Capítulo 36 Coração Puro

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Erin caminhou pela imensidão do mundo que se estendia em todas as direções, andou só alguns metros ou talvez milhares de quilômetros, era estranho como não sabia diferenciar a passagem do espaço e do tempo.

Por mais que ela olhasse não via a linha do horizonte, a superfície molhada se misturava com o céu negro sem haver o fim de um e início de outro. Sem perspectiva de objetos ou um horizonte por mais que andasse parecia não sair do lugar.

Ela olhava para o chão e parecia que estava realmente caminhando sobre um lago, a água calma só era agitada por seus passos, ondulações se formavam ao redor de seus pés e se espalhavam à sua volta se estendendo e perdendo força.

Um gota caiu do céu negro e atingiu o ombro de Erin, ela olhou para cima e outra lhe atingiu a bochecha, não era como gotas de chuva, parecia mais com o teto de uma caverna gotejando ou uma árvore retendo a água e o excesso das folhas caindo com o peso. Era muito estranho por que mesmo as gotas escorrendo por seu corpo não a molhava, suas roupas continuavam secas e elas não tinha impacto no piso de água como se nunca atingissem o chão ou com tanta leveza que não causava nenhuma perturbação.

Então Erin viu um ponto no meio do nada, inicialmente uma elevação do solo, mas à cada passo podia ver melhor, uma pedra, depois viu que se moveu, talvez um animal e Erin teve esperança que vira a ave que procurava, mas assumiu forma humana, alguém agachado chorando, estava longe demais para o identificar.

Quando se levantou Erin viu que era Levi, de alguma forma ele estava ali e pensar que poderia trazer ele com ela ao mundo dos vivos revigora suas esperanças.

- Levi!

Ele se levantou e o rosto estava molhado por lágrimas, Erin não pode deixar de notar que ele não possuía reflexo na água. Sua expressão se fechou.

- Sou eu, Erin...

- Eu sei quem é! Você me prendeu aqui! - acusou, havia raiva em suas palavras, raiva não, era mais forte que isso, mais profundo.

- Não... Eu não fiz isso. - disse balançando a cabeça, negando essa tão dolorosa acusação.

- Você e minha irmã não deixaram eu ir e agora estou preso aqui! Eu te odeio! Odeio minha irmã!

- Não diga isso, eu só tentei ajudar... Vem comigo, vamos sair daqui agora...

Levi correu e Erin o seguiu tentando alcançar o garoto, mas ele estava se desfazendo no ar, como se fosse um monte de areia sendo carregado aos poucos pelo vento. Erin estendeu a mão para alcançá-lo, contudo ele se desfez por completo e voltou a ter apenas o vazio à frente da garota.

Erin parou, ela não estava cansada e nem ofegante, isso parecia não existir, ela percebeu também que não respirava e não sentia a necessidade de fazê-lo, talvez também estivesse morta.

A desesperança abateu-se sobre ela e por um tempo novamente incontável Erin se esqueceu do porquê estava ali, parecia que não havia importância, que só existia aquela imensidão, sem princípio ou fim, um mundo sem desejos, sonhos, amores ou arrependimentos, um paraíso por não haver a morte, mas um inferno pela ausência de vida.

Erin fechou os olhos, não havia tanta diferença entre o mundo à sua frente e o mundo em sua mente, apenas um vazio sem fim que a fazia esquecer todos os pormenores de sua vida agora tão conturbada.

Quando abriu os olhos Erin parecia estar em outro lugar, um espaço que conhecia muito bem e que mudou sua vida. À sua volta via prateleiras com antiguidades e sob seus pés descalços um piso de madeira, envernizada há muito tempo, lisa, mas opaca por uma fina camada de poeira, tudo estava coberto por lençóis como se estivesse abandonado.

Erin, A Chave Dos MundosOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz