Eu te amo

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Há um momento que simplesmente não sabemos existir. É uma fronteira entre a vida e a morte, a felicidade e a tristeza. Um vazio, um silêncio, um momento de perdição. Este era o momento, eu não sentia nada. Minha cabeça gritava coisas incompreensíveis, e eu estava exausta. Eu estava abandonando a mim mesma porque a realidade era pesada para ser compreendida. Deixava as vozes me queimarem, mas eu não sentia a dor.

Theodore estava me quebrando de várias maneiras possíveis, e era egoísmo meu pedir para que ele ficasse ao meu lado enquanto Antonietta passava mal. Ele estava deitado ao seu lado, passando os dedos por seu cabelo enquanto olhava fixamente em meus olhos.

- Você está melhor? – ele indagou a Antonietta.

- Um pouco, mas preciso de você ao meu lado – sua voz era baixa e dava para sentir que não era a mesma de sempre.

- Não posso ficar, Antonietta – ele se afastou dela, levantando-se da cama – Preciso voltar para ver o que está acontecendo – ele arrumou suas roupas e sua postura.

- Você vai se colocar em um risco desnecessário – Albert caminhou até o irmão, colocando a mão em seu ombro.

- É o nosso povo – falou rigidamente – Não posso abandonar meu país, de forma especial quando estão tentando defender nosso lar.

Theodore abriu um guarda-roupa e tirou de lá uma espada.

- Você é o herdeiro ao trono – levantei-me do chão onde estava sentada ao lado de Louise – Descer é colocar seu povo em risco. Eles podem lhe capturar, ou lhe matar.

- Eu sei me cuidar, Bella – pareceu irritado com minha intromissão.

- A Bella tem razão, Theodore – Amélia adentrou – Descendo, você pode fazer com que seus guardas percam o foco, tentando protegê-lo em vez de cuidarem de suas próprias vidas. Ninguém quer que o futuro Rei da Inglaterra se machuque, e é dever dos guardas protegê-lo.

- Eu já tomei minha decisão – ele começou a caminhar em direção a porta.

Antes que ele pudesse a abrir, eu me coloquei em sua frente.

- Não faça isso, por favor! – falei baixo para que apenas ele escutasse – Fique conosco, precisamos de você.

- Vocês estão seguras aqui, eu garanto – ele tocou em meu braço – Nada irá lhe acontecer, quero ter certeza de que tudo correrá bem, para que você se sinta segura novamente – me fez compreender que se colocaria em risco por mim.

- Não é isso que eu quero – encarei seus olhos – Eu apenas quero você.

- E eu a você – a forma como ele me tocou fez tudo ao redor desaparecer para mim. Sua mão apertava minha cintura e seu corpo se aproximava do meu, chegando perto demais dos meus lábios – Eu quero você mais do que tudo.

- Então fique – aproximei meu rosto do dele e nossas respirações se misturaram em uma dor insuportável, mas ele era aconchegante para mim, o que doía era pensar que ele poderia se ferir.

- Apenas me espere, Bella, e confie em mim. Eu tenho capacidade para lidar com isso. É meu dever, minha obrigação. Passarei a mensagem errada para meus súditos me escondendo aqui. Eu te disse que estar comigo traria obstáculos, e este é um deles – ele encontrou minha mão e a segurou com força – Você me dá motivos para voltar, para querer viver. Não se preocupe comigo.

- Não quero te perder! - choraminguei.

- E não perderá - ele se aproximou e beijou minha testa - Eu te amo.

- O que? - senti meu corpo inteiro esquentar, mas não sabia como responder, nem mesmo se havia escutado direito.

- Eu amo você - repetiu, com um sorriso doce no rosto.

Meu coração começou a bater mais forte, novamente. Aquilo me assustava, e tudo o que eu queria era correr dali e implorar por seu perdão, dizendo que não poderíamos ficar juntos. Eu sabia que era medo, apenas isso, e que se eu permanecesse ali, isso passaria. Porém, parecia mais forte que eu. Eu estava surda, tudo ao redor havia ficado em completo silêncio. Minha visão ficou embaçada. Eu nem mesmo respirava.

Eu não conhecia o amor, não completamente. Como podia saber se o amava também? Teria que mentir?

