Na presença de príncipes

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O baile que deveria acontecer no sábado, para comemorar a chegada da primavera e da Amélia à corte, havia sido cancelado

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O baile que deveria acontecer no sábado, para comemorar a chegada da primavera e da Amélia à corte, havia sido cancelado. No lugar dele, ocorreu o velório dos vários mortos no ataque ao castelo. Eu participei ao lado de Amélia e Louise, presenciando o trágico evento. Os vestidos pretos estavam por todos os lugares, e o ambiente parecia repleto de sombras e de um ar denso, difícil de respirar. Muitas pessoas choravam, tentando compreender como tudo havia acontecido, como haviam perdido seus entes queridos. Nem mesmo eu consegui segurar as lágrimas, colocando-me no lugar de cada um daqueles que haviam ficado para trás. Theodore poderia ter sido um dos mortos; apenas pensar nisso fazia meu corpo gelar e meu estômago revirar.

Theodore estava ao lado de seu pai, sua mãe e seu irmão, prestando as devidas homenagens. Sua roupa era totalmente preta, e seu semblante era de pura angústia. Ele ainda estava bastante machucado e não conseguia se mover muito, mas os empregados o ajudavam em tudo. Neste momento, pude perceber que ele se segurava em pé, suportando sua dor, porque ele precisava estar lá, precisava mostrar respeito. Ele tinha um compromisso com seu povo, e isso era algo que ele respeitava acima de tudo. Eu admirava isso.

Nathaniel era o único do grupo que faltava. Seu estado de saúde era extremamente delicado, e ele precisava descansar muito para, quem sabe, se recuperar completamente. Ele havia perdido muito sangue, seus ferimentos eram internos. Por fora, podíamos ver sua pele começando a melhorar, mas apenas Deus sabia como ele estava por dentro. Ao olharmos para ele, víamos uma pessoa completamente diferente. O belo sorriso em seu rosto havia desaparecido, seus cabelos perfeitos permaneciam lá, mas seus olhos roxos e a palidez de sua boca não escondiam a batalha que ele travava entre a vida e a morte.

Rezávamos o Pai Nosso e Ave Maria muitas vezes, uma tarde inteira de meditação nas palavras que saiam das nossas bocas durante este momento. Isso aliviava meu espírito, e ver Theodore rezar me fazia bem. Ele estava completamente entregue ao momento, seus olhos nunca encontravam os meus, apenas os mortos. Meu coração se enchia de tranquilidade ao o ver tão próximo de Deus.

Quando o sol já havia sumido do céu, e tudo o que nos iluminava eram as luzes das velas, o Rei falou com seu povo.

- Hoje quero me dirigir a cada uma das famílias que perderam seus entes queridos e seus amigos - ele começou com sua bela postura, no palco em frente a todos - Minha consciência nunca esteve tão pesada como Rei. Sinto a perda de cada um dos meus homens como uma tempestade em meu coração. Há muitas pessoas que culpo por este acontecimento, e farei com que os culpados paguem por seus erros e se arrependam até os últimos segundos de suas miseráveis vidas - a revolta não estava apenas em suas palavras, mas também em sua face. Todos estavam calados, prestando completa atenção ao que ele dizia, mas ninguém o culpava pelo o ocorrido - Quero deixar meu agradecimento a estes homens que lutaram bravamente para proteger o país, para proteger a família real, os meus súditos, o castelo e, principalmente, a vida dos meus filhos. Suas almas nunca serão tiradas das minhas orações, e dizer que sinto muito ainda me parece pequeno demais. Encontrarei uma maneira de recompensar cada perda, mesmo sabendo que nada no mundo tira a dor de perder quem se ama. Deixo com vocês meus sinceros sentimentos. Que Deus abençoe a todos, abençoe nossa nação e nosso reino - dito isso ele deu espaço para a Rainha, que, seguida de suas damas, foi deixando um buquê de flores em cima de cada caixão.

Vossa AltezaWhere stories live. Discover now