Encontrando esperança

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Há uma hora que a dor intensa te faz desligar. Nada mais é importante, e você não é mais você. Não sente nada, não pensa em nada. Tudo é vazio.

Estava parada, sentada no chão, olhando Theodore ser cuidado pelos médicos. Depois, no que poderia ser minutos ou horas, a guerra dentro do castelo havia acabado. Vi levarem seu corpo para a ala hospitalar, junto de Nathaniel.

- Quero acompanhar eles – Louise limpava as lágrimas, sujando seu rosto com sangue – Preciso ficar com eles – implorou para a Rainha.

Vi nos olhos da Rainha uma paciência e calma que era impossível compreender. Ela sabia sofrer em silêncio, mostrando força no pior momento. Ela se importava, claro que sim, mas tinha um papel a cumprir com o povo, não podia se desesperar, isso mostraria instabilidade para os súditos.

- Primeiro tome um banho, querida. Troque essas roupas – a Rainha mandou – Enquanto isso, a equipe médica cuidará deles. Eles ficarão bem. É até melhor que vocês fiquem distantes por um tempo, para não atrapalhar os médicos.

Segurei o meu vestido e pensei, em completo silêncio, que queria, mais do que qualquer coisa, que ele ficasse bem. Que ainda me quisesse, que não estivesse apaixonado por outra pessoa, que pudéssemos ser apenas nós dois novamente, para sempre. Mas ele não sabia como eu me sentia, e eu poderia ter estragado tudo.

Comecei a caminhar para fora da sala do trono, sem saber direito como andar, minhas pernas pareciam fracas. Estava desnorteada. À medida que passava pelos cômodos, testemunhava o tamanho do estrago que a batalha havia causado dentro do castelo. Os corpos mortos ainda estavam lá, assim como o sangue e os objetos quebrados. Tentei desviar minha atenção, mas eu era como uma pequena menina caminhando pelo inferno. Eu estava tentando não pensar que esse poderia ser o futuro de Theodore, mais uma vítima da guerra.

Finalmente cheguei ao meu quarto. Eleanor me esperava, seu rosto estava inchado e seus olhos vermelhos de tanto chorar. Mal conseguia imaginar os horrores pelos quais ela havia passado, ao contrário de nós, que tínhamos ficado em um local seguro. Talvez ela tivesse se escondido na cozinha, em seu próprio quarto ou até mesmo no meu, lugares que poderiam ter sido facilmente atacados.

- Você está bem, senhorita? – ela caminhou até mim, vendo o sangue em meu vestido. Não sabia se era de Theodore ou de Nathaniel.

- Sim, estou – assenti – Você está bem? – olhei com cautela para ela.

- Sim, graças a Deus – forçou um sorriso amigável para mim, mas havia muito sofrimento nele. Ela provavelmente havia perdido amigos, até mesmo familiares – Vou preparar seu banho e suas roupas novas – ela virou as costas para mim, me deixando sozinha.

Deitei-me na cama, afundando meu rosto no travesseiro.

Eu havia afastado ele de mim, negando meu amor. Eu devia ter dito mais do que 'obrigada', quem, em sã consciência, reage dessa forma? Isso não me deixava em paz. E neste momento ele devia estar na mesa dos médicos, sentindo dor, sem consciência, em um sono profundo, com um corte horrível em seu corpo.

Ele sempre cuidava de mim, e eu falhei miseravelmente em cuidar dele. Nunca devia ter o deixado sair, sabia que se tivesse insistido um pouco mais ele teria ficado. Eu devia ter insistido.

Eu estava tão errada. Meu coração era dele, isso só podia significar que eu também o amava.

Novamente, eu chorava, inconsolavelmente. A dor emanava da minha alma, do lugar mais profundo do meu ser.

Eleanor me ajudou a tomar um banho quente e vestir roupas leves e simples. Meu vestido era preto, provavelmente como forma de respeito aos falecidos. Talvez todas as mulheres da nobreza estivessem vestindo a mesma cor.

Vossa AltezaWhere stories live. Discover now