O tempo está gelado

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O caixão estava no centro da sala do trono, rodeado por nobres que o observavam, choravam e conversavam sobre a tragédia

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O caixão estava no centro da sala do trono, rodeado por nobres que o observavam, choravam e conversavam sobre a tragédia. Muitos se perguntavam o que poderiam ter feito para salvar o rei da morte, mas isso era uma questão em reflexão para todos, sem nenhuma resposta.

Eu e Theodore estávamos sentados no trono, ao nosso lado, a Rainha e o Albert permaneciam em vigília, acomodados em cadeiras de ouro, um degrau abaixo dos nossos postos. A expressão no rosto de todos eles era de dor, e o silêncio era pesado demais para ser aguentado. A Rainha estava sendo forte, não derramando uma lágrima se quer em público, como mandava a tradição: nunca demonstrar demais.

A noite estava terrivelmente escura e chuvosa, e a ocasião era fúnebre demais para trazer qualquer alegria para o castelo. A agonia podia ser sentida nos ossos de cada um dos presentes. O clima estava estranho, nada podia resolver aquilo, era um processo tenebroso de dor.

O Rei George era muito amado, e eu apenas me dava conta disso neste momento. Havia estado no trono desde jovem, mais novo do que Theodore quando assumiu seu posto, e governara a Grã-Bretanha por longos anos, trazendo eras douradas de felicidade para seu povo, apesar da guerra que começaram a apoiar quando criaram laços mais próximos com a Alemanha.

Theodore agora era a esperança que restava, as pessoas o olhavam o dia inteiro, como se vissem nele a salvação. Muitos se aproximavam, querendo conversar, o que era bom porque tirava a atenção dele do velório. Ainda assim eu podia ver como ele estava devastado, seu corpo inteiro entregava seu desconsolo, ele parecia prestes a fugir daquela situação, como se fosse desaparecer. Começava a perceber o motivo dele ter me pedido tanta atenção no começo do dia: ele queria esquecer seus próprios demônios se afundando em minha carne. Seu peito devia estar tão pesado que ele só encontrava tranquilidade no toque de outra pessoa.

Passamos a noite inteira em silêncio, esperando o tempo passar, pois não havia mais nada que pudéssemos fazer. O fim havia chego, e não podia ser negado. Era a parte da existência que mais doía.

- É melhor vocês descansarem um pouco - Albert subiu o altar onde estávamos - Amanhã de manhã teremos uma missa para comemorar a vida do papai, e a tarde ficaremos na igreja rezando junto de seu corpo. É uma longa jornada.

- Descanse você, Albert. Você já fez muito por mim nestes dias - Theodore parecia relutante em deixar o local - Bella - se dirigiu a mim, mas não me olhava - Você também deveria se retirar, está tarde.

- Não vou a lugar algum sem você - eu disse, observando atentamente sua expressão esgotada.

- Amor... - me olhou, insistindo no que desejava.

- Não, Theodore - mantive - Vou ficar.

- Tudo bem - assentiu, derrotado, sem forças para brigar comigo - É melhor a mamãe sair um pouco daqui, acho que é muito para ela lidar - seus olhos fitavam sua mãe, sentada em uma posição de poder, tentando não demonstrar o quão ferida estava.

Vossa AltezaWhere stories live. Discover now