Capítulo 04 Armadilha

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Ravel

A floresta do medo era enorme, mas não era tão assustadora quanto a primeira vez que Ravel estivera ali, mesmo sabendo que em seus bosques, campinas e pântanos havia todos os tipos de criaturas, e muitas delas eram antropófagos. Ela sabia que podia lutar por sua vida, pois o ser humano também é uma criatura letal e temível, e ao se preparar para esta missão ela aprendera nos livros o ponto fraco de cada ser vivo. Mas Levi estava ali pela pela primeira vez e assustava-se com muita facilidade.

Após a maioria dos outros se dispersarem, eles seguiram a cerca por algum tempo sem querer entrar na mata mais fechada e não demorou muito para se perderem da trilha que seguiam. Quem sabe longe de todo os rastros da humanidade não achassem mais facilmente.

Quanto mais eles andavam, mais as árvores se fechavam e os sons da cidade próxima se tornavam mais inaudíveis. De acordo com o mapa que Ravel carregava era para eles estarem perto de um rio, provavelmente já ouvindo a corrente de águas turbulentas, mas tudo que viam era árvores gigantes e ancestrais e teias de aranha, cada vez maiores e mais complexas, até que logo o chão estava forrado de seda, tanta que era branco amarelado e não se via um único ponto verde da grama. As teias desciam dos troncos e tocavam o chão, formando paredes de tecido.

- Fique perto de mim e atento onde pisa. - mandou Ravel, à essa altura ela já sabia em que armadilha haviam caído e se amaldiçoava por não ter percebido antes. Como não queria assustar o irmão tentou se manter calma, precisava se lembrar de tudo que lera sobre as aranhas infernais e logo, pois elas apareceriam em breve.

Ela lembrou-se ter lido que aranhas infernais enganam suas presas, fazendo-as andar em círculos até se cansarem e se tornarem mais fáceis de caçar, elas só atacariam quando a noite caísse. Ravel olhou para o céu tentando descobrir quanto tempo tinham para se afastarem dali e assustou-se ao ver íris, o sol daquele mundo, tão perto do horizonte que praticamente o tocava.

Ela também lembrava-se que uma vez dentro da teia eles seriam levados ao centro de tudo, não importando para qual lado fossem. Logo chegaram a uma enorme clareira rodeada de casulos de seda, alguns rasgados e abertos, mostrando corpos presos. Um veado, um velho e a mais recente, uma mulher jovem que já fora bonita, agora todos estavam secos, flácidos e pálidos.

- Procure nesses casulos algo para usarmos como arma. - mandou Ravel já se dirigindo a um deles.

Todos tinham cadáveres, cada um em um estágio diferente de decomposição.

Nenhum deles tinha algo útil, mas Levi encontrou um casulo que era uma esfera perfeita e tinha a altura de sua cintura. Ele se aproximou e quando o tocou ele se mexeu. Levi afastou-se num pulo com o susto, tinha algo vivo preso ali dentro, a única questão é se era amigo ou inimigo.

Levi mesmo com receio rasgou a bola de seda e de dentro se enrrolou a criatura mais bonita que Levi considerava já ter visto, um dragão de água ainda filhote, com no máximo três anos, o corpo comprido e robusto, sem asas e coberto por escamas azuis. Ele abriu os olhos verdes como um lago cristalino e ronronou como um gato ferido.

Levi sentiu a dor dele e se comoveu. O tomou nos braços e abraçou o animal de corpo gelado, então viu dois furos no pescoço do dragão a marca inflamada deixada por ferrões afiados e peçonhentos.

O dragão estava envenenado e ferido, ele afastou-se com medo do toque do Levi lhe machucar. Levi estava com tanta pena, um dragão é uma criatura feroz, nunca deveria recuar por medo de um humano.

Com o primeiro toque ele de alguma forma vivenciou toda a vida do pequeno dragão. A morte precoce da mãe por caçadores e a busca pelo rio que nascera, o mesmo que ele e a Ravel estava procurando e isso fez ele pensar em todos os seres vivos que perderam suas vidas tentando chegar aquelas águas. Vira também o momento que fora capturado por uma aranha maior do que ele.

Erin, A Chave Dos MundosWhere stories live. Discover now