Um lugar terrível

802 85 17
                                    

Caminhávamos pelos corredores atrás das paredes, como sempre úmidos e escuros, com gotas de água caindo pelas paredes e fazendo barulhos assombrosos. Meu coração estava apertado porque sabia que, em algum dos quartos, Theodore podia estar lidando com forças maiores que ele.

Ele estava sozinho, nada entre ele e a espada de outros homens.

- Onde você acha que ele está? – Perguntei para Albert que andava a nossa frente.

- Não faço a mínima ideia – confessou – Talvez tenha ido para a sala do trono.

- Por que ele iria para lá? É um dos primeiros lugares que invasores costumam dominar – Amélia confrontou seu noivo.

- É um dos lugares mais seguros do castelo e meus pais precisam ficar no trono durante uma invasão, é lei. O trono nunca fica sozinho – expôs pacientemente, fazendo meu sangue gelar.

Reis e Rainhas tinham um difícil papel a se cumprir na corte, por mais que estivessem protegidos, seriam os primeiros a morrer se os invasores concentrassem sua energia em um único lugar. Esse sempre era o objetivo: matar o monarca vigente. Um dia esse seria Theodore.

- Se é um dos lugares mais seguros, como vamos entrar? – Louise indagou.

- Esses corredores nos levam para onde quisermos, basta sabermos o caminho – suspirou um pouco incomodado com tantas perguntas – O melhor que vocês podem fazer é ficar em silêncio, para que ninguém nos ouça – ele parou de caminhar, encarando todas nós – Essas paredes são grossas, mas não invencíveis.

Assentimos com um aceno de cabeça.

Era a primeira vez que eu via como Albert era lindo, nada parecido com seu irmão, mas ainda assim, lindo. Apesar dos cabelos loiros, o de Theodore era mais escuro, e os olhos de Theodore eram em uma tonalidade como o mar, os de Albert era como o céu em um dia de sol. O rosto de Theodore era mais forte enquanto o de Albert era mais delicado. Theodore também era maior que o irmão mais novo e mais forte.

- Tirem os saltos – pediu, provavelmente porque o barulho deles ecoava por todos os cantos.

Fizemos o que ele mandou. O chão era terrivelmente molhado e gélido, capaz de nos fazer congelar.

- Vamos – ele voltou a andar e nós o seguimos.

Podíamos escutar, bem baixo, o grito de alguns homens ao longe. Fiquei com vontade de vomitar ao imaginar as espadas cravadas nos corpos, sangue para todo o lado. E os gritos não cessavam. Era como uma história de terror. Quanto mais andávamos, mais os gritos eram altos e presentes, como se estivessem ao nosso lado. De fato a única coisa que separava a gente da batalha eram as paredes.

Paramos de andar quando Albert parou. Ele nos olhou com dúvida, mordendo os lábios inferiores como o irmão mais velho fazia quando estava frente uma situação desafiadora. Entendi o que ele queria nos dizer, se saíssemos de lá, poderíamos morrer. Louise parecia ter compreendido o mesmo, pois segurou minha mão com força, tentando tomar coragem.

- Estamos bem perto da sala do trono – Albert sussurrou – E há muitos gritos, o que quer dizer apenas duas coisas: a sala já foi invadida, ou será em breve.

- Temos que tirar seus pais de lá então – eu disse angustiada – Eles morrerão.

- Não – Albert negou com a cabeça – Temos que tirar o Theodore. Meus pais precisam ficar no trono, caso contrário podemos perder o Reino. Theodore é o herdeiro, ele tem que estar em segurança.

Albert parecia já ter aceitado que o pior iria acontecer. Meu coração não aguentava aquela situação perigosa, eu nunca havia me sentido em tanto risco, e agora percebia que, de maneira alguma, queria perder Theodore. Preferia o ver com Antonietta do que o ver morto. Preferia que ele me odiasse do que perdesse a vida.

Vossa AltezaOnde histórias criam vida. Descubra agora