sério.

- Não. A Rainha é uma pessoa muito gentil - garanti - E o Rei é muito educado e dedicado ao seu dever - eu tinha pouco a dizer sobre ele; na verdade, ele me surpreendia à medida que o tempo passava, pois sempre me proporcionava momentos de tranquilidade em cada encontro. Ele me tratava com amabilidade e respeito, provavelmente porque amava profundamente seu filho. No fundo eu sabia que ele não achava que eu era correta para Theodore, que preferia uma mulher inglesa, mas isso já não era um grande problema para mim.

- Vou ficar nervosa em os ver pela primeira vez, são pessoas muito importantes - minha mãe estava gelada.

- Não pense dessa maneira - segurei sua mão com mais força - Eles são apenas pessoas, nada além disso.

- São um Rei e uma Rainha, do país mais importante do mundo - corrigiu-me.

- Ainda assim, humanos - insisti - Perante Deus, somos todos iguais.

- Eles são representantes de Deus na terra, Bella - minha mãe sempre insistiu nisso, era isso que a igreja nos fazia acreditar - Um dia você entenderá, um dia será você nesta posição.

- Talvez - dei de ombros.

- Você acha que seu noivo estará na sala do trono, ao lado dos pais? - Christopher interrogou-me.

- Acho que sim - assenti - Por que?

- Quero conhecê-lo logo - seu lado protetor começava a aparecer, esperava, realmente, que ele não fizesse nenhuma besteira que pudesse estragar meu relacionamento com Theodore.

- Se comporte! - minha mãe lhe lançou um olhar ameaçador.

- Sim, por favor - pedi em concordância com o que minha mãe mandava.

- Calma, Bella - Christopher riu - Vou apenas colocar ele em seu devido lugar.

As portas da majestosa sala real se abriram, e lá estava o Rei, a Rainha, Theodore e Albert, nos esperando solenemente. 

Vossa AltezaWhere stories live. Discover now