Destruição

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As portas se abriram e pude escutar o silêncio ensurdecedor da falta de vozes; apenas o levantar das cadeiras cortava nossa audição

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As portas se abriram e pude escutar o silêncio ensurdecedor da falta de vozes; apenas o levantar das cadeiras cortava nossa audição. Essa era a realidade deles, estavam acostumados com toda a glória. Theodore não tremia um segundo se quer. Pelo contrário, olhava para trás, dando um sorriso bobo e orgulhoso para seu irmão mais novo. Senti seu braço me apertar um pouco mais, e então começamos a caminhar em direção ao salão de jantar. Minhas pernas tremiam, minha mão gelada como o inverno me castigava. 

Meus olhos encontraram os olhares curiosos das mulheres da corte. Meu coração apertou ainda mais no peito, um mal-estar me dominou ao presenciar o julgamento de muitas delas. No entanto, as mais jovens olhavam com admiração e, provavelmente, inveja.

- Apenas olhe para a frente – Theodore chamou minha atenção em um tom de voz extremamente baixo e profundo.

Lembrei-me então que eles não costumavam olhar seus súditos quando adentravam nos ambientes, mantendo sempre uma expressão neutra, como se as pessoas fossem invisíveis.

- Como você consegue ignorá-los? - questionei em um sussurro.

- Apenas faço o que fui ensinado a fazer, não penso muito sobre isso. Para mim, é fácil seguir as regras.

Assenti, em silêncio.

Chegamos na ponta da mesa e Theodore puxou a cadeira para que eu me sentasse, Albert fazia o mesmo com Amélia, e o Rei com a Rainha, em uma demonstração de educação. Isso fazia com que as pessoas os olhassem ainda mais com desejo, pensando que tipo de homens eles costumavam ser no dia a dia.

Todas as pessoas voltaram a se sentar, e o jantar foi servido. Como de costume, só começamos a comer quando o Rei deu início.

Eu não conseguia saborear a comida; meus olhos percorriam a mesa e encontravam os de Valentina, que me encarava com uma expressão de amor e desaprovação ao mesmo tempo. Era difícil compreender o que se passava em sua mente, considerando que ela era tão amiga de Antonietta e sabia do desejo desta por Theodore.

Theodore, Albert, Amélia e Louise conversavam entre si. Antonietta, o Rei e a Rainha permaneciam em silêncio, assim como eu.

- O que estás pensando, Bella? - Theodore me olhou com carinho, desejando que eu participasse da confraternização que faziam entre eles.

- Em absolutamente nada - sorri, mentindo.

O Rei, neste momento, levantou-se, chamando a atenção de todos na mesa, que logo fizeram o mesmo. 

Em pé, Theodore segurou minha mão, anunciando o que estava por vir.

- Esta é uma grande noite para mim e para minha família, assim como para o Reino - o Rei pegou sua taça e começou a falar graciosamente, mostrando uma falsa alegria que ninguém notaria - É com grande felicidade que anuncio que meu herdeiro - olhou para seu filho com um sorriso no rosto - Príncipe Theodore, se casará com a Lady Bella Liebenswert da Alemanha - minha alma congelou assim como minha respiração quando ele me encarou - É uma honra para mim poder estar presente neste dia tão especial, e fazer parte do relacionamento criado pelos dois sob a vontade de Deus. Sabemos o quanto um matrimonio real é importante para um Reino, pois diz respeito aos futuros governantes da Inglaterra e do Reino Unido, a nação com maior poder mundial. Theodore tem todas as qualidades de um grande líder, e finalmente encontrou alguém que o apoiará e o amará pela eternidade, sendo a próxima Rainha Consorte. Com a benção de Deus será uma jornada de muitas vitórias. Tenho certeza de que Bella trará novos ares para a nossa nação, e uma dose ainda maior de bondade, fé e esperança para nosso povo. Uma grande cerimonia será realizada para comemorar o amor que um sente pelo outro, algo que será, sem sombra alguma de dúvidas, majestoso. Por hora convidamos a todos para celebrar este noivado, lembrando-nos da linhagem deste jovem Príncipe e honrando a bravura da nossa adorável Lady. Saúde!

- Saúde! - responderam as pessoas em uníssono, e em seguida o tilintar das taças preencheu o ambiente.

Voltamos a nos sentar, e a sobremesa foi servida juntamente com mais vinho. Era uma sobremesa especial, uma fatia deliciosa de bolo Red Velvet com nossas iniciais cuidadosamente decoradas. Observei o B entrelaçado no T, e em como aquilo parecia combinar, de alguma forma.

- As pessoas parecem extremamente felizes - observou Theodore, seu rosto iluminado por um sorriso contagiante, enquanto lançava um olhar para seus súditos.

Para mim, parecia ser apenas o início de um grande pesadelo. Eu não conseguia encontrar felicidade no que testemunhava; sentia-me ameaçada pela atenção do Rei, como se ele pudesse, de alguma forma, me separar de Theodore. No entanto, não havia nada em seu comportamento que indicasse tal intenção.

Theodore. 

Apenas ele importava.

Eu devia focar nisso.

- Sim - sorri - Você está feliz? - meus olhos encontraram o azul dos seus.

Que pergunta ingênua... Seus sentimentos eram tão evidentes. Provavelmente todos ali podiam perceber isso, e por isso as pessoas conversavam animadamente, fazendo planos sobre o que vestir na ocasião, discutindo os presentes que dariam, imaginando como seria a decoração... As vozes ecoavam alto, as risadas preenchiam meus sentidos. Era um alvoroço muito maior do que em qualquer outro dia.

- Eu mal posso contar os segundos para finalmente ter você para mim - sua mão passou por baixo da mesa e encontrou meus dedos.

- Você já me possui - assegurei.

- Não da forma como eu gostaria - molhou os lábios.

Franzi o cenho, sem entender.

- O que você quer dizer? - indaguei.

Ele se aproximou do meu ouvido e então sussurrou.

- Eu já lhe beijei, agora quero me deitar contigo.

Meus olhos se abriram surpresos. Um arrepio percorreu meu corpo enquanto uma mistura de frio e calor me dominava. Medo, eu sentia um grande medo disso. No entanto, ao mesmo tempo, eu desejava saber como era ser possuída por completo, queria experimentar essa sensação, desejava que ele pudesse experimentar tal prazer, algo que só acontecia entre um homem e uma mulher casados, algo que era proibido antes desse compromisso formal.

Mas então algo me ocorreu...

- Você já fez isso antes? - engoli em seco, pensando em Victoria.

Seus lábios se abriram, ele ia responder, mas Albert o puxou pelo braço dizendo algo em seu ouvido.

Voltei a encarar o bolo em minha frente, essas letras poderiam muito bem ser outras. Poderia ser Victoria em meu lugar, ou Antonietta.

Quando vi que ele não falava com mais ninguém, toquei em seu braço, fazendo-o me fitar.

- Você não me respondeu.

- Sim - suspirou.

Levantei minhas sobrancelhas, sem entender.

- Eu não serei sua primeira? - senti meus olhos marejarem pela possibilidade dele já ter quebrado essa regra com outra pessoa. Isso só podia significar que ele a amava mais do que eu imaginava, talvez ela estivesse longe da corte, mas não do seu coração.

- Não - balançou a cabeça.

Meu mundo foi destruído. 

Vossa AltezaWhere stories live. Discover now