- Obrigada, Vossa Alteza - foi tudo o que saiu da minha boca; quando me dei conta, já havia dito.

Ele franziu o cenho enquanto seus olhos dançavam pelos meus, sua surpresa mostrava que ele não estava esperando por isso. Ele claramente não sabia como reagir. Seu silêncio, enquanto me olhava com cuidado, me deixava tensa e arrependida de ter dito tais palavras. Meu coração se apertou de mil maneiras diferentes e eu não conseguia pensar em mais nada, tudo ao meu redor havia sumido.

- É isso? - sua voz saiu um pouco irritada.

- Sim - assenti, completamente arrependida de ter entrado em sua vida.

- Tudo bem - ele forçou um sorriso. 

Ele me guiou para o lado e então abriu a porta, saindo sem olhar para trás.

Olhei para minhas próprias mãos, trêmulas. As lágrimas começaram a invadir meus olhos quando me dei conta de que, mais uma vez, havia cometido um grande erro. Eu o deixei sair para a batalha sem expressar meus verdadeiros sentimentos. Eu realmente não podia mentir, não podia dizer "eu te amo" quando não tinha certeza se o amava de verdade, pois isso ia contra as leis de Deus.

Sentei-me no chão novamente, puxando minhas pernas para o peito e as abraçando. Baixei minha cabeça e deixei as lágrimas escorrerem. O que se passava na cabeça dele? Agora ele me odiava? Desistiria de mim? Ficaria com Antonietta quando voltasse? Ela era uma opção mais adequada para ele, e eu pude ver como ele cuidava bem dela. Isso me devastava porque, por mais que ele negasse, havia algo entre eles, e era nítido pela forma como ele se preocupava com ela.

- Não chore - Amélia se sentou ao meu lado - Ele vai ficar bem! - ela provavelmente não havia o escutado dizer que me amava.

- Calma, Bella - Albert se agachou do outro lado - Eu irei atrás dele - garantiu enquanto Amélia o olhava em discordância - Ele é um bom guerreiro, não se preocupe tanto. Nada acontecerá com ele.

- Você nos deixará sozinhas? - Antonietta se levantou depressa, correndo para Albert em seguida - Não nos deixe aqui! - implorou - Se nos acharem, nos matarão, ou farão coisas piores - previu.

- Este é um dos quartos mais seguros do castelo, não há o que temer - Albert levantou, passando a mão nas costas de Antonietta, tentando a acalmar - Há uma senha específica para entrar, um código que é difícil ser quebrado por quem não o compreende. Essa porta é muito resistente.

- Talvez seja melhor todas nós irmos com você - Louise sugeriu - Talvez as coisas já estejam melhores. Eu quero encontrar meu irmão.

- É uma péssima ideia - ele negou - Quando tudo estiver bem, voltaremos aqui para liberar vocês.

- Então somos prisioneiras? - Amélia soou indignada - Por que nos tratam dessa forma? Como se fossemos inúteis? - sua voz ficou mais alta e fina.

Albert tentou dissipar a discussão, mas ela ficava cada vez mais acalorada. De um lado, Antonietta estava desesperada, temendo por sua vida e segurança, enquanto Valentina a olhava em completo silêncio. Era impossível saber o que se passava em sua cabeça. Amélia e Louise tentavam convencer Albert a deixá-las descer com ele. 

- Chega! - Albert gritou - Vamos fazer uma votação, assim todos têm direito a escolha - ele olhou para sua noiva que havia apontado como as mulheres nunca eram ouvidas - Quem quer descer? - seus olhos pararam em nós, pacientemente.

Amélia, Louise e eu levantamos as mãos.

- Certo - ele concordou com a cabeça - Vocês podem descer comigo. Antonietta e Valentina permaneçam no quarto.

Levantei do chão e me coloquei de pé atrás da Amélia. Albert deu uma espada para Antonietta e para Valentina, apenas para ter certeza de que elas se sentiriam mais seguras, mas nenhuma delas sabia como usar uma arma.

Tudo o que eu queria era ver Theodore, e me desculpar, mesmo que não pudesse dizer que o amava. 

Ainda não.

Vossa AltezaWhere stories live. Discover now