Capítulo 07 União de Sangue e Fogo

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Ravel

Ravel acordou assustada e angustiada, ela dormia em uma caverna até então, mas ali não era o lugar que deveria estar, ela sentia uma necessidade incontrolável de ir até uma clareira específica na floresta do medo, era a pior sensação que já sentira, como se alguém enfiasse a mão em seu peito e tirasse seu coração puxando-o muito lentamente.

Ravel sentia uma forte e irracional dor no ombro como se estivesse ferido, mas não estava.

Ela andou até a saída da caverna, ergueu a cabeça e saltou desfiladeiro abaixo, a queda era alta, no entanto antes de se chocar contra o chão abriu as enormes e fortes asas e alçou vôo.

Indo à máxima velocidade que podia chegou à clareira em pouco mais de duas horas. Já era noite e mesmo assim estava claro, devido às duas luas que brilhavam no céu, as duas na fase cheia, um evento que acontece com raridade.

A clareira estava tão coberta de teia, que se tornara um ponto branco em meio à floresta negra. Ela baixou à altitude, sobrevoando a área com um rasante e ateou fogo em tudo que via, sem distinguir se era vivo ou morto.

A seda produzida pelas aranhas parecia um combustível, queimando rapidamente e espalhando o fogo em todas as direções, logo as aranhas começaram a fugir em chamas, chiando com a dor de ter seus corpos consumido pelo fogo.

Ravel perdeu a consciência por um instante e nisso a conexão com Mehnir foi cortada. Ela o chamou pelo nome que nunca conhecera, um grito desesperado que soou como um sussurro abafado, mas que ele ouviu com a alma e respondeu com um rugido que mais parecia um trovão.

Mehnir pousou, seu pesado corpo castigando o solo e seus poderosos músculos amortecendo o impacto. Ele olhou à sua volta e andou até um monte de casulos, escolheu um sabendo ser o certo, o rasgou com as garras afiadas da pata frontal e Ravel caiu de dentro dele, ficando aos pés do dragão.

Ela tinha o corpo imóvel, o veneno corria em suas veias em maior quantidade que antes, era um veneno poderoso, mas demoraria à matá-la, as aranhas a queria viva para secar seu sangue antes de sua morte, uma inclusive alimentava-se dela quando o dragão chegou.

- Suba às minhas costas! - disse o dragão, de sua boca não saira nenhuma palavra, seu corpo não se desenvolvera para falar e não era capaz disso, entretanto mesmo assim ela o ouvia, como se a mente deles estivessem ligada por um elo inquebrável.

- Eu não consigo. - tentou dizer ela, mas não conseguiu pronunciar nenhuma palavra, no entanto não era necessário, ele a ouviu alto e claro como se ele mesmo tivesse dito.

O dragão a pegou pela boca com delicadeza, como um animal que pega seu filhote, e a colocou nas costas.

- Meu irmão. - disse ela, Mehnir sentiu a angústia dela, porém ignorou isso, não conhecia esse sentimento e não deu importância.

O dragão abriu suas enormes asas em toda sua envergadura e alçou vôo para longe dali com seu objetivo concluído, sua outra metade estava segura e agora ambos sabiam dessa ligação que agora desperta, não terminaria jamais.

***

Ravel acordou e sentou-se assustada, o movimento rápido lhe lançou uma faísca de dor que se originou na ferida do pescoço e espalhou-se por todo seu corpo e então sumiu quase que completamente.

Ela estava em uma caverna, seus cabelos estavam sujos de lama e sangue, assim como suas roupas, e sentia-se exausta, mas agora estava bem.

Ela engatinhou até a saída da caverna, onde o solo acabava, era a beirada de um precipício. Ela estava em uma caverna natural há centenas de metros acima do nível do mar.

Como fora parar ali, ela não se lembrava, sabia que tinha sido pega em uma armadilha junto do irmão e depois tudo se apagou, não tinha mais nada em suas memórias, exceto por um sonho que parecia nunca ter tido.

Era dia e a estrela iris estava brilhando no céu claro, marcando o primeiro dia do verão.

No céu voava o maior dragão que ela já vira, maior até do que o seu pai tinha. Ele carregava um animal grande na boca. Quando ele voou na direção dela e se aproximou rapidamente, ela recuou para dentro da caverna, mas a abertura dela era grande o suficiente para ele passar, inclusive ali tinha muitos esqueletos de animais, ela deu-se conta que estava em sua toca, talvez seria sua próxima refeição.

O dragão entrou na caverna tendo de abaixar a cabeça para caber, ele andou até ela que estava encurralada entre ele e a parede de pedra às suas costas. Ele parou diante dela e jogou o animal à seus pés, um novilho grande e gordo pingando sangue.

- Coma. - mandou ele, sua voz era um estrondo de força e poder, assemelhava-se com um trovão. Ravel ficou petrificada no lugar. - Coma. - repetiu ele. - Já basta ter uma humana, não preciso de você fraca.

Ela estava extasiada por poder ouvir ele, poder entender claramente o que ele dizia, quando pequena tinham lhe contado histórias sobre pessoas e dragões que estavam tão ligados um com o outro que tinham uma única mente e espírito, mas isso não acontecia há tanto tempo que se tornara apenas lendas e histórias para contar às crianças na hora delas dormirem.

Ravel tinha medo de perceber que estava apenas sonhando. Ambos de alguma forma inexplicável se sentiam finalmente completos, como se suas vidas começaram no momento em que se encontraram.

Ravel não queria comer aquela carne, mas estava com tanta fome, então pegou a faca em sua bolsa que por um milagre não havia sido extraviada e cortou um pedaço generoso do peito do animal, inicialmente foi difícil, no entanto ela era uma Draien e logo pegou o jeito de não sofrer para fazer isso, e o assou numa fogueira improvisada, ter um dragão de fogo era melhor que qualquer fósforo ou combustível.

Mesmo estando crua em algumas partes e queimada em outras, quando provou a carne estava melhor do que esperava, então parou de reclamar.

O dragão incendiou o que restou e comeu vorazmente a carne parcialmente queimada. Quando terminou, deitou-se em um canto próximo demais dela. Ravel hesitou por um instante, mas logo tomou coragem e se aproximou do dragão, quando ela o tocou no pescoço ele abriu os olhos, porém permaneceu relaxado.

Mehnir tinha muitas cicatrizes, principalmente marcas de brigas com outros dragões, dentre elas se destacava uma em seu pescoço, um corte que parecia ter sido feito com uma lâmina muitíssimo afiada.

- Como você me salvou do veneno. - perguntou Ravel. - Sem tratamento eu certamente morreria.

- Você não tinha sangue o suficiente para viver, e eu lhe dei o meu.

Ravel sabia que um dia teria que fazer uma troca de sangue com um dragão para se ligarem num só, mas esperava fazer isso com um filhote, que não tinha conhecimento das consequências disso e pudesse ser domesticado, não com um adulto que já sabia viver sozinho no mundo, nesse momento dragão algum podia ser domado e todos que tentaram morreram queimados por dentro ao ingerir o sangue do dragão. Ela nunca imaginara que isso era possível.

- Você sabe o que isso significa? - perguntou ela e logo veio a resposta

- Que você é minha e eu sou seu, quando você morrer eu morrerei e quando eu morrer você morrerá.

- Então por que você fez isso? Você abriu mão da sua liberdade.

- Por que eu não podia deixar você morrer... - antes dele terminar de dizer, ela o abraçou afundando o rosto em seu pescoço.

****

Oi! Que fofo o dragão dela, né? Duvido alguém ter um dragão tão forte quanto ele e tão leal.
Aguardo a participação de vocês, comentem e votem, hein!

Erin, A Chave Dos MundosWhere stories live. Discover now