Vossa Alteza

Assuntos de família

Era a primeira vez que eu via minha família em anos, e estava ansiosa para poder conversar com eles, e arrancar do meu peito toda a saudade que guardei por tanto tempo. Mas, neste momento, outra coisa me deixava ansiosa: estávamos todos reunidos em frente ao Rei e à Rainha da Inglaterra. Apesar de já os conhecer bem e de serem sempre amigáveis, meus pais não estavam acostumados com eles. Era algo novo, e eu me perguntava se eles saberiam como reagir de forma correta. No entanto, meus pais já estavam, de certa forma, familiarizados com a realeza. Eles eram amigos de longa data do Rei e da Rainha da Alemanha, tanto que haviam me deixado aos cuidados da família de Amélia enquanto meu pai estava na guerra e minha mãe reclusa na casa dos meus avós.

- Vossa Majestade Real – disseram meus pais e irmãos em uníssono, enquanto os reverenciava. Seguindo o protocolo da realeza, eu também fiz o mesmo – Vossa Alteza Real – se dirigiram a Theodore e, posteriormente, Albert, conforme a linha de sucessão ao trono.

- Sejam bem-vindos à Inglaterra – disse o Rei com um sorriso no rosto. Ele mantinha a postura ereta e certa distância emocional, como sempre fazia nos eventos reais. Ele era, de alguma maneira, frio e indiferente, mas ao mesmo tempo acolhedor, sempre na medida certa. Era confuso entender como ele fazia isso.

- É um prazer finalmente os conhecer – a Rainha adicionou.

- Estávamos ansiosos por isso - Theodore aproximou-se e apertou a mão do meu pai. Ele emanava confiança. Seus olhos encontraram os meus e pude perceber como ele captava meu nervosismo, mas transmitia certa tranquilidade por meio de suas atitudes.

- É uma honra para nós estarmos em vosso país, Majestade – meu pai dirigiu seu olhar ao Rei George. Sua voz era firme e séria, como sempre costumava ser. Meu pai não era dado a expressar seus sentimentos, sempre parecia sereno e imperturbável. Talvez a guerra tivesse feito isso com ele.

- Acredito que vocês terão muito tempo para apreciarem a beleza da nossa bela Inglaterra – a Rainha acrescentou – Há muitas belezas naturais em nosso castelo, é realmente encantador. Espero poder lhe levar para um passeio em meus jardins, Duquesa – voltou-se para minha mãe.

- Seria um grande prazer para mim – minha mãe respondeu.

- Infelizmente não temos planos de ficar por muito tempo – meu pai cortou a conversa – Um dia após o casamento de Bella e Theodore iremos partir.

Lancei um olhar para meu pai, sem compreender o que ele dizia. Aquilo havia me pego desprevenida, sentia a tristeza me tomar novamente em seus braços. Eu não teria praticamente tempo algum com eles, pois no dia seguinte seria meu casamento, e um dia depois disso eles partiriam, me deixando para trás novamente, como bem estavam acostumados a fazer.

Não sentiam minha falta ou não se importavam o suficientemente com meus sentimentos, o que sempre fora uma desconfiança minha. Como podiam ter me abandonado tão cedo na vida, aos cuidados de amigos que viam vez ou outra? Entendia que esperavam que isso fosse o melhor para mim, mas eram ausentes e não se esforçavam para criarem laços comigo. Meu pai pensava apenas na guerra e em proteger seu país, parecia um vício. A situação era tão lamentável que me faltavam palavras, mas meus olhos mostravam minha dor, e isso era terrível porque eu queria esconder do mundo o que eu sentia.

Provavelmente, toda a corte perceberia que minha família não se importava comigo, pois chegaram em cima da hora para a cerimônia e partiriam antes de todos os convidados. Já podia imaginar meu nome correndo pelas fofocas do castelo, novamente superando as expectativas de uma forma negativa. Minha situação era uma tragédia.

- Que notícia triste – o Rei me olhou como para se checar o que eu sentia. Não consegui esconder meus sentimentos nem mesmo dele – Tenho certeza de que Bella gostaria que vocês ficassem por mais tempo. Alguma possibilidade de repensarem no assunto